29/09/17

Sem Título

Os projectos de regeneração urbana terão que obter previamente o apoio dos residentes nas áreas de intervenção. Os residentes nas áreas com projectos de regeneração têm que ser obrigatoriamente realojados no mesmo local. Fim da gentrificação e da limpeza social. Regeneração urbana é um termo largamente abusado e subvertido. Fim do aumento incontrolado das rendas.  Os solos na posse dos promotores, mas não utilizados, serão taxados, e os municipios poderão adquiri-los de forma compulsiva. A politica deve ser feita de uma forma diferente. A palavra certa é "nós". 

Será que estamos em plena campanha autárquica portuguesa? Será que foi algum dos partidos da esquerda que recorreu a este discurso. Não. Por cá não se ouviu nada disto da boca de um  qualquer candidato, ou líder partidário, apesar dos cartazes que o candidato da CDU a Lisboa espalhou pela cidade com a mensagem " pelo direito à cidade". Por cá, em Lisboa, com a esquerda no poder à uma década, não se falou sobre nada disto. Como não se falou destas questões em nenhum outro centro urbano. Basta ter escutado os debates que a rádio e a televisão pública promoveram. Há questões muito mais importantes que preocupam os portugueses. Quais? Saber se Pedro Passos Coelho sobrevive a Teresa Leal Coelho em Lisboa. Ou  se Catarina Martins consegue impor uma revisão do IRS, em favor dos mais pobres. Ou se Jeronimo de Sousa apoia o próximo Orçamento de Estado. Ou se Cristas ultrapassa o PSD em Lisboa, libertando-se do fantasma de Portas. E outras coisas, iguais às de todos os dias, e de todas as eleições. O líder partidário aparece sempre com a candidato atrás, remetido para um segundo plano, e uma deslavada figuração do povo a agitar bandeiras inertes.

Quem falou destas coisas foi Jeremy Corbyn, no seu discurso, na Conferência anual do Labour, em Brighton. Um discurso sem tibiezas e sem hesitações. Uma promessa de mudança politica que mobiliza os cidadãos, com a mesma intensidade com que indigna desde promotores a autarcas, e até a muitos dos seus camaradas. Um discurso em que Corbyn não hesitou na afirmação de que o desastre da Grenfell Tower, a torre de habitação social que ardeu matando quase uma centena de pessoas,  é um monumento a uma politica de habitação e a um modelo económico falhados. Um modelo criado por Margareth Thatcher e cujo nome é neoliberalismo. Eis um politico que não teme a politização das catástrofes, daquelas cuja consequência se devem às opções politicas erradas.

A campanha eleitoral autárquica serviu, basicamente, para ... nada. Bom, talvez Medina tenha maioria absoluta, talvez o BE eleja um ou dois vereadores e a CDU idem aspas, e isso será uma grande vitória da esquerda, dirão todos domingo à noite. E talvez Rui Moreira vença no Porto, também com maioria absoluta, e Isaltino Morais regresse a Oeiras, com maioria absoluta, e Narciso Miranda regresse a Matosinhos. E isso será o quê?
Ganhe um, ou ganhe o outro, ou ganhem todos e percam todos, pouco mudará. As politicas públicas urbanas estiveram arredadas do debate autárquico, com a breve excepção da habitação em Lisboa. A transparência e a corupção na politica municipal são problemas resolvidos, com os ajustes directos a belo prazer do autarca de serviço. A casa de Medina e os terrenos de Moreira, foram episódios menores, pequenas intrigas trazidas para o debate eleitoral, para obscurecer a falta de preparação e de vontade de fazer uma discussão séria. As nossas autarquias são um motivo de orgulho para toda a gente e o espelho do que melhor por cá se faz, gritaram todos de viva voz, cada um no seu quintal,. A unanimidade é muito bonita mas dá muito trabalho.
Afinal parece que as politicas de austeridade, o neoliberalismo puro e duro, não penetraram a escala municipal, e não estão hoje impressos, na suas nefastas consequências, no território, nas áreas metropolitanas e nas cidades. Há politicas boas, as nossas,  e politicas más, as deles.  Para quê perder tempo a falar de equidade e justiça e dos problemas das pessoas?

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