O bastonário Miguel Guimarães defende, aliás, que o Governo já devia ter apresentado queixa no Ministério Público contra associações que fazem publicidade contrária às vacinas, não compreendendo que a Direção-geral da Saúde (DGS) albergue pessoas que pertencem a instituições daquelas.Primeiro ponto - eu acho que o movimento anti-vacinas baseia-se em mitos urbanos e em pseudo-estudos que foram há muito desmentidos (nomeadamente no que respeita à teoria de que as vacinas causam autismo, os teóricos da conspiração / críticos da medicina convencional se calhar teriam um ponto mais sólido onde pegar se alegassem que há sobre-diagnóstico de autismo, com crianças que são apenas diferentes a serem rotuladas de "autistas", do que alegando que o aumento de diagnósticos de autismo é provocado pelas vacinas.
“Está a acontecer um fenómeno sobre o qual o Governo nada está a fazer, que é a publicidade que está a ser feita sobre a questão da vacinação por algumas instituições. Não podemos aceitar que, por exemplo, a chamada Sociedade Portuguesa de Homeopatia passe a mensagem para os portugueses de que as vacinas são más. E estou a ser simpático, porque o que dizem sobre vacinas é absolutamente pavoroso”, afirmou à agência Lusa o bastonário dos Médicos. (...)
Miguel Guimarães insurge-se ainda contra o facto de “trabalharem na DGS pessoas que estão ligadas a este tipo de associações” que promovem a não vacinação: O “não é aceitável que no seio da DGS existam pessoas a trabalhar que promovem exatamente o contrário daquilo que a própria DGS promove”.
Mas, mesmo assim, é monstruoso o que a Ordem dos Médicos está a defender - que seja proibido divulgar propaganda anti-vacinas e que os anti-vacinação não possam trabalhar na Direção-Geral de Saúde: nunca ouviram falar em "liberdade de expressão" ou em "ninguém pode ser discriminado no acesso ao emprego pelas suas opiniões"?
Poderá argumentar-se que isto é parecido ao processo contra o Manuel Pinto Coelho por causa de qualquer coisa que ele disse sobre doenças do coração, ou ao que a Ordem dos Psicólogos falou em levantar aquela psiquiatra homofóbica, mas é diferente, acho - nesses casos (sobretudo no segundo) as opiniões que eles expressam fazem quase intrinsecamente parte da sua atividade: uma psicóloga que diga a um paciente homossexual que ele tem que sofrer por ser homossexual e que deve deixar de o ser não está simplesmente a expressar uma opinião, está a aplicar-lhe ums dada "terapia" (o caso do Manuel Pinto Coelho é um pouco diferente, já que penso que ele nem trabalha em recomendações alimentares, mas quando um médico dá uma entrevista sobre questões de saúde, há sempre uma tendência de quem lê a entrevista para a ler como sendo uma opinião de um médico, e não como a opinião pessoal de alguém que até é médico). Mas no caso de pessoas que trabalham na Direção-Geral de Saúde, desde que no seu trabalho das 9 às 5 executem as diretizes da DGS, o que é que interessa a que associações pertencem ou deixem de pertencer (uma analogia - um defensor da legalização das drogas não pode trabalhar na Polícia Judiciária?).
1 comentários:
O problema não é haver pessoas com opiniões contrárias às políticas da DGS a trabalharem na DGS, isso é legitimo desde que cumpram as políticas da DGS, mas quem garante que o fazem se ao mesmo tempo pertencem a uma associação que combate políticas da DGS. Isto representa um conflito de interesses e parece-me que isso é perigoso. (sinceramente, esta mania de transformar todos os debates numa questão de liberdade de expressão...)
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