25/02/12

O Tempora, o mores!

O que merece reflexão não é tanto o facto de o PCP ter votado contra a adopção de crianças por casais não-heterossexuais. É, sobretudo, o facto de em torno de uma questão desse tipo vermos assumidos militantes, simpatizantes, companheiros de jornada e assim por diante tomarem publicamente posição contra o voto parlamentar do PCP. Ou, dito de outro modo — e deixando para outra ocasião a discussão que seria desejável retomar do que deveria ser uma regulação jurídica democrática da adopção, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras afins — o que vale a pena sublinhar é o facto de ser em torno da questão da adopção, e não da política de alianças do partido, do seu leninismo, das suas concepções e práticas organizativas, do modo como se relaciona com o exterior, da definição do socialismo e das suas vias, etc., etc. que a disciplina "centralista democrática"— que reserva para o interior do PCP e para os "lugares próprios" dentro deste — parece quebrar-se, suscitando o emergir da afirmação pública de divergências. Mais significativo, com efeito, do que a quebra do centralismo democrático leninista, é o facto de esta suceder a propósito de questões a que o "leninismo" não pode dar relevância essencial — e/ou para as quais é, se assim se preferir, a referência "leninista" que não tem relevância maior.

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