09/02/12

Uma última saída: exportar as reivindicações e as lutas

Agora que as metas do défice e afins, as panaceias como o aumento das exportações à custa do embaratecimento da mão-de-obra, a destruição dos direitos sociais, a entronização fiscal das desigualdades e da hierarquia, a prosperidade dos cantantes amanhãs pós-crise,  tudo isso, indo por água abaixo, nos está a fazer tocar o fundo, há ainda uma saída, que talvez o seja e cujo ensaio mal não nos poderia fazer — antes pelo contrário.

Tratar-se-ia de exportarmos politicamente para a Europa a reivindicação de uma efectiva democratização da economia e do seu governo (nos dois sentidos do "seu"), juntamente com o melhor que formos capazes de produzir como exemplo da reconquista da iniciativa política e da cidadania activa das mulheres e homens comuns que somos. Para construirmos, enfim, a Europa, e para começarmos a transformar o mundo em federação de cidades livres e iguais, cada uma com a sua língua e paisagens singulares, mas partilhando a abertura em cada uma delas da praça da palavra como instância de deliberação e decisão do que a todos diz respeito, a fim de melhor garantir a liberdade de cada um.

Talvez seja o que os gregos se preparam para começar a fazer — na linha do que escreve o José M. Castro Caldas, quase no final de mais um post notável: A maioria dos gregos, a acreditar nas sondagens, parece inclinar-se para um “não aos sacrifícios sem sentido”. O “não” neste momento significaria uma moratória unilateral ao serviço da dívida, um Estado a funcionar nos estreitos limites das receitas fiscais, o pouco dinheiro que existe ao serviço das necessidades básicas do povo grego, não dos credores. Isto não implica uma declaração de saída unilateral da Grécia da zona euro ou da UE. À UE caberia descobrir o que fazer nesta eventualidade.

3 comentários:

Anónimo disse...

Mas então, quando nos começamos a organizar para para fazer isso? - a coisa tem que começar por alguns.

abraço
nelson anjos

Miguel Serras Pereira disse...

Caro camarada Nelson,
o meu mail é miguelserraspereira@sapo.pt

Abraço

miguel

Anónimo disse...

Caro Camarada Miguel

Com certeza que um dia destes passarei pela tua rua e baterei à tua porta. Gostaria contudo, antes, deixar claro que continuo a privilegiar a palavra na praça pública, em detrimento da palavra clandestina(?), ou mesmo privada(?), enquanto isso for possível e muito embora o ruído existente, como primeira arma de combate pelo resgate do território de cidadania por parte dos cidadãos organizados, que se vai mantendo usurpado pela casta política.

O ruído – inimigo histórico da engenharia das telecomunicações – tem sido possível levá-lo de vencida através da utilização de várias técnicas. Cito algumas a título de exemplo: diversidade, redundância, técnicas de modulação, códigos adaptados ao meio físico, entre outras.

Quando falo da necessidade de organizar quero dizer que, sem cercear contributos, criatividade e liberdade, através de um qualquer expediente de disciplina administrativa, seja qual for a forma que revista – partido, sindicato ou outra – me parece cada vez mais necessário dar alguma forma de organização às diversas vozes que se vão fazendo ouvir, e onde é possível identificar cumplicidades, quanto ao essencial, no sentido de as tornar mais eficientes, ou seja capazes de produzir consequências: a rejeição generalizada pelos cidadãos, da casta política, e a recusa em se aceitarem representados por ela. Não principalmente porque seja ineficiente e cara – o que também é verdade – , incompetente e muitas vezes corrupta – o que também é verdade – ou instrumento de poder (quando governo e nao só), numa sociedade estruturada em classes, predominantemente ao serviço da classe dominante – o que também é verdade. Mas principalmente porque constitui o agente principal que dá a cara e a forma a este conto do vigário, alcunhado – a despropósito – de “democracia”; instrumento primeiro, isso sim, de exclusão dos cidadãos, enquanto tal. Mas também, pura e simplesmente, porque o território da cidadania – entendido como o campo da política – pertence – no sentido de que responsabiliza – o universo de cidadãos organizados.

Acresce ainda que, sabendo-se que não é quando chove que se repara o telhado da casa, mas antes, e dado que não é difícil, pelos sinais, prever os tempos que se aproximam, deverá também, dentro do que é previsível, ser acautelado o que convém.

E agora tenho que ir semear umas batatas de sequeiro, antes que chova.

Um abraço e até breve.
nelson anjos