No Expresso podemos [devemos] ler uma entrevista a Philip Roth originalmente publicada no New York Times. [O semanário publica um texto de Clara Ferreira Alves, justificado pela publicação desta entrevista, cuja leitura é igualmente obrigatória.]
Philip Roth é o meu romancista preferido. Tenho tido a sorte de poder ler os seus livros, depois da forte impressão que me causou a experiência inicial de ler A Pastoral Americana logo seguido de A Mancha Humana.
Mas o que importa nesta entrevista, que o Expresso em boa hora publica, são as opiniões de Roth na sua actual condição de reformado, escritor reformado, sobre a política e os grandes temas que abalam a sociedade americana.
O escritor tantas vezes acusado de misoginia, um entre muitos argumentos utilizados pela pudibunda Academia Nobel para recusar reconhecer e premiar a sua genialidade, aborda o tema do assédio sexual, que recentemente abalou os alicerces da indústria do espectáculo, e a situação política na América após a eleição de Trump.
Estabelece uma comparação entre o cenário por si idealizado, no seu romance "A Conspiração contra a América", para os anos quarenta do século passado, com a vitória presidencial de Charles Lindbergh, um herói americano com simpatias pelo fascismo e defensor confesso da supremacia da raça branca, e a presidência de Trump.
Trump é, diz Roth, "uma fraude maciça, a soma maligna das suas deficiências, destituído de tudo exceto a ideologia oca de um megalomaníaco".
O escritor mostra o seu cepticismo sobre a democracia americana, citando o maior dos cépticos, o cínico H.L.Mencken, que classificava a democracia americana como " a adoração de chacais por idiotas". No entanto, nem isso lhe permitia antever que "o mais rebaixante dos desastres, surgiria não sob, digamos, o aspecto aterrador de um Big Brother orwelliano, mas sob a ameaçadoramente ridícula figura de commedia dell´arte de um bufão gabarolas".
04/02/18
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3 comentários:
Magnifica intervencäo, a sua. Roth é optimo com ou sem fúrias eróticas...Como Ph. Sollers, que Roth aprecia e com quem se corresponde,o autor genial de " Femmes "´e um dos meus escritores preferidos, com a gloriazinha de o ter entrevistado duas vezes em Paris para diários tugas.Niet
Já tinha lido o texto da Clara Ferreira Alves. Foi várias vezes escrito por centenas de escribas portugueses nas últimas duas décadas. É gente que se põe a ler os jornais norte-americanos e depois os acham originais.
Tem um ponto, apenas um, o resto são balelas que deve ter tirado de qualquer lado e não da realidade. Um ponto a que ninguém liga: Saul Bellow (mais um que ignoram quando criticam Estocolmo) já tinha feito isto que Roth faz. Ia o nobel repetir-se com as angústias dos judeus norte-americanos da classe média, chegadas mais de 15 anos depois?
O resto, blá, blá, blá. E A Mancha Humana é assim tão excepcional exactamente porquê? Alguém me explica?
Não se trata de gostar ou não gostar de Philip Roth. O que eu posso afirmar é que uma certa população americana que foi deixada ao abandono não se interessa absolutamente nada por aquilo que diz e possa afirmar Philip Roth.
Para compreender a chegada de Trump ao poder é preferivel ler CHRISTOPHER LASCH :
O papel das elites de "esquerda" , "modernos" e liberais mas incapazes de compreender as pessoas ordinárias do seu próprio país.
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