12/02/12

E aqui está um comentário do Nelson Anjos que muito me honra postar

O texto referido no título foi enviado pelo Nelson Anjos para a caixa de comentários do meu post Uma última saída: exportar as reivindicações e as lutas, e reza o seguinte:

Caro Camarada Miguel

Com certeza que um dia destes passarei pela tua rua e baterei à tua porta. Gostaria contudo, antes, deixar claro que continuo a privilegiar a palavra na praça pública, em detrimento da palavra clandestina (?), ou mesmo privada (?), enquanto isso for possível e muito embora o ruído existente, como primeira arma de combate pelo resgate do território de cidadania por parte dos cidadãos organizados, que se vai mantendo usurpado pela casta política.

O ruído – inimigo histórico da engenharia das telecomunicações – tem sido possível levá-lo de vencida através da utilização de várias técnicas. Cito algumas a título de exemplo: diversidade, redundância, técnicas de modulação, códigos adaptados ao meio físico, entre outras.

Quando falo da necessidade de organizar quero dizer que, sem cercear contributos, criatividade e liberdade, através de um qualquer expediente de disciplina administrativa, seja qual for a forma que revista – partido, sindicato ou outra – me parece cada vez mais necessário dar alguma forma de organização às diversas vozes que se vão fazendo ouvir, e onde é possível identificar cumplicidades, quanto ao essencial, no sentido de as tornar mais eficientes, ou seja capazes de produzir consequências: a rejeição generalizada pelos cidadãos da casta política, e a recusa em se aceitarem representados por ela. Não principalmente porque seja ineficiente e cara – o que também é verdade – , incompetente e muitas vezes corrupta – o que também é verdade – ou instrumento de poder (quando governo e nao só), numa sociedade estruturada em classes, predominantemente ao serviço da classe dominante – o que também é verdade. Mas principalmente porque constitui o agente principal que dá a cara e a forma a este conto do vigário, alcunhado – a despropósito – de “democracia”; instrumento primeiro, isso sim, de exclusão dos cidadãos, enquanto tal. Mas também, pura e simplesmente, porque o território da cidadania – entendido como o campo da política – pertence – no sentido de que responsabiliza – ao universo de cidadãos organizados.

Acresce ainda que, sabendo-se que não é quando chove que se repara o telhado da casa, mas antes, e dado que não é difícil, pelos sinais, prever os tempos que se aproximam, deverá também, dentro do que é previsível, ser acautelado o que convém.

E agora tenho que ir semear umas batatas de sequeiro, antes que chova.

Um abraço e até breve.

nelson anjos

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