08/07/13

Antes sós no inferno que acompanhados no paraíso por camaradas assim

Não sei o que é mais grotescamente deprimente e revelador do reaccionarismo puro e duro que tomou conta de boa parte dos funcionários e controleiros ideológicos que se reclamam da "esquerda da esquerda" — se

(1) os anátemas de que foi alvo, ao melhor estilo estalinista (de resto, um dos intervenientes no processo não se coíbe de recomendar a Arménio Carlos que o assuma sem complexos), Raquel Freire, que incorreu no desvio ou acto de sabotagem de ter criticado publicamente a convocação de uma manifestação da CGTP para as 15 horas da tarde no passado sábado (6 de Julho),  obstinando-se em não ter sequer "a humildade de imaginar que quem […] teve de tomar [as responsabilidades de convocar a manifestação], também queima as pestanas a pensar em soluções" — se

(2) as proclamações de inocência e os protestos patéticos de fidelidade à bandeira dos seus detractores, que Raquel Freire lança, corroborados pela invocação de relações pessoais com "o Álvaro", que talvez os "camaradas" ignorem que era muito lá de casa, e de antecedentes familiares que atestam uma "limpeza de sangue" a toda a prova, mas esquecendo-se que tudo isso, aos olhos dos ditos "camaradas" ou "companheiros de jornada", sempre vigilantes, só agrava as suas culpas e só pode tornar mais nefanda a sua traição.

1 comentários:

Niet disse...

Solidariedade intangível com a legitima e democrática opinião de Raquel Freire; porque, como bem vincou Victor Serge na sua crónica admirável sobre os " anos do desgaste e do entusiasmo da Revolução Russa( 1919/1920)", apontava preclaro e vigilante contra os vicios e a maldição da " canalhice soviética ", saborosa expressão gerada por Lénine para causticar contra o servilismo e baixeza da nova burocracia montante implacável pletórica da psicose sanguinária da autoridade : " O socialismo não se deve unicamente defender contra os seus inimigos, contra o velho mundo contra o qual se opõe, deve defender-se no seu próprio seio contra os fermentos nascentes de reaccionarismo. Uma revolução não pode ser avaliada como um bloco senão de longe; na realidade, deve comparar-se a uma corrente tempestuosa que transporta,simultânea e violentamente,o melhor e o pior e abarca forçosamente verdadeiras correntes da contra-revolução.É obrigada a recolher as velhas armas do regime deposto, e estas armas possuem um duplo sentido. Para ser honestamente servida, deve ser infatigavelmente alerta contra os abusos que gera, os seus excessos, os seus crimes, os seus inescapáveis elementos reaccionarios que produz. Tem uma necessidade viral de critica, de oposição e da coragem civica dos seus activistas. E, a esse respeito, situavamo-nos já, em 1920, a léguas desses requezitos ". Niet