21/04/14

Sobre "A História do Povo na Revolução Portuguesa"

Não (ou, pelo menos, ainda não) li o livro da Raquel Varela; no entanto, pelo que li acerca do livro e da crítica que António Araújo lhe fez, dá-me a ideia que grande parte da crítica de António Araújo se baseia numa objeção largamente semantica - bastava o livro se chamar, p.ex., "História das Lutas Sociais na Revolução Portuguesa", para reduzir em muito a relevância da crítica.

De qualquer forma, o uso da expressão "História do Povo..." para dizer "História das Lutas Sociais..." não é uma excentricidade da Raquel Varela - afinal, a People's History of the United States fala dos sindicatos, do movimento pelos direitos cívis, etc., mas suponho que não tem nenhum capítulo dedicado às "little old ladies in tennis shoes".

2 comentários:

Libertario disse...

Ao contrário do Miguel Madeira já li o "Povo na Revolução Portuguesa", embora tenha que o reler com mais tempo, e penso que para lá de algumas das críticas do António Araújo, que não deixam de ser pertinentes em diversos aspectos, há um outro ângulo da crítica que me interessa mais, o ponto de vista libertário e da luta autónoma dos trabalhadores. O que chama a atenção é que Raquel Varela ignora alguns dos textos e fontes mais interessantes desse período, por exemplo o jornal Combate, textos de Jorge Valadas, "Portugal Revolução Impossível" de Phil Mailer, enfim dos sectores libertários e autonomistas. Sendo Raquel Varela, uma declarada partidária do vanguardismo leninista foi incapaz de perceber, e de fazer uma leitura crítica, do papel destrutivo das disputas entre partidos e grupúsculos vanguardistas que contribuíram decisivamente para enfraquecer, e destruir, os organismos autónomos dos trabalhadores, comissões de trabalhadores, de moradores, colectivos de empresas ocupadas etc. Também a natureza "golpista" dos projectos revolucionários da esquerda (PCP, PRP, UDP) que passava por aliciar oficiais, e disputar o poder militar, levou ao fim que sabemos. Por tudo isso, a derrota no 25 de Novembro de 1975 da luta social anti-capitalista é absolutamente incompreensível face à análise do livro de Raquel Varela.
Apesar de tudo alguma coisa de positivo fica do livro "Povo na Revolução Portuguesa": algumas imagens das lutas sociais que pressionaram, e condicionaram, os militares do MFA e a nova elite política que começava a tentar se afirmar, levando-os por caminhos que jamais tinham sonhado de um (quase) revolução social.

João Vasco disse...

Também não li o livro em causa, mas esta "crítica à crítica" pareceu-me certeira:

http://obeissancemorte.wordpress.com/2014/04/17/porque-e-que-as-elites-temem-o-povo/

Isto sem querer defender um livro que nem li, nem tenho grande vontade de ler.