Metendo-me na discussão sobre a Islândia entre o Daniel Oliveira e o Luís Fazenda, parece-me que o grande factor a assinalar na experiência islandesa é como a mobilização popular (por pelo menos 3 vezes) fez o governo vergar - primeiro, quando obrigou o governo de centro-direita a se demitir (posso estar errado, mas penso ter sido a primeira vez nos últimos 30 anos que um governo da Europa ocidental foi obrigado a demitir-se por protestos populares), e depois quando rejeitou, por duas vezes, em referendo, o acordo que o novo governo de esquerda havia negociado para o pagamento aos investidores do IceSave.
É que dá-me a ideia que grande parte da divergência entre LF e DO é que um diz algo como "a situação islandesa não é tão boa como a pintam - o governo continua a fazer uma política contra os trabalhadores e as coisas boas que aconteceram foi por pressão popular, não por vontade governamental" e o outro contra-argumento que o governo islandês tem realmente tomado algumas boas medidas; mas ambas as posições parecem-me assentar no mesmo pressuposto, que o que interessa é ter um governo que faça uma boa política (sendo que a diferença entre LF e DO é que o primeiro acha que a Islândia não tem um governo desses e o segundo acha que, dentro do possível, já tem). Mas, mais importante do que ter "bons governos", não será alterar a relação entre os governos e os governados?
Por outras palavras, podemos ver a situação em que um governo supostamente de esquerda faz acordos com os representantes da banca internacional, que depois são rejeitados em referendo como um "menos" ("aquele governo não é verdadeiramente de esquerda; faz cedências tão gravosas que até leva a referendos contra a sua política"); mas também a podemos ver como um "mais" ("mesmo com um governo supostamente de esquerda no poder, o povo não se deixa adormecer e continua a ter forças para derrotar as políticas que lhes querem impor"). Eu prefiro o segundo ponto de vista.
22/02/12
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