06/02/12

O Acordo Ortográfico e o CCB

Pelo que percebi, Vasco Graça Moura decidiu que não vai aplicar o novo AO no CCB. Muita gente tem dito que cada um é livre de escrever como quer na sua vida pessoal, mas que, no seu trabalho numa instituição pública, devem respeitar a ortografia "oficial".

Eu até nem vou por aí - por mim VGM até pode escrever na ortografia clássica nos ofícios e circulares que escrever como dirigente do CCB. O meu ponto é outro: quase que aposto que 99% dos textos produzidos no CCB não são escritos por VGM (se calhar até os ofícios e circulares são escritos nos serviços administrativos e ele assina). Ora, se um qualquer trabalhador do CCB escrever um texto na nova ortografia*, o que é que VGM vai fazer? Obrigá-lo a escrever o texto de novo? Levantar-lhe um processo disciplinar (por estar a cumprir um tratado assinado e ratificado por Portugal)?

É um pouco como certo comentários que se vêm em blogs, foruns, etc., com pessoas dizendo-se professores e dizendo que vão continuar a ensinar a ortografia antiga - e se um aluno responder no teste com a nova ortografia? Vão marcar errado?

*admito que o exemplo possa ser hipotético e que toda a gente prefira escrever na velha ortografia

13 comentários:

Anónimo disse...

Não deixa de ser curioso que neste assunto do acordo ortográfico se consigam unir os mais reacionários nacionalistas, para não dizer fascistas, e uns avançados intelectuais na defesa duma "pureza"linguística e de uns quantos "c"que são o maior e o mais decisivo problema de Portugal...
Quanto ao omnipresente Vasco da Graça Moura é o típico arrogante e prepotente que está acima de tudo e de todos. Mas que seja aplaudido por gente do outro lado isso é que já me dá vómitos.

Ana Cristina Leonardo disse...

A tua questão não se põe. Como ninguém sabe escrever com as novas regras (até os que as inventaram têm de pensar muito antes de responder...) a não ser com recurso a um corrector ortográfico, basta desligar o corrector ortográfico e o caso fica resolvido. Foi o que fizeram lá no CCB e, já agora, em Serralves também é assim.

Ana Cristina Leonardo disse...

Acrescento: mas mesmo com corrector, e dado que algumas palavras podem ser escritas em 3 ou 4 versões, a coisa fica complicada, deduzo.

Anónimo disse...

questões pertinentes. de facto, não é problemático como se escreve mas sim a forma como julgamos (bem ou mal escrito) aquilo que foi escrito por outros...

Ana Cristina Leonardo disse...

Não deixa de ser curioso ver a "esquerda" a defender o AO "cavaquista"

Anónimo disse...

offtopic
http://www.occupiedlondon.org/blog/2012/02/06/hospital-goes-under-workers-control/

Anónimo disse...

O Bruno Sena Martins no Arrastão coloca muito bem a raíz dos problemas políticos deste festival de besteira. O Vasco Graça Moura, o único verdadeiro intelectual do PSD, tinha que provocar algum alarido para se demarcar da inacreditável maldade e mediocridade dos seus proponentes.Niet

Anónimo disse...

Independentemente de se estar ou não a favor, qualquer pessoa com dois dedos de testa consegue escrever com as novas regras. Eu tive de o fazer por motivos profissionais e nem duas semanas demorei a escrever tudo como deve ser, sem corrector nenhum. Inclusivé escrevo com as novas regras no local de trabalho e com a velhas "cá fora", como se vê aqui. Não percebo com a Ana Cristina Leonardo diz que "ninguém sabe escrever com as novas regras"...
Pedro

Joana Lopes disse...

Eu, que nunca liguei muito ao AO, tornei-me anti-AO com tudo o que li a favor do dito cujo, depois desta decisão do VGM.
Irra!... É que me parece mesmo um disparate, cheio de excepções que só dificultam em vez de facilitarem! Para além de revelar, na pressa da entrada em vigor, puro servilismo em relação ao Brasil, quando nem sequer Angola e Moçambique assinaram.

joão viegas disse...

Ola,

Ha duas questões interessantes neste episodio, pelo menos quanto a mim.

A primeira, a dos méritos do NAO, até acho relativamente menor. Remeto nesse aspecto para as discussões infindaveis nos outros blogues, que se podem resumir aos dois topicos seguintes : 1) Discordo da Ana Cristina Leonardo nesta matéria 2) tenho razão.

Ja a segunda parece-me bastante mais importante, embora ninguém aparente ligar-lhe por ai além. O CCB é, pelos vistos, uma fundação privada de utilidade publica. No entanto, quando vejo as suas atribuições, percebo que ele tem basicamente por incumbência pôr em pratica as decisões do ministro da cultura (ou seja a politica do governo eleito por nos). Como tal, juglo que a sua actividade devia ser equadrada por normas de direito publico, sob controlo dos tribunais administrativos. A não ser assim, que garantias temos que as regras que devem reger um serviço publico estão a ser respeitadas ?

Este segundo problema é o do enquadramento do serviço publico. Um dos mais complexos e dos mais importantes debatidos nas instâncias europeias, pelo menos quanto a mim.

Boas

Ana Cristina Leonardo disse...

Pedro, sugiro-lhe, sem qq ponta de cinismo, que comece a dar umas aulas. As duplas grafias, a terceira hipótese (que não existia e passou a existir), as caixas altas e baixas, as regras do hífen, as incongruencias, olhe que até os próprios andam à nora. Tanto assim é, que se continua à espera do tal lexico uniformizado. É que isto não basta acabar com as consoantes mudas e toca a andar...

João Viegas, o AO tem até 2015 para entrar em vigor (e se deus não for analfabeto, até pode ser que caia entretanto). Até lá, ninguém obriga o CCB a cumpri-lo. Só isso. Ponto final.
Quanto a tribunais, complexidades administrativas europeias e etc., ficam por sua conta.

Anónimo disse...

Pois, Ana Cristina, eu precisamente dou aulas! Digo-lhe que considero o acordo estúpido e não concordo com ele, mas que sinceramente não custa quase nada escrever na nova grafia, é aliás supreeendemente fácil, e mais ainda para os miúdos, que aprendem tudo num instante.
Pedro

Niet disse...

O AO,o golpe de VG Moura e o MPLA com a visão da United Colors of Benetton- Um texto do MPLA- facção Jornal de Angola-veio lançar mais labaredas sobre a função política da linguagem escrita e da sua constituição como forma e fonte do poder. VG Moura- com o seu complexo de Super Jorge de Sena- veio declarar nulo o novo A.Ortográfico nas funções da narrativa administrativa da instituição para a qual tinha sido nomeado,o CC Belém. Era uma sua velha fixação de uma longa guerra deslizante de há anos a esta parte. Com garra e maestria, VG Moura agarrou na ocasião e despachou solene a sua revogação técnica e política. O MPLA- facção Jornal de Angola- onde há editorialistas de dupla nacionalidade, luso-angolanos, veio afastar a " ameaça " palpável do português abrasileirado e optou, com contas,delirios e metáforas, pela defesa extrema do velho português dos Prontuários de Redacção jornalísticos.O pobre desconfia das grandes esmolas: o MPLA não quer ver nem enxergar os homens de Dilma ou Obama a clamarem por reformas e democracia pluralista a sério para Angola. Os negócios e legendários e inconfessáveis sortilégios da burocracia militante que gere o MPLA, ainda hoje, " escolheu " a opção do português "velho " por maquiavélico pendor de se servir do elo mais fraco dos PALOP,Portugal, para contemporizar o diktat e o repto inescapáveis da democracia pluralista, que tarda a ser implantada em Angola. Flores de retórica inverosimeis- o Jornal de Angola andou em campanha nos últimos anos contra Mário Soares, o semanário Expresso e tudo o que de perto ou de longe conteste a monolitica clique da direcção mplista...Agora, por reflexo oportunista calculado ao milimetro, virou o bico ao prego para estimular e reconfortar as suas clientelas a continuarem a impôr a lei da selva e do salve-se quem puder. Salut! Niet