02/02/12

Campanhas de trocas

Uma cadeia de estaminés que vende livros e electrodomésticos incendiou a opinião bem pensante da Pátria. Para tal, bastou sugerir aos seus clientes que trocassem um dos intocáveis tesouros da nossa Cultura maiúscula por um escrito a pingar sangue made in Hollywood. Isto à boleia de um trocadilho sem grande pilhéria. Enfim. A iniciativa, ao envolver a AMI, até tinha méritos; pena o tiro no pé. 
Também poderiam ter procurado outra forma divertida de sugerir a troca de livros sem adubar a ideia – prevalecente na malta jovem – de que “Os Maias” são um mono a descartar à primeira oportunidade, velharia para trocar na Feira da Ladra mal surja na mira uma cena mais gira e modernaça. 
A obra já faz figura de monstro a predar a mente tenra de muitos estudantes; dispensavam-se ligações a vampiros, lobisomens e demais fauna do outro mundo. Por mim, acho bem isto das trocas. Para que precisa uma nação de camareiros das belas-letras? Vá-se o Eça. Para receber turistas de espinha bem vergada, que falta faz o orgulho ilustrado? Troquemos já o Pessoa, a Paula Rego, o Emmanuel Nunes. Acolhamos ainda mais fundo nas nossas alminhas as Shakiras, as Meyers, etc. Pensemos ainda menos, que talvez sejamos mais felizes.
 Ou a ideia oposta: troquemos de governo, por um que dê provas de saber o que faz. De povo, por um que não suporte de ser cavalgado. De alma, por uma limpa de fatalismo e cobardia. Parece-me bom, este plano. Mas, citando o Sá Carneiro, seria grande estopada. Muita areia para a nossa furgoneta.

1 comentários:

samuel disse...

Se a coisa é para a AMI... poderiam sugerir a troca do António Nobre pelo Fernando... :-)