29/04/14

A dissensão de Abril



De perto ou de longe, a memória do processo revolucionário que percorreu a formação social portuguesa há 40 anos continua a revelar-se um elemento problemático para o regime a que deu forma. Há dez anos, o governo resultante de uma coligação à direita teve a esperteza saloia de promover comemorações oficiais sob o mote «Abril é evolução», deixando cair uma letra para revisitar o passado à medida das suas conveniências. O assunto motivou não pouca polémica, parcialmente desvalorizada pelo comissário científico da iniciativa, António Costa Pinto, segundo o qual tudo se trataria do desconforto político de “uma parte da esquerda”, a quem seria “desagradável” ver o “centro-direita de cravos a comemorar o 25 de Abril”[1]. Importa dizer que semelhante desqualificação dos seus críticos representava já um recuo face ao momento em que as comemorações foram anunciadas, um mês antes, quando o mesmo Costa Pinto as apresentou em termos mais sugestivos: “Celebrar os 30 anos do 25 de Abril é celebrar o seu legado que é a democracia e o desenvolvimento. O 25 de Abril é património comum a todos na sociedade, independentemente das ideologias políticas. As comemorações não devem substituir a diversidade ideológica da sociedade portuguesa, mas comemorar a democracia e o desenvolvimento” (Público, 26/03/2004).

1 comentários:

Libertário disse...

Não compreendo o problema de Ricardo Noronha de facto o que aconteceu no 25 de Abril, o golpe militar, dá para todas as interpretações e se nos resumirmos a esse acontecimento a direita e o PS têm toda a razão...Foi uma mera evolução.

Acontece que o golpe tirou a tampa da panela de pressão e outras coisas começaram a acontecer nas ruas e, de repente, as classes populares começaram a exigir o impossível. Isso foi uma revolução, mesmo que incompleta.

O 25 de Novembro foi a contra-revolução preventiva que teve por objectivo permitir a reorganização do capitalismo, e do Estado, que estavam a começar a ser ameaçados pela plebe.

Hoje, quando todos se reunem no Carmo e na Avenida da Liberdade cada um está a pensar num diferente 25 de Abril. Tirando os arrependidos e senis que se esqueceram já o que estava em confronto nesses anos e que, afinal, ainda continua...