09/02/12

Coisas que até um social-democrata alemão compreende

A Anameditou superiormente na sua Pastelaria sobre certas coisas que até um social-democrata alemão compreende. Mas vale a pena insistir nas declarações de Martin Schulz e interrogarmo-nos sobre o espanto e o escândalo que suscitaram em dois lusos eurodeputados do Bloco Central.

Pergunta e responde Schulz: Porque não defendemos o nosso Estado de direito, e o modelo dos direitos do homem, e uma crescente capacidade económica, para desafiar [o modelo chinês, etc.], não só do ponto de vista económico, mas também de democracia política? [...] Se não tomarmos rapidamente esta decisão, a Europa tornar-se-á irrelevante.

Ou seja, Schulz compreende que, se o governo político e económico da UE quiser competir com os modelos do "capitalismo com valores asiáticos" e outros afins, quiser competir à chinesa — digamos assim para simplificar — com a "sociedade harmoniosa", estará, na realidade, a cooperar com a RPC, essa nova figura do "estádio supremo do capitalismo", na destruição das liberdades fundamentais e dos direitos sociais tanto a nível global como ao da própria Europa. Ou seja, a cooperar na construção de uma "sociedade esclavagista, sem direitos, numa ditadura que oprime implacavelmente o ser humano".

É verdade que a simples defesa das liberdades democráticas e direitos sociais a que Schulz se refere exige uma extensão e ofensiva democratizadoras que vão bem mais longe do que a estabilização do "Estado de direito" e do que hoje resta da regulação por ele da esfera da economia na UE. Mas quem quer o mais quer o menos, e nós devemos compreender outra coisa que, apesar de tudo, Schulz compreende bem. Ou seja, que as ocasiões de qualquer alargamento das perspectivas de democratização na Europa e no mundo exigem justamente, no quadro europeu, a superação das concepções soberanistas — como as adoptadas pelos porta-vozes do luso Bloco Central Capoulas e Rangel — em benefício de uma integração federal que assegure o reconhecimento e reforce a extensão de uma cidadania europeia comum. Porque se é verdade que só o arranque de um processo de democratização profunda da ordem institucional ("política" e "económica") da UE poderá conceder verosimilhança à sua apresentação como alternativa à globalização sob o signo da expansão de vias de desenvolvimento como as que governam Angola ou a China, é também verdade que, no que diz respeito a esta parte do mundo, é "no quadro da UE" que a defesa das liberdades e direitos fundamentais e as perspectivas da democratização continuam a ter mais "hipóteses".

1 comentários:

Anónimo disse...

Há um artigo do Joschka Fischer muito importante: " A Chancelerina brinca com o fogo!", que deve estar acessivel no Público. O que ele frisa, no contexto do desenfreado ciclo eleitoral que sacode a Alemanha e a França- há sérias hipóteses de desintegração europeia- o mito da Europa a duas velocidades...-por causa das consequências desastrosas da deflação que ataca os países em crise da U. Europeia. A hipótese federal para a Europa é uma miragem, por agora, pois existe um risco estrutural de bancarrota nos PIIGS. Surgiu um artigo no influentissimo Der Spiegel Online, que se intitula: Urge acabar com a farça do plano de salvação da Grécia pela UE. No meu modesto ponto de vista, a solução mais exequível e consensual dos problemas económicos e financeiros da U. Europeia pode ser imposta por Barack Obama,também por razões políticas e eleitorais, claro. Niet