16/07/13

A proposta de conversações do BE

No momento em que proclama: "A agenda do Bloco de Esquerda para estas rondas de negociação é clara: o Bloco empenha-se na construção de um governo de esquerda que termine a austeridade e o memorando, que consiga a  reestruturação da dívida, mobilizando os recursos bancários,  financeiros e fiscais necessários, e que recupere o rendimento perdido pelas pessoas" — não seria talvez pedir demasiado ao BE que, deixando de preferência cair outras considerações do autor, nomeadamente sobre a direcção/representação partidária dos movimentos sociais, tivesse presente a seguinte passagem do texto que há dias o esquerda.net publicou de um militante do Syriza, Loudovikos Kotsonopoulos:

"Nesta passagem, a ligação entre a crise económica e a democracia torna-se clara como o cristal. Um famoso lema da esquerda sustinha que o que socialismo não é possível num só país. O que tem de ser complementado por um novo lema. A democracia não é possível dentro dum país. É sobre esta premissa que a estratégia da Esquerda Europeia deve ser construída. Os povos da Europa devem entender que para preservar a democracia nas suas nações devem seguir o caminho da democracia ao nível das instituições da UE. Para este efeito, todas as partes envolvidas na Esquerda Europeia devem adotar princípios simples e elementares comuns sobre como as instituições da UE se devem tornar democráticas".

Com efeito, se o português da tradução é lamentável, a ideia continua a ser clara e saudavelmente realista: a democratização capaz de resistir à ofensiva oligárquica, pondo fim às políticas de austeridade e conduzindo, entre outras coisas, à recuperação do "rendimento perdido pelas pessoas", ou será, para começar, europeia — ou, para acabar, não será. Ao que, sem dúvida, conviria, contra a histeria de várias campanhas soberanistas e nacionalistas em curso, acrescentar que, por outro lado, a única força à altura de impor no terreno a democratização das instituições só poderá ser a de movimentos democraticamente auto-organizados de cidadãos suficientemente activos e generalizados para constituírem dispositivos de controle e contrapoder democráticos efectivos, sendo que à falta destes a invocação de "governos de esquerda" mais ou menos salvíficos não produzirá mais do que cortinas de fumo ou ilusões desmobilizadoras.

2 comentários:

joão viegas disse...

Muito bem,

Esta na hora de compreender que qualquer proposta realista à esquerda deve necessariamente começar por ai : anunciar claramente o proposito de organizar as forças do trabalho a nivel europeu.

O resto é folclore. Mau folclore.

Boas

Luis Ferreira disse...

Convém também dizer que essa auto-organização não é uma coisa vaga que qualquer partido pode reivindicar como sua sob o pressuposto de que são os seus militantes, os seus funcionários e dirigentes que se organizam a si mesmos. A auto-organização ou é de todos os envolvidos em circunstância de igualdade ou então é hetero-organização.