20/09/13

“Ai Jesus que a agroecologia não é isso mas é isto e isto e o caralho”…

Contra os deferentes para com o genocídio que a agroecologia implicaria se fosse hegemónica, aqui fica a quarta parte do artigo do João Bernardo contra a ecologia.

«Pretendendo que a agricultura orgânica teria uma elevada produção medida em volume por área, Brian Halweil recordou, num artigo de 2006, que «um estudo recente elaborado por cientistas do Instituto de Pesquisa de Agricultura Orgânica, na Suíça, mostrou que, num período de 21 anos, as explorações orgânicas eram só 20% menos produtivas do que as convencionais. Considerando mais de 200 estudos da América do Norte e da Europa, Per Pinstrup Andersen (professor em Cornell e galardoado com o World Food Prize) e alguns colegas chegaram recentemente à conclusão de que o rendimento da produção orgânica é de cerca de 80% do da produção convencional. E muitos estudos mostram uma diferença menor ainda». Nada poderia ser mais comprometedor do que esta argumentação, porque é hilariante ler que a agricultura orgânica é somente 20% menos produtiva do que a convencional. Em economia, percentagens destas ditam a vida ou a morte de instituições e sociedades. Se a agroecologia se convertesse em todo o mundo no sistema de cultivo predominante, ocasionando esta queda de produção por hectare, suscitaria uma catástrofe alimentar sem precedentes, não só directamente, pela diminuição do volume de alimentos, mas também indirectamente, pela enorme subida que provocaria no preço dos bens agrícolas, o que os colocaria fora do alcance de uma grande parte da população.»

(...)


Nazis reúnem para preparar a ressurreição de uma espécie extinta
«Começo pela alegada perda de biodiversidade, e como hoje se menciona a questão a propósito de tudo e de nada vale a pena conhecer-lhe a génese. Bjørn Lomborg esclareceu que em 1979 o ecologista Norman Myers estabelecera, sem citar referências, que até ao começo do século XX ficava extinta uma espécie em cada quatro anos, taxa que em seguida passou para uma espécie por ano. Numa conferência realizada em 1974 colocara-se a hipótese, sem qualquer fundamento de pesquisa, de que a taxa de extinção atingia então 100 espécies por ano, não só animais mas todas as espécies, incluindo as que eram ainda ignoradas pela ciência. É deveras extraordinário atribuir uma taxa de extinção a algo que não é conhecido, mas como se esta metodologia peculiar não fosse suficiente e assumindo que nos próximos vinte e cinco anos ficaria extinto um milhão de espécies, Norman Myers procedeu então ao cálculo fácil de que são perdidas 40.000 espécies por ano. «Toda a argumentação de Myers se resume a isto», concluiu Lomborg. «O livro de Meyers não fornece nenhumas outras referências ou argumentos». É esta a origem de um dos pavores contemporâneos. Mas vejamos o resto da lista.

Basta a forma como os ecologistas colocam a questão da modificação genética dos alimentos para lhes denunciar o obscurantismo, porque tanto os vegetais como os animais que hoje comemos não são naturais. Resultam de um multimilenar processo de domesticação, que implicou modificações genéticas, com a desvantagem de terem sido muito mais lentas e terem levado a um maior número de resultados inconvenientes, que tiveram de ser abandonados. Num artigo, García Olmedo observou a este respeito que um dos erros da palavra natural «consiste em designar variedades cultivadas tradicionais, que deixaram de ser naturais precisamente durante a domesticação, processo pelo qual foram eliminadas as características essenciais para sobreviver na natureza em troca da aquisição das propriedades que as tornavam adequadas para o cultivo». E este autor, engenheiro agrónomo especializado em engenharia genética, professor catedrático na Universidade Politécnica de Madrid e membro da Real Academia de Ingeniería espanhola, chamou a atenção para o facto de que «nenhuma das espécies cultivadas foi natural porque nenhuma foi ou é capaz de viver por si própria em vida livre e todas dependem da mão humana para ter êxito na sucessão dos seus ciclos biológicos». Mas para os ecologistas o laboratório é a sede do Mal, e os alimentos geneticamente modificados resultantes da associação da ciência com a indústria são classificados como nocivos, enquanto os alimentos modificados por uma domesticação que não foi menos artificial do que qualquer outra técnica humana são classificados como… naturais.
O problema fundamental, porém, não consiste em saber se as classificações são certas ou erradas, mas se os alimentos orgânicos são ou não mais nutritivos e melhores para a saúde. «É uma falácia que natural implique necessariamente mais segurança do que artificial», escreveu Mark Lynas no seu site. «Em 2009, um importante estudo realizado para a Food Standards Agency do Reino Unido [departamento governamental responsável pela protecção da saúde pública] concluiu que o orgânico não trazia vantagens nutricionais nem de saúde». E Lynas evocou o caso de bactérias que passam do estrume animal para a planta e o alimento. Com efeito, um estudo publicado em 2004 por Avik Mukherjee et al., da Universidade do Minnesota, citado por García Olmedo no artigo já referido, detectou a presença de coliformes fecais em 9,7% das frutas e verduras oriundas de explorações agroecológicas, mas apenas em 1,6% das oriundas do outro tipo de agricultura. E García Olmedo acrescentou uma inquietante lista de doenças e mortes provocadas pelo uso de matérias fecais como adubo. Mas os ecologistas abstêm-se de chamar a istoagrotóxicos. Pelo menos os Khmers Vermelhos limitaram-se a decretar a recolha da urina, mas não do resto.
Quanto ao aspecto nutritivo, o Dr. Patrick Moore, que durante nove anos foi presidente da Greenpeace Canadá e durante sete anos foi director da Greenpeace International, declarou numa entrevista, em 16 de Fevereiro de 2012, que a modificação genética de plantas foi uma das descobertas científicas mais relevantes da história e explicou os motivos medicinais que levam o arroz geneticamente modificado a ser mais eficiente sob o ponto de vista da alimentação e da saúde. Além do arroz, o Dr. Moore deu outros exemplos de como os alimentos geneticamente modificados podem ter componentes importantes para a saúde».

8 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João,

transcrevo a seguir um comentário que acabo de deixar no Passa Palavra, tentando precisar o que me aproxima e o que me afasta das posições do João Bernardo. Creio que, no essencial, nele exponho os pontos de acordo e de discórdia que existem, sobre a "questão ambiental", entre nós dois. Aqui fica, portanto.

Abraço para ti

miguel (sp)

«Caro,
tudo o que dizes está muito certo e é extremamente importante tê-lo em conta. No entanto, nem todos os que, bem ou mal, alimentam preocupações ecológicas e politizam as questões ambientais defendem (antes, muitas vezes, tendem a denunciar) as teses que tu refutas. Assim, o teu texto seria mais convincente se o levasses em conta, tanto mais que, até pela bibliografia que citas, é impossível que o ignores.
Por fim, talvez uma perspectiva demasiado unilateral prejudique também a tua argumentação. Claro que nem tudo o que é natural é bom. Mas isso não significa que tudo o que transforma o dado (e tudo o que fazemos o transforma) o faça para melhor. O mesmo poderíamos dizer dos organismos geneticamente modificados, ainda que deixando de lado os direitos de propriedade sobre as sementes e outros aspectos relevantes da questão. E assim por diante.
A intervenção e a acção transformadoras sobre o meio são inevitáveis, até para quem quer "conservar" ou "reequilibrar" e invoca uma natureza mítica como justificação. Nisso, marcas sem dúvida o teu ponto. O problema é que nem todas as transformações se equivalem e nada do que dizes é razão para ignorarmos politicamente as questões ambientais, que são parte de resto da questão das condições da existência quotidiana comum, estão presentes na questão urbana (que tipo de cidade queremos?), etc.
A nossa divergência, se me permites, parece residir no seguinte: acompanho-te na medida em que penso que devemos tratar politicamente as questões ambientais e dos recursos, etc., e não subordinar ou reduzir ecologicamente as questões sociais e políticas, ao passo que tu - é a ideia que se fica quando se lê parte do que escreves - tendes a considerar que as questões ambientais são, por inteiro, falsas questões, manobras de diversão, não passando de alibis de tecnocratas ("gestores") ou chamanes ressacralizadores. Considero, como tu, falsas e tóxicas as concepções tecnocráticas ou religiosas das questões ambientais. Mas não considero, ao contrário de ti, que tê-las em conta seja alimentar falsas questões.
Espero que isto ajude para clarificar o debate, e corrige-me se achas que não te compreendi bem.

Abraço

miguel»

joão viegas disse...

Caros,

Assino por baixo do comentario do Miguel.

Abraço

Libertário disse...

A demagogia continua a favor da agro-indústria...

Como o JB sabe a desflorestação da Amazónia, bem como de outros ecossistemas tropicais, está a ser feita para exportar madeiras nobres para os países ricos bem como para plantar soja e criar gado para exportar para os EUA e Europa...

A crença de JB no Progresso não tem limites: vivam os adubos, os pesticídas, a agro-indústria, os transgénicos e tudo o que vem pela frente neste glorioso «desenvolvimento», até porcos com seis patas e vacas a dar leite em pó, pois será a segunda Revolução Verde que vai matar a fome ao mundo.

Vale a pena debater num contexto em que uns inserem longos ensaios académicos, com notas e tudo, e outros fazem pequenos comentários?

PS - A foto dos nazis é bem adequada à propaganda dos queridos camaradas. Grande escola tiveram.

Niet disse...

" Não existe senão uma forma de ser feliz neste mundo : consiste em fazer os impossiveis para tornar os outros felizes ", A. Schnitzler

A agro-ecologia tem um pluricombate pela frente enorme e digno de Sísifo: como reparar 80 por cento das florestas mundiais em risco de extinção e como recuperar da morte lenta 90 por cento da fauna maritima nos cinco Oceanos ? Só por vontade politica democraticamente assumida, a todos os instantes,se pode evitar o apocalypse, uma vez que, como o sublinha Adorno, a aliança com o mal não representa unicamente o sintoma anunciador da barbarie, mas também a máscara do bem...Que irá permitir o exercicio do mal em toda a impunidade na sociedade de classes em luta sem tréguas Niet

Paulo Marques disse...

"explicou os motivos medicinais que levam o arroz geneticamente modificado a ser mais eficiente sob o ponto de vista da alimentação e da saúde. "

Pois bem, como se fosse possível saber o que faz bem ou o que faz mal e porquê. Nem sequer se percebe porque acontecem alergias alimentares com consequências complicadíssimas e uns testizinhos já fazem tudo seguro.
Se depois de todas as culturas serem substítuidas se descobrirem problemas, bem, paciência, continuem a pagar o direito de reprodução todos os anos para comer sabe-se lá o quê.

Anónimo disse...

parece-me que li algures na capa de um jornal que a Europa em 2012 deitou ao lixo 47% da sua produção de alimentos. lembrei-me porque fico com a sensação que estes "desperdícios" não estão a ser devidamente considerados nas contas do JB, tanto ao nível da quebra de produção como do aumento do preço dos morfes. mas também admito que o meu ponto de vista cacule mal a probabilidade da Revolução instantanea e generalizada :-)
gostava também de dizer que sou sensivel a muitos dos argumentos e denuncias do JB acerca de algum ecologismo, no entanto acho que neste texto ele subestima o risco de certas tecnologias, como por exemplo no caso dos transgénicos. pergunta sincera, uma das modificações genéticas introduzidas em alguns casos não é que a planta não dê semente, obrigando a compra de mais sementes por parte de agricultor?
adiante. riscos, certo. duas palavras. energia nuclear. podia ser a solução de todos os problemas energéticos do mundo... podia.
e é só. agora vou ler o texto.



"Haikus are easy
But sometimes they don't make sense
Refrigerator"

Um ecologista disse...

"Mas para os ecologistas o laboratório é a sede do Mal, e os alimentos geneticamente modificados resultantes da associação da ciência com a indústria são classificados como nocivos, enquanto os alimentos modificados por uma domesticação que não foi menos artificial do que qualquer outra técnica humana são classificados como… naturais."

VIVA A MONSANTO!...

João Valente Aguiar e o amigo disse...

João Valente Aguiar em 25 de setembro de 2013 23:41

Sobre os transgénicos, deixo um link que um amigo meu divulgou hoje: http://www.efsa.europa.eu/en/efsajournal/pub/3371.htm
Basicamente trata-se da certificação da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar de que uma estirpe de milho transgénico não coloca qualquer tipo de problema para a saúde ou para o ambiente. Agora só falta virem certos meninos citar publicações de ecologistas, com as teorias da conspiração associadas.