31/07/14

Notas sobre uma nota sobre o conflito israelo-palestiniano

N'O Insurgente, Mário Amorim Lopes escreve que após a I Guerra Mundial "[n]em Arábia Saudita, Síria, Jordânia, Israel, Palestina ou Líbano existiam. O território era e continuou a ser, pelo menos até 1946, protectorado inglês e francês. Da mesma forma, também a dissolução do Império Austro-Húngaro levou a que outros países anexassem territórios que não lhes pertenciam, como a Sérvia, expansão que posteriormente conduziu à Jugoslávia. (...)  O objectivo desta contextualização não se prende com defender a expansão dos colonatos em Israel pós-1967. É apenas derrubar a tese de que o Estado de Israel não tem direito a existir por apropriação indevida de território, que aliás pertencia ao Reino Unido."

Para falar a verdade, quando comecei a ler o post, estava na dúvida se se iria seguir um texto a defender o direito à existência de Israel, ou um texto a refutar os argumentos "não há palestinianos - nunca existiu um estado palestiniano" (até porque, há dias, numa conversa no Facebook sobre o tema, perante alguém que dizia que nunca tinha existido um Estado palestiniano, eu estive exatamente para responder com uma lista de estados que nunca tinha existido antes de existirem, incluindo a Jordânia, o Iraque e o Líbano).

Antes de continuar, a minha opinião sobre Israel - acho que nunca deveria ter sido criado (tal como a maior parte das guerras e conquistas que deram origem a todo o mapa-mundo não deveriam ter existido), mas a partir do momento em que foi criado e é habitado por pessoas que não têm nada a ver com com o que se passou ou deixou de passar em 1947-49, tem tanto direito a existir como todos os países do mundo (acho que ninguém defende que a moderna Inglaterra deva ser entregue aos "bretões" da Cornualha e que os ingleses anglo-saxónicos devam ser recambiados para a Dinamarca ou para a Holanda).

Mas quanto ao argumento de que Israel não se apropriou indevidamente do território, porque todos os países da zona foram criados assim, creio que não faz grande sentido, por uma razão - o argumento dos críticos da fundação de Israel não costuma ser "Israel foi criado em território de outro Estado", mas sim "Israel foi criado num território habitado por outro povo, contra a vontade aparente desse povo", situação que, no caso do Médio Oriente, não se aplica à maior parte dos outros países (aplica-se também em parte do Iraque, no Curdistão).

Pode-se argumentar que em nenhum país da zona houve qualquer espécie de referendo para saber o que as pessoas queriam, mas apesar de tudo pode-se observar como os habitantes locais reagiram às fronteiras e estados que foram sendo criados - na Síria, Jordânia, Líbano, etc. as "elites" locais empenharam-se na vida politica dos novos estados e a maioria da população pelo menos não mostrou sinal de oposição às novas fronteiras; já os árabes da Palestina e os curdos do Iraque desde os anos 20 do século 20 que vivem quase em rebelião permanente - na ausência de algo que se parecesse com um processo formal de autodeterminação, o mais parecido que há para saber se uma fronteira e um estado foram criados de acordo ou contra a vontade da população é isto: a forma como a população reage.

2 comentários:

Paulo Marques disse...

É patético o quão nítido esta gentalha que enche os média não se informa minimamente sobre o que fala. Já ninguém espera que leiam um livro, mas pelo menos a wikipedia já não era mau.

Ao contrapôr o direito de existência de Israel ao da Palestina não faz a mínima ideia de que os primeiros usaram e abusaram da imigração ilegal e de ataques terroristas para atingir os seus fins. Verdade seja dita, também só o descobri recentemente, mas ao menos não vou dizer patacoadas e continuar o branqueamento das acções do ocidente.

Anónimo disse...

imigração ilegal