Morreu mais um membro da extensa galeria de notáveis combatentes pela liberdade patrocinados pelos serviços secretos de Franco, um desses heróicos filhos da pátria responsáveis por ataques bombistas, pilhagens e linchamento de comunistas. Escusado será interrogarmo-nos onde estava ele no dia 25 de Abril, uma vez que estava abertamente do lado dos poucos e derradeiros fascistas empenhados na defesa do seu regime. Alpoim Calvão ficou também conhecido por ter concebido uma operação militar contra a Guiné Conakri, unanimemente condenada pela ONU e que contribuiu para o derradeiro isolamento político do Estado Novo no início da década de 1970. Mário Tomé escreveu aqui quanto baste sobre o sinistro operacional de Spínola. Mas não há como ir à entrevista que em tempos lhe fez Maria João Avillez para dar conta da sobriedade com que um canalha fala de si próprio.
- Disse à pouco que o MDLP se desmembrou a partir de Novembro. Mas, até lá, que participação vossa houve no 25 de Novembro?
– Aliámos o povo do Norte, já que a rapaziada do Alentejo andava na euforia da Reforma Agrária.
- Quem é o povo do Norte?
– É toda a gente, desde a Igreja a milhares de pessoas…
- O Cónego de Melo, de Braga?
– Sim, o Cónego Melo foi uma pedra-chave em toda esta movimentação.
- Quem incendiou as sedes do PC no Norte?
– Havia já algumas movimentações no terreno. Por exemplo, havia um pirata chamado Paradela de Abreu, mas que era um pirata útil. E a ligação do seu movimento – Maria da Fonte – connosco era feita pelo engenheiro Jorge Jardim, por quem eu tinha consideração e admiração. [...] Gerou-se assim uma vaga de fundo em que uns entravam pelo rés-do-chão e outros saíam a voar pelo primeiro andar. [...]
- Que aconteceu ao MDLP depois disso [25 de Novembro]?
Fomos fechando a loja devagarinho… mas continuando a falar uns com os outros. Simplesmente havia sectores mais radicais do MDLP a murmurar que «afinal ficava tudo na mesma. Que alguns deles continuavam com mandatos de captura», etc. O resultado foi que alguns destes elementos entraram numa espécie de autogestão difícil de travar… Apareceram aí umas bombas que ninguém mandou pôr…
- Já depois do 25 de Novembro?
– Sim. Antes disso podem dizer que fui eu quem as mandou pôr, a todas, que eu não desminto.
Do Fundo da Revolução, Edições Público, Lisboa, 1994
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