Num artigo editado no Público, Jorge
Almeida Fernandes considera que Sedas Nunes foi um sociólogo que se pautou não
só pelo cuidado e
rigor, mas também pela «separação de águas entre o trabalho científico e os
textos de intervenção política a coberto da “ciência”». O seguinte
excerto, uma reflexão sobre a natureza do proletariado publicada no
artigo «Crise
Social e Reforma da Empresa» (Revista do Gabinete de Estudos Corporativos, Ano
III, 9, 1952), parece indicar o contrário:
“homem sem família, sem
pátria, sem profissão, sem propriedade; agitado pelo espírito de negação, seja
da presente estrutura social, seja dos valores tradicionais; […]; convencido,
aliás, de que um mundo novo (dos proletários, embora não proletário) está para
chegar – o proletário é verdadeiramente o bárbaro dos nossos dias, ser
desorientado e infeliz, tão incapaz de, por si só, construir uma sociedade
estável e afortunada, como pronto a deixar-se seduzir por qualquer utopia
falaz, que lhe diga o que ele quer ouvir e lhe prometa o que deseja. Ameaça
terrível, gerada no ventre mesmo da civilização, aborto vergonhoso por ela dada
à luz” (p. 23).
Se Sedas Nunes foi um grande
sociólogo, tal deve-se a nunca ter escondido o que era, de onde vinha e o que
pensava. A falta de pudor e a polémica não são, nem nunca foram, inimigas da
ciência, pois é do contraditório que nascem a reflexão e a vontade de
ultrapassar (ou confirmar) os argumentos contrários. Contudo, todo e
qualquer debate requer condições mínimas, em particular a garantia do direito à
existência (e não à destruição) daquilo com que não concordamos.
1 comentários:
Bom, a única coisa que não entendi até agora é se os inúmeros professores e pesquisadores que reclamam da censura na revista Análise Social vão sair da redacção e do conselho de consultores e vão boicotar daqui para a frente a revista.
Se isso não acontecer tudo não passa de conversa fiada inconsequente...
Enviar um comentário