No momento em que é possível que o governo alemão, secundado por alguns outros, esteja a encarar seriamente a medida de forçar a Grécia a abandonar o euro e o seu lugar na UE, devemos ver que uma tal saída da Grécia, de Portugal ou de outro país não porá fim à sua dependência da grande oligarquia dirigente europeia, encabeçada pelo governo alemão. A menos que se pense que a alternativa é a criação de relações preferenciais com a China, ou uma plena exposição, radicalmente desprotegida, à globalização hegemónica, ou não sei que fantasias do tipo "cooperação com Angola", a dependência frente a uma Europa "reichizada" manter-se-á, e provavelmente agravada, após a saída do euro. Provavelmente agravada, porque, no novo quadro, essa dependência deixará de ser temperada pela participação na UE dos países "corridos".
É por isso que, embora subscrevendo em grande parte, o que JM Correia Pinto escreve no seu post "Infelizmente não somos a Grécia", entendo que vale a pena retomar aqui as observações que deixei na respectiva caixa de comentários:
Caro JM Correia Pinto
substancialmente de acordo com a maior parte das coisas que diz, deixe-me, no entanto, voltar a levantar a recorrente questão da suficiência ou insuficiência de uma resistência de regresso ao quadro nacional.
Pode ser o governo alemão quem lidera politicamente o processo, mas a ofensiva contra os direitos e liberdades, a aposta na precarização e no crescimento das desigualdades, etc., etc., é de toda a grande oligarquia europeia. E o problema é que a esta será bastante mais fácil adoptar a "táctica do salame" e enfrentar, uma a uma, uma de cada vez, as resistências que se isolem no seu quadro nacional, do que neutralizar a emergência de uma rede europeia democrática, que contra-ataque simultânea e continuadamente em várias frentes. Isto não quer dizer, sem dúvida, que nós aqui, os gregos ali, os outros acolá, nos diversos países e regiões, não ajam também por conta própria. Quer dizer, sim, que, enquanto, no conjunto da zona euro e da UE, a cada nova medida antipopular da grande oligarquia europeia, não começar a opor-se não só a luta dos seus destinatários nacionais imediatos, mas a de movimentos de cidadãos em toda a Europa, que se insurjam em Portugal ou em França, em Espanha ou na Bélgica, na Irlanda ou na própria Alemanha, contra o que se passa, por exemplo, na Grécia — a grande oligarquia europeia, com o governo do Reich alemão no comando, explorará as divisões nacionais para reinar. É o que tem feito e o que vai continuar a fazer, se a deixarem. E não vejo nada melhor, nem como defesa nem como contra-ataque, do que a afirmação instituinte de uma cidadania europeia activa e solidária, capaz de impor as rupturas institucionais profundas que V. tão bem tem mostrado serem condições de uma democratização efectiva.
Abraço
16/02/12
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Ola,
Concordo, como é obvio.
"Isto não quer dizer, sem dúvida, que nós aqui, os gregos ali, os outros acolá, nos diversos países e regiões, não ajam também por conta própria"...
Ora bem, eu diria que perceber que não existe nenhuma incompatibilidade de principio nesta matéria, antes pelo contrario, devia ser a raiz, a base, o ponto de partida para qualquer discussão entre pessoas de esquerda !
A reacção consegue as vantagens que tem conseguido, como se descreve no post, unicamente porque nos consegue fazer vacilar neste ponto.
Mas que tem conseguido, la isso parece-me inegavel.
Tão inegavel como inaceitavel alias...
Boas
Vamos lá a tentar perceber, mas sem ideias objectivas e detalhadas- por isso tentei há tempos levantar o debate sobre a convulsão do proto Liberalismo europeu(1848/1871)- nada se conseguirá adiantar de concreto.Há a possibilidade concreta e real de se criar um movimento alternativo europeu à crise estrutural do sistema liderado por uma oligarquia europeia burocrática fragmentada? Em França,hoje,a ultra-esquerda é quase invisível, os movimentos trotskistas estão num impasse brutal- mesmo se adoptaram as teses bolchevistas puras de 1917-e os Verdes, esse mainstream anarco-estético-filosófico deleuzo-marcusiano, só conseguiu tentar pôr de pé uma ideia paradoxal de Cooperativa...política! E a crise é avassaladora produzindo um desemprego de massa inaudito e estrutural...Pannekoek tem muita razão ao nos advertir: " O nacionalismo é, sem dúvida, o sentimento mais potente que o capitalismo pode despertar pqrq se elevar contra a Revolução ". Mesmo no caso grego, a geopolítica da NATO, inspirada e caucionada quase a 100% pelos USA, não deixará colocar sem guerra a questão da dualidade do poder de Estado. Não percamos de vista as " lições " de Castoriadis: " É verdade que, na natureza das sociedades políticas mdernas,as populações não se exprimem senão activamente pela explosão: 1789,1830,1848,1871,1936,1968. E depois, o resto do tempo, abandona-se tudo aqueles que detém o poder: as classes dominantes, o Estado, os aparelhos burocráticos, aqueles que gerem pelos outros...".Salut! Niet
Só acção comum internacionalista dos trabalhadores, desempregados e todos e dos descontentes na Europa pode dar condições de vitória às actuais lutas defensivas e, principalmente, às futuras lutas anticapitalistas ofensivas. Isso deveríamos saber desde a AIT no século XIX, no entanto os actuais sindicatos e partidos de esquerda só conseguem articular lutas ao nível nacional...Quanto aos "outros", que vão da ortodoxia leninista aos libertários, para já são ainda uma ultra-minoria sem influência social.
Caro Libertário: Ficam-lhe bem esses escrúpulos e preocupações ético-políticas. Mas a marcha da libertação histórica e social não cessa de nos espantar e empertigar, sem que muitas vezes o consigamos decifrar ou acompanhar..." Não é o amponês venerador do seu senhor quem participará nos movimentos que antecederam e se seguiram à noite de 4 de Agosto de 1789 em Paris. Ao mesmo tempo que há um movimento colectivo, os indivíduos transformam-se e, ao mesmo tempo que os indivíduos se transformam, emerge um movimento colectivo. Não faz sentido perguntar qual das duas coisas precede a outra: pressupõem-se uma à outra, dependem uma da outra e são criadas ao mesmo tempo. É como a galinha e o ovo, ou, melhor, como a emergência da primeira célula viva: o funcionamento do ADN celular pressupõe a existência dos produtos desse funcionamento. É como um anel cujas partes se conjugam, e a nova criação não pode ser posta senão na totalidade da sua complexidade. É verdade que as pessoas hoje não acreditam na possibilidade de uma sociedade auto-governada, e isso faz com que uma sociedade como essa seja, hoje,impossivel.Não acreditam porque não querem acreditar, não querem acreditar nisso porque não acreditam. Mas se um dia passarem a querer, acreditarão e poderão ", refere Castoriadis. Por isso, contrariamente ao que refere o Libertário, existe hoje um largo espaço político- na Europa, nos EUA e México onde a crítica ao modelo centenário de construção do socialismo, proposto por Marx-Engels e Lénine, se reforça e amplia, dando esperança e fulgor à capacidade de (auto)transformação da sociedade e da vida. Salut! Niet
Nb: Gralha- linha 6:" Não é o camponês ... Niet
Enviar um comentário