16/04/13

O Passa Palavra desmonta as imposturas e sofismas da "independência nacional"

Aqui ficam alguns excertos do texto intitulado Um Balão no Ar que o colectivo do Passa Palavra consagra à desmontagem — mas, se se preferir, pode ler-se também "desconstrução" — das imposturas e sofismas da "independência nacional" enquanto aposta no "capitalismo de Estado". Dito isto, seria interessante que o Passa Palavra prolongasse ou completasse a reflexão que nos propõe analisando como outras vias, diferentes das da aposta no capitalismo de Estado nacional, são adoptadas por outras fracções da oligarquia dos gestores, por um lado, e, por outro, como, segundo creio, a interpretação nacionalista se tem desenvolvido, não só como reacção das periferias, mas também, em grande medida, em núcleos muito importantes de instâncias centrais no governo da UE.

(…) as companhias transnacionais deixaram de ser uma extensão do poder dos seus países originários e converteram-se em centros de soberania próprios, cujos limites espaciais não se confundem com as fronteiras de nenhum Estado nem são fixos como elas. Isto explica que a recente crise tivesse repercussões diferentes sobre as companhias transnacionais e sobre as economias nacionais. «Apesar dos seus efeitos sobre os fluxos do investimento externo directo, a crise global não interrompeu a crescente internacionalização da produção», afirmou o World Investment Report 2010. «Em 2008 e 2009 a diminuição das vendas e do valor acrescentado nas filiais estrangeiras das companhias transnacionais foi menor do que a contracção da economia mundial. Em consequência, a participação das filiais estrangeiras no Produto Interno Bruto global atingiu o máximo histórico de 11%».
(…)
Em visita à China, o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa, apelou para o aumento dos investimentos chineses em Portugal, declarando que «Qualquer investimento estrangeiro — chinês, americano ou canadiano — é sempre bem-vindo, no quadro do respeito pelo nosso interesse nacional e da defesa dos nossos sectores estratégicos e dos recursos naturais» (leia aqui). A ideia de que investimentos directos estrangeiros possam respeitar soberanias, quando a transnacionalização do capital se opera precisamente diluindo as soberanias estatais, só poderia nascer no cérebro de um nacionalista, perdão, de um patriota. E será que a compra pela transnacional chinesa Three Gorges Corporation da parte que cabia ao Estado português na Energias de Portugal (EDP) corresponde ao que o secretário-geral do PCP entende como «defesa dos nossos sectores estratégicos e dos recursos naturais»? Mas, apesar das palavras diplomáticas de circunstância, a mensagem foi clara e todos a entenderam. O PCP encara com agrado a saída da zona euro, numas circunstâncias em que, segundo a AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal], entre Janeiro e Novembro de 2012 Portugal recebeu da União Europeia 91% dos investimentos directos entrados no país; e o PCP pensa que a China poderá substituir essa presença europeia.
(…)

Temos demonstrado em repetidos artigos que o abandono da zona euro trará consequências económicas ainda mais gravosas do que aquelas que hoje os trabalhadores, tanto portugueses como imigrantes, sofrem neste país. E temos afirmado que, no caso de Portugal sair da zona euro, esse agravamento da situação económica exigirá obrigatoriamente o reforço de medidas repressivas contra a luta dos trabalhadores, o que requer o fortalecimento do Estado.
Por outro lado, o abandono da zona euro provocaria de imediato um colapso nas relações exteriores, tanto comerciais como financeiras, o que teria como consequência o isolacionismo económico. Ora, todos os exemplos históricos têm mostrado, sem uma única excepção, que o isolacionismo económico corresponde ao reforço da intervenção do Estado na economia.
Ambas estas vias convergem no capitalismo de Estado. Por mais que se envolvam no fantasma de Dom Afonso Henriques ou em quaisquer outros fantasmas da sua preferência, no da Maria da Fonte por exemplo, os nacionalistas e patriotas portugueses estão, muito prosaicamente, a candidatar-se a um capitalismo de Estado.



21 comentários:

Pedro Lopes disse...

Claro. Há que tentar manter afastado o fantasma do Nacionalismo.

Se for Nacionalismo Americano é bonito e inspirador. Se for Nacionalismo Chinês é admirável a sua pujança. Se for Nacionalismo Africano ou sul-americano é igualmente bonito.

Se for Nacionalismo na Europa ai que cai o Carmo e a trindade.

Portanto a receita que o autor do artigo defende é mais do Mesmo.
Continuar a soldo do acaso, do imprevisto das patifarias da finança internacional. Da ausência de proteccionismo que destrói o pequeno e médio empresário que é o que gera mais emprego.

Continuem a bater no Nacionalismo. Foi ele que nos trouxe esta vaga de miséria?
Há e já agora não chamem aos comunistas nacionalistas. São falsos patriotas. Os Verdadeiros Nacionalistas não querem mistura com os da foice e o martelo, nem com os do bloco.

Yoseph disse...

Sim: "trará consequências económicas ainda mais gravosas do que aquelas que hoje os trabalhadores, tanto portugueses como imigrantes, sofrem neste país."

Do que hoje!! E amanha?
É que posto assim parece que a situação dos trabalhadores continuando na zona euro, está a ser e irá ser, melhorada.. Mas não! o futuro para os trabalhadores será negro na zona euro, mas saindo pelo menos vislumbra-se luz ao fundo do túnel, abrem-se caminhos que se encontram hoje fechados.

"sem uma única excepção, que o isolacionismo económico corresponde ao reforço da intervenção do Estado na economia.
Ambas estas vias convergem no capitalismo de Estado."

Realmente os adeptos do capitalismo Laissez-faire devem ficar preocupados.. Mas quem á esquerda quer a saída do euro, também quer que o estado assuma o carácter de uma classe diferente. E parece-me muito bem que seja o estado e não os mercados a controlar a economia.

"Na medida em que o proletariado tem primeiro de conquistar para si a dominação política, de se elevar a classe nacional, de se constituir a si próprio como nação, ele próprio é ainda nacional, mas de modo nenhum no sentido da burguesia.
(...)
À medida que é suprimida a exploração de um indivíduo por outro, é suprimida a exploração de uma nação por outra. "
K. M, F. E. 1848

Nesta união europeia que os capitalistas e os reformistas tanto gostam, á medida que é incrementada a exploração de um indivíduo por outro, é incrementada a exploração de uma nação por outra.

João Valente Aguiar disse...

Yoseph,

como é que uma nação explora outra? Que me diga que as empresas (situadas em Portugal, na China, na Alemanha, etc.) explorem trabalhadores isso parece-me óbvio. Mas a nação é a entidade cultural que recobre um Estado (ou uma aspiração a um Estado). Ora, como pode uma entidade cultural e ideológica actuar no espaço económico enquanto agente de extorsão da mais-valia?

Claro que você pode dizer que quem explora é o Estado e não a nação. Mas aí em que o Estado alemão é menos ou mais explorador do que o português? Em termos de luta anticapitalista, e em termos da posição de um indivíduo nas relações de trabalho, dá no mesmo ser-se explorado pela Bayer ou pela Sonae. Ora, em que é que isso difere no que respeita aos estados nacionais? Com o neoliberalismo e com as "reformas" nos sistemas de saúde, educação, segurança social, etc. os estados nacionais funcionam como empresas. Com nuances mas no fundamental eu vejo os estados nacionais como uma empresa a que as classes dominantes pagam um serviço (por via de impostos, etc.) para que as ajude a articular as condições gerais de produção. Hoje instâncias supranacionais têm substituído os estados nacionais mas o princípio de funcionamento é muito semelhante. Aliás, quando você diz que lhe "parece muito bem que seja o estado e não os mercados a controlar a economia", está a esquecer que não existe essa separação/cisão e, por outro lado, achar que os capitalistas podem recorrer aos estados como instância central de controlo da economia é defender uma economia estatista e anacrónica. Anacrónica porque as economias capitalistas centradas no Estado nunca conseguiram superar as economias capitalistas privadas em termos de produtividade, crescimento económico e expansão do mercado de bens de consumo. E estatista significa classista. Ou as pessoas acham que as leis do valor desaparecem só porque está um governo "comunista" ou "socialista" no poder? Quem e como produz a riqueza social e quem se apropria dela, nada desta questão absolutamente central se altera num capitalismo de Estado.

Espantoso como o núcleo fundamental e mais importante do Marx - a exploração económica - é totalmente desprezada pela maioria da esquerda aquando da análise do capitalismo e ainda mais esquecida e ignorada quando aplicada ao estudo de sociedades ditas socialistas...

alf disse...

E a Dinamarca?

Todos os países fora do euro parecem estar a crescer e os do euro a decrescer e estar no euro é que é bom?

O caso da Grécia é exemplar: país que tenha fábricas alemãs tem de ter um custo de mão-de-obra não superior a 2 euros/hora; se ultrapassar, lixa-se.

Na China, que eu saiba, não há uma fábrica alemã; qualquer empresa estrangeira que lá queira instalar-se tem de ter 50% de capital chínês e comprometer-se com a transferência de know how e tem um prazo de saída da China. É o que acontece com a Volkswagen, que está lá com 50% de capital chinês e prazo até 2030.

O mundo funciona com base em coisas muito pragmáticas.

Niet disse...

As receitas de Rocard, o social-democrata mais célebre do Mundo na actualidade,que publicou mais um livro-farol- " Se a Esquerda soubesse ". Ora, fresquinhas e saltitantes, as suas ideias-força para vencer a crise económica e financeira que fustiga a U.Europeia implicam: 1) " É preciso organizar uma bancarrota colectiva negociada e moderada para uma significativa parte da divida soberana europeia( no conjunto dos Estados afectados), que se situe entre 50 e 60 por cento do total ";2)"Os Estados não podem nem devem ser submetidos às mesmas regras que abordam as falências das empresas privadas ";3)" Ninguém se pode armar em senhor da situação: Os terapeutas competentes não existem para este caso, porque é o logiciel do capitalismo que está falseado. Mas sublinho, no entanto,que existem cérebros económicos novos que despertam nos USA"; 4)" Porque não vai existir retoma económica na Europa nos próximos anos, e porque a própria Alemanha entrou já em recessão há 4 meses. Nesse novo contexto,isso explica por que Merkel se decidiu enfim a salvar a Grécia e, portanto, o Euro ". Salut! Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Muito curioso, Niet, o excerto do Rocard. Talvez valha a pena citar a "solução" defendida por outro social-democrata com pesadas responsabilidades passadas no PSOE, mas que hoje se aventura consideravelmente para além da linha e posições oficiais do seu partido. Alfonso Guerra, com efeito, advoga o seguinte:

- Alfonso Guerra, considera que la única manera de "obligar a los empresarios a crear empleo" es implantar una semana laboral de 32 horas, repartidas en cuatro días.

"Este es un camino que hoy se ve muy difícil, pero que se recorrerá inexorablemente y que permitirá reconstruir una vida familiar y privada que hoy es demasiado complicada", aseguró Guerra durante su intervención en la presentación del libro Los retos de Europa, publicado por la Fundación Sistema, que tuvo lugar en el Congreso.

Para el veterano diputado socialista, hay que avanzar hacia un nuevo "reparto del trabajo" que implicará a su vez "un nuevo reparto de los ingresos económicos". Esa "revolución" laboral debe emprenderse, desde su punto de vista, "sin prejuicios" y ha de pasar por esa semana de cuatro días laborables que recomiendan los expertos en la materia.

Según Guerra, hay que poner fin a esa "espiral absurda" que se crea cuando un joven no encuentra un empleo estable hasta los 30, los mayores de 55 son despedidos y sustituidos por trabajadores "más jóvenes con menor salario" y, a la vez, se exige más tiempo de cotización para acceder a una pensión.

Guerra está convencido de se puede salir de la crisis, incluso de que se puede hacer "rápido", pero todo depende de la "voluntad" que se tenga de lograrlo. Como ejemplo de que esto es posible glosó la política económica puesta en marcha tras la Gran Depresión por Franklin D. Roosevelt, bautizada como de New Deal, que incluyó entre otras "reformas radicales" la subida de impuestos a las rentas más altas. -- (http://www.publico.es/453916/guerra-propone-una-semana-laboral-de-cuatro-dias-para-crear-empleo )

msp

Niet disse...

Oh. MS.Pereira: Alfonso Guerra sintoniza-se com o discurso anti-austeritário do antigo primeiro-ministro socialista francês,nomeadamente com a " solução" do incremento das 35/32 horas semanais de horário laboral para combate ao flagelo do desemprego. O Rocard é intimo de Helmut Schmidt e Felipe Gonzalez,o ex-chanceler SPD alemão por sua vez priva com Giscard, que é baba-e-ranho com Prodi e o inefável liberal belga e ex-Pm, Guy Verhofstad,este último parceiro ciclico do " invisivel " dissidente " verde " Cohn-Bendit... Depois, há as redes de influência e cumplicidade politicas e culturais criadas à volta do Mundo por Perez de Cuellar e Kofi Anann , os antigos e saudosos lideres da ONU. A que se acrescenta a nata dos circulos económicos e cientificos universitários USA, UK,franceses e Escandinavos. É muita fruta, meu caro, e reformista a valer, tudo em prol das élites mundiais tão incensadas há já longos anos pelo " sherpa " Jacques Attali. Rocard andava muito pessimista quanto ao futuro da U.Europeia...; mas, com a eleição de Hollande sente-se uma vontade de ajudar no combate contra o terror da austeridade,lançando pontes com Stieglitz e Krugman, e apelando,subrepticiamente, a uma enérgica e decisiva intervenção da administração Obama para destruir o pesadelo da ortodoxia renano-monetarista da direita alemã. Salut! Niet

Anónimo disse...

Os federal-fascistas aqui do Via acham que os Estados nacionais devem ser diluídos...num mega-Estado europeu, ou seja, apontando precisamente para o reforço do Estado, da burocracia, da alienação do povo em relação aos centros de decisão.

Os federal-fascistas querem uma tutela de bruxelas sobre Portugal, acham que assim é que se progride. Podem ter uma amostra do federal-fascismo com a experiência da Troika - pessoal que ninguém elegeu a interferir constantemente na vida dos povos.


João.

João Valente Aguiar disse...

O comentador João. pautava as suas intervenções por um desconhecimento profundo mas expresso de um modo educado. Entretanto, o comentador João. pauta-se pelo desconhecimento profundo, pelo insulto e pelo querer atribuir teses que vários dos membros do Vias de Facto não compartilham.

Não sei se é má-fé ou se realmente é um aspecto derivado do desconhecimento total dos assuntos com que o comentador João. nos tem brindado. Mas considerar que alguns dos membros deste blog defendem um super-estado europeu só pode constituir um caso do que Freud um dia chamou de projecção. Então não é que o comentador João. atribui a sua visão desse hiper-Estado burocrático e repressor que era a URSS aos que são totalmente opostos a qualquer tipo de evolução da sociedade nesse sentido estatista e capitalista? O comentador que nos acusa de federal-fascismo talvez devesse começar por reflectir sobre o facto de a lógica que atribui aos outros ser a lógica que anima a sua intervenção política.

Depois de perceber isto talvez valha a pena debater. Até lá será sempre mais e mais do mesmo, numa espiral descendente de não-argumentação da parte do comentador João.

Anónimo disse...

O João Valente Aguiar não me impressionou com o seu chuto para canto. Você pode dizer o que quiser, mas palavras não enganam o simples facto de uma Europa Federal, com uma moeda única, implicar um mega-Estado.

João.

Miguel Serras Pereira disse...

João,
se V. acha que o Vias é um blogue fascista, não compreendo bem o que anda a fazer por estas caixas de comentários.
O JVA já lhe respondeu no essencial. Mas, claro, um mega-Estado é qualquer coisa que se situa nos antípodas da democratização radical que por aqui, de uma maneira ou de outra, posso dizer que todos defendemos. E, por outro lado, o que define um Estado concentracionário e/ou totalitário - ou como queira chamar-lhe - não é tanto a sua extensão territorial como o exercício do poder que pressupõe. Pode-se perfeitamente - e V. é o exemplo disso - defender a secessão em termos conducentes ao reforço da autoridade do Estado em detrimentoi da actividade ou da participação política autónoma da grande maioria dos cidadãos, ainda que tendendo a mobilizá-los atrás de chefes ou politicamente proletarizados e explorados por organizações de vanguarda.,
Passe bem e tente manter, por favor, as boas maneiras, como por certo aprecia que os outros façam em relação a si. Pode ser?

msp

Anónimo disse...

Pode ser o que você quiser. Vocês andam por aqui a chamar nacionalistas aos comunistas, ignorando completamente o significado do conceito ao ponto até de já receberem reclamações de nacional-fascistas e agora anda aqui armado em promotor das boas maneiras.

Mas eu digo-lhe porque razão uso o termo federal-fascista: O federalismo vai criar uma hiato maior ainda entre a política e o povo. Vai criar condições até para que um dia que o povo português quiser uma revolução ver a entrada de tropas da federação para defender o território, então europeu, dos portugueses. Ou você pensa que não chegamos lá? Chegaremos sim. A cada crise vai haver mais e mais integração europeia, menos e menos autonomias locais.

Se os Nova Iorquinos lançassem uma revolução proletária Washington imediatamente mandaria toda a força da federação para esmagar qualquer tentativa. Por isso vocês falam dos trabalhadores mas querem tirar-lhes instrumentos de acção - e por isso, a meu ver, cabe o termo federal-fascismo para as vossas ideias políticas.

João.

Miguel Serras Pereira disse...

João,
aconselho-o a reler o que escreveu e a ver s epensa realmente que a revolução só pode ser, é necessariamente, nacional e que a federação é necessariamente inimiga da participação de base e da democracia.
Mas não se enerve, por favor. É aborrecido para si e para o convívio de todos os que aqui vêm.
Eu sei que a boa vontade não basta, mas, como diria Aristóteles, chamando-lhe outra coisa qualquer, sem ela também não se vai a lado nenhum - quer dizer, é impossível uma discussão razoável.
Obrigado pela atenção que entender dispensar-me.

msp

Anónimo disse...

Miguel, tomo só como certo o seguinte: as pessoas não querem vivem em mobilização permanente. Por isso se inserem as inércias de sistema que depois só são transformadas se houver um grande ímpeto revolucionário que, ainda assim, também ele normalizará numa outra situação. É preciso pensar muito bem que instrumentos se cedem com o federalismo e abandonar a ideia de que os trabalhadores vão viver em mobilização permanente. Não vão.

João.

Anónimo disse...

Não podia estar mais de acordo com a designação do João aqui para o blog: federal-fascista.

Parabéns, João, chega-lhes.

Carlos Marques

Miguel Madeira disse...

"Se os Nova Iorquinos lançassem uma revolução proletária Washington imediatamente mandaria toda a força da federação para esmagar qualquer tentativa."

Robert E. Lee e Jefferson Davis, aliados objectivos da revolução socialista?

Miguel Serras Pereira disse...

Carlos Marques,
tanto trabalho se dá V. por nossa causa. Incomodamos assim tanto?

João,
vejo com agrado que retomou um tom diferente. Quanto ao fundo da questão, não sei bem o que quer V. dizer com mobilização permanente. Em certo sentido, é verdade. Mas com a ressalva seguinte: se considerarmos que a participação política permanente das pessoas, deliberando e decididndo dos problemas e medidas que as afectam, é impossível ou indesejável, então é a própria ideia de democracia, de governo dos cidadãos quer na praça da cidade, quer no âmbitro do "trabalho", que consideramos indesejável e impossível.
Uma segunda ressalva: o problema que V. levanta põe-se tanto na perspectiva de uma federação como na das "unidades nacionais" separadas - não lhe parece?

msp

Anónimo disse...

A participação permanente das pessoas é delegada para instituições políticas - é esse o seu papel democrático; a diferença está em instituições que estão mais ou menos abertas à intervenção de momentos de mobilização efectiva e até colectiva.

Quando as instituições nacionais se tornarem instituições federais é a própria capacidade de intervir sobre o seu quotidiano político que é atacada. Os partidos que defendem o federalismo, entre eles o PS, são partidos que já abandonaram a política e tornaram-se apenas partidos para a administração de assuntos correntes do capitalismo - são partidos que têm repúdio pela política, já não sabem o que isso é.

E em última instância é o exército e a polícia que poderão ser um obstáculo derradeiro a uma mobilização colectiva - é diferente se aqui estamos uns com os outros, enquanto portugueses, a resolver as coisas entre nós do que estar também a ter de responder a algum governo europeu quem sabe também com capacidade policial e militar para manter a ordem (capitalista) na federação.

Nos EUA é assim. Se houver alguma veleidade de algum Estado no sentido da independência o governo federal sente-se com legitimidade, que a tem no âmbito da Constituição, para lançar a força das armas.

A existência de países não impede em nada políticas internacionalistas; a verdade disto está no próprio facto de uma federação europeia já ser um tema aceitável e talvez até, infelizmente, a caminho de realizar-se. Se os países impedissem por natureza a existência de instituições internacionais não existiria a UE. O vosso argumento então, visto em conjunto, é contraditório, devora-se a si mesmo.

João.



Miguel Serras Pereira disse...

João,
parece-me que V. quando ouve falar em federação pensa automaticamente em qualquer coisa como o Pacto de Varsóvia, com as intervenções "fraternais" que se lhe conhecem. Em contrapartida, parece-me que tem a ideia que a soberania do Estado-nação é um antídoto eficaz contra eventualidades autoritárias, contra-revolucionárias, etc. Porquê? Porque "estamos entre portugueses", talvez. Mas, entre portugueses, não haverá forças policiais, relações de classe, interesses antagónicos, sabres e hissopes, ou serviços secretos e televisão? E, com legitimidade explícita ou sem ela, as relações de força efectivas não levam a melhor, a diversos níveis, às proclamadas "soberanias nacionais"? E, voltando atrás, estas são - socialmente, em termos de relações de poder e de governo efectivo - a soberania de quem?
O único argumento que poderia valer do seu ponto de vista seria provar que o quadro nacional é mais favorável à democratização do que o federal - ou seja, provar que a democratização isolada teria mais perspectivas de avançar do que a coordenação democrática dos processos de luta à escala da Europa. Essa prova é a, meu ver, impossível. Uma das razões da supremacia e reforço do governo efectivo da economia capitalista está no facto de as suas bases e campo de acção coordenada serem transnacionais. E, aliás, as forças que apostam na ruptura da UE e na saída do euro apostam também, saibam-no ou não, na ligação a outras poptências. Ou não?

msp

Anónimo disse...

"O único argumento que poderia valer do seu ponto de vista seria provar que o quadro nacional é mais favorável à democratização do que o federal - ou seja, provar que a democratização isolada teria mais perspectivas de avançar do que a coordenação democrática dos processos de luta à escala da Europa."

- É interessante que eu é que tenha que provar e não você que não tem mais nada a apresentar pelo federalismo do que o exercício da sua fantasia.

No mundo da fantasia podemos dizer o que quisermos até que uma federação europeia com instituições cada vez mais decisivas e centralizadas em Bruxelas vão ser mais próximas dos cidadãos.

Quando se quiser protestar à porta do governo vai-se ter que viajar até Bruxelas...

João.

Miguel Serras Pereira disse...

João, assim não dá. V. lê "federação" e interpreta "centralização burocrática", autoridades não eleitas, supremacias nacionais, etc. O oposto da perspectiva que tenho defendido em matéria de integração europeia e de democratização. O que V. denuncia e refuta - em termos que, aliás, revelam metas políticas entre o obscuro e o indesejável - não é a minha posição. Não vou repeti-la uma vez mais. Acabo, até mais ver, a conversa por aqui. A bem do seu repouso e do meu - sinceramente

msp