27/11/14
Obra Completa de João Bernardo na Internet
por
Miguel Serras Pereira
Graças a Manolo, autor de numerosos e muito recomendáveis textos publicados no Passa Palavra, passa a estar disponível na Internet o conjunto da obra de João Bernardo, acompanhada de uma introdução do organizador. Boa leitura!
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3 comentários:
Grande Prenda, muito obrigado. O Vias deixou passar, no entanto, a morte de um castoridiano de longa data, e amigo de berço do João Bernardo, o grande politológo Artur Castro Neves, uma das maiores personalidades da diáspora super-intelectual portuguesa. Niet
Não foi só o Vias de Facto que deixou passar, mas parece-me que Portugal inteiro. Escrevi, creio que duas vezes, que o Castro Neves foi o português mais inteligente da minha geração. Continuo a pensar o mesmo. Ele preferia os bastidores à ribalta e o cepticismo que tinha sobre tudo aguçava-lhe ainda mais a inteligência. Aprendi muito com ele em Paris e depois também. O silêncio que houve perante a morte do Artur Castro Neves deixou-me mais descrente ainda desse país, em que a futilidade presente supera o que deveria ser uma memória profunda.
Não é que não haja nada a dizer sobre o João Bernardo, e até penso que muitas coisas, mais boas que más… o problema é que com o que se passa hoje e que já se passou ontem :
esta sensação de desgosto perante a deriva das sociedades, e de um Portugal que está longe de se situar no último lugar quando se trata de denonestidade e corrupção. Da trafulhice generalizada. Do imaginário capitalista-liberal etc.
Penso, e pode ser que erradamente, que vocês integram tudo o que se passa hoje no funcionamento « normal » do capitalismo, então que pensar da ideia que emite o Castoriadis nas linhas que seguem sobre um passado diferente :
( Sobretudo, o capitalismo tem necessidade , para funcionar, de « tipos antropológicos » que ele próprio destrói no seu desenvolvimento e assim tende a minar ele mesmo as suas próprias condições de existência :
« Esses tipos antropológicos, na sua maioria, o capitalismo herdou-os de períodos históricos anteriores : o juíz incorruptível, o funcionário weberiano, o professor apaixonado pelo seu trabalho , o trabalhador que apesar de tudo se sentia orgulhoso pela qualidade daquilo que fazia. Personagens assim tornam-se inconcebíveis no periodo contemporâneo : e nada permite de imaginar porque razão isso se reproduzeria e em nome de quê eles funcionariam.
Mesmo o tipo antropológico que é uma criação própria do capitalismo, o empreendedor schumpeteriano – aliando uma inventividade técnica, a capacidade de reunir capitais, de organizar uma empresa, de explorar, de penetrar, de criar mercados – está em vias de desaparecer e a ser substituido por burocratas manageriais e por especuladores. »
Conversa com a République des Lettres, 1994
Há dias, e por acaso, li o que pode ser uma anedota mas se não é é algo significativo da mudança dos tempos :
« Teófilo Braga, quando já presidente, e segundo uma foto conhecida, ia para o palácio de Belém sentado com o guarda-chuva num banco de pau de um eléctrico como vulgar fabiano. Foi o caso que um dia um sujeito o surpreendeu a viajar de comboio numa carruagem de terceira. Diz-lhe o sujeito escandalizado : - como assim ? O senhor presidente a viajar em terceira ? E logo, ele alvoroçado:
- pois quê? Há quarta?
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