15/02/17

A França entre caudilho e andarilho



Ao que tudo indica, os Franceses preparam-se a ir a eleições para erguer bem alto o espantalho fascistoide da Le Pen, por forma a correrem a seguir refugiar-se nos braços do antigo ministro Emmanuel Macron, cujas propostas consistem basicamente em continuar a política que os mesmos franceses vomitaram durante vários anos, a ponto de impossibilitarem de facto a re-candidatura do actual titular, François Hollande. Que tem Macron que falte a Hollande ? Nada, a não ser o facto de assumir claramente que não tem ideias políticas nenhumas (nem de esquerda, nem de direita) e que vai fazer desaparecer os problemas do país misturando as receitas já experimentadas com água benta e orações ao “futuro”. Estou a ser injusto, há uma diferença importante : Macron tem mais cabelo (por enquanto). 

O slogan de Macron é “en marche”, expressão insignificante de tão polissémica, que podemos conjugar com mais ou menos tudo o que quisermos, desde apelos bélicos como os da Marselhesa (“marchons, marchons”) a um cínico “caiam na esparrela” (cf. a expressão “tu me fais marcher”). A tradução mais fiel ainda me parece ser a do Sérgio Godinho “Cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas”. Para qualificar uma situação tão absurdamente caótica e perigosa para as liberdades, invoca-se uma antiga palavra grega, democracia, menos por pedantismo do que porque se se escrevesse “poder do povo”, a gargalhada seria geral. 

Entretanto, os mais lúcidos continuam a chamar, parece que em vão, por uma reforma da Europa política. Proponho que comecemos pelos símbolos. Depois do hino da alegria, podíamos eleger duas grandes figuras tutelares, em homenagem à locomotiva franco-alemã: Donatien Alphonse François de Sade e Leopold Ritter von Sacher-Masoch.

4 comentários:

José Guinote disse...

Meu caro joão Viegas a situação em França coloca-se exactamente como a descreve. A opção parece ser entre a fascista Le Pen ou o supostamente apolitico Macron. Este último aparece como a esperança de muitos "europeístas" - entendendo eu esta expressão como classificando os que acham que na Europa está tudo bem e assim deve continuar. Por cá no Público dedicaram um dossier à peça e não foram parcos em elogios. No mínimo classificam-no coo o mais europeísta de todos os candidatos. Há uma sedução na vacuidade que deixa as nossas elites liberais a babarem-se. Se calhar na vacuidade com cabelo. Inexplicável.
O que é dramático na Europa é que a equação que os eleitores se propõem resolver parece ter dois resultados possíveis: dar a vitória a Le Pen e assistir ao Brexit à francesa - um Sortir qualquer coisa - ou dar a vitória a Macron e adiar por um mandato a vitória da Le Pen ou de uma das suas variantes. Mas, se olharmos bem é o mesmo resultado.

joão viegas disse...

Meu caro José Guinote,

O B. Hamon não é necessariamente euro-céptico nem a favor de um problematico Frexit. Em circunstâncias normais - bom, digamos antes, "racionais" - ele até estaria em situação de reunir as forças de esquerda progressistas, até porque abandonou o governo em protesto contra as cedências escandalosas em relação ao cumprimento de um programa politico que, na fase eleitoral, tinha sido apresentado como sendo de esquerda (a finança como inimiga e outras cantigas). Alias, o Hamon até tem à volta dele pessoas que considero com nivel, como o Piketty ou a Dominique Méda.

Mas o que é absolutamnet estarrecedor, é que o Marcon é quem continua à frente nas sondagens. Ou seja, os eleitores franceses atiraram tomates ao Hollande e gritaram todos que não querem mais vê-lo mas, mas na hora de escolher uma alternativa, optam por uma solução completamente idêntica: uma "esquerda" tão palida que se torna perfeitamente impossivel de distinguir das soluções da direita liberal, a não ser talvez na medida em que se propõe distribuir alguns pensos rapidos e pintar o gazoleo de verde...

Isto é que chega a ser desesperante. Ou talvez nem tanto. Se calhar, depois desta farsa, as pessoas com algum juizo vão acabar por realizar que, se calhar, ha uma ou duas coisas basicas a rever nos processos de decisão politica. Se assim fosse, até teria valido a pena. Mas não esta nada garantido.

Abraço

José Guinote disse...

Meu caro João Viegas partilho da tua opinião sobre o Hamon. Vejo do mesmo modo o apoio que ele recebeu de gente como o Picketty. Acho que ele venceu as primárias porque os militantes socialistas querem uma alternativa de esquerda ao centrismo de Hollande e Valls - não sendo a mesma coisa, são semelhantes. Parece, no entanto, que essa vontade não tem depois reflexo na sociedade. Há em França uma situação de certo modo semelhante à que ocorre no Reino Unido em que a adesão a Corbyn é muito mobilizadora, ameaça mudar o Labour, mas depois a sociedade não acompanha essa mudança e continua a votar nos Conservadores. Será que a governação em nome das esquerdas, mas feita a favor dos mercados e das oligarquias, criou uma assim tão profunda desconfiança na esquerda? Se sim, como é que do pé para a mão essas pessoas passam a patrocinar projectos como os que emergem em França? Como é que se altera isto?

separatista-50-50 disse...

Os PNR's (e afins) que se deixem de armar em naïfs... e... ASSUMAM A REALIDADE:
1- as multinacionais possuem uma mentalidade em tudo igual à dos esclavagistas:
i) para os esclavagistas: «é necessário escravos para salvar os investimentos feitos na indústria de construção de caravelas... então... vai-se arranjar escravos»;
ii) para as multinacionais: «é necessário abundância de mão-de-obra servil para salvar os investimentos feitos nesta ou naquela actividade económica... então... vai-se arranjar abundância de mão-de-obra servil».
2- Fantoches das Multinacionais (ex: jornalistas) lá vão fazendo o seu trabalho: políticas dos nacionalistas prejudicam os lucros das multinacionais... logo... há que procurar boicotar as suas mensagens.
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Anexo:
Os separatistas-50-50 [http://separatismo--50--50.blogspot.com/], como é óbvio, não são trumpistas... no entanto, não deixam de reconhecer o grandioso legado de Donald Trump: a liberdade de expressão!
-» Donald Trump enfrentou os psicopatas globalistas (e os fantoches das multinacionais; vulgo jornalistas) - que controlam os media - e salvou a liberdade de expressão!
Antes de Trump, quando se falava em fronteiras/Identidade os psicopatas globalistas - pretendem implementar novos tabus na civilização - vociferavam "fascistas, nazis, etc" até silenciarem as vozes desalinhadas.
Depois de Trump passou a ser possível falar em fronteiras/Identidade com naturalidade.
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P.S.
É necessário um activismo global!
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Mais, HÁ QUE ABRIR OS OLHOS:
-» Leia-se, há que 'esquecer' os partidos políticos! Um exemplo: sabendo que os não-nativos naturalizados estão com uma demografia imparável em relação aos nativos, Marine Le Pen (líder do partido FN) defende a criação dum imposto sobre contratos de trabalhadores estrangeiros!?!?!
Adiante.
Explicando melhor: é óbvio que a luta pela SOBREVIVÊNCIA [ separatismo: http://separatismo--50--50.blogspot.com/ ] duma Identidade não é coisa de partidos políticos (eles que apresentem ideias mais à Direita ou mais à Esquerda)... mas é sim... a mobilização de pessoas sem olhar a partidos políticos:
-» Imagine-se manifestações (pró-Direito à Sobrevivência) na Europa, na América do Norte (Índios nativos), na América do Sul (Índios da Amazónia), na Ásia (Tibetanos), na Austrália (Aborígenes), ETC... manifestações essas envolvendo, lado a lado, participantes dos diversos continentes do planeta... tais manifestações teriam um impacto global muito forte.