02/10/13

João Valente Aguiar: uma perspectiva crítica liberttária do nacionalismo, do Estado e da obra de Marx

Sem menospreazo das suas intervenções recentes neste blogue a propósito, sempre dignas de atenção, pelo propósito radicalmente democrático que as inspora, ainda quando delas se discorde, queria recomendar aqui a leitura da primeira parte de um ensaio — que terá seis — que o próprio João Valente Aguiar, seu autor, já aqui anunciou estar em curso de publicação no Passa Palavra. É que se trata de uma tentativa — fundamentalmente certeira e lúcida, extremamente penetrante — de, a partir de uma análise do nacionalismo, pôr em causa o antagonismo irredutível entre qualquer forma de poder político propriamente democrático e o Estado, antagonismo que a obra de Marx ora parcialmente desvela e tematiza, ora obscurece e denega em formulações de compromisso ambíguas, presentes também na sua análise das questões nacionais, e, diria eu (já não tão seguro da aprovação do João nesse domínio), na sua crítica da economia política e nas suas concepções da infra-estrutura económica como constante da dominação classista.

Se, como espero e me arrisco a prever, os restantes cinco capítulos do ensaio não desmerecerem deste primeiro, estaremos perante uma contribuição de primeira importância para esse tipo de pensamento e esse exercício de reflexão incorporada na acção — a que não chamarei "teoria" nem, muito menos, "análise científica… —  sem os quais não é concebível qualquer processo efectivo de democratização das relações de poder dominantes.

2 comentários:

João Valente Aguiar disse...

Caríssimo,

obrigado pela referência ao texto. Só para acrescentar que no final das seis partes me parecerá que a obra do Marx é fundamentalmente ambígua e se tornou numa base teórica para a constante renovação de gestores (sobretudo gestores estatais) a partir da esquerda. O que não quer dizer que não tenha importantíssimos contributos. Como o exemplo de alguns dos seus mais interessantes pressupostos analíticos poderem ser utilizados para desmontar o próprio nacionalismo do Marx...

Abraço

Miguel Serras Pereira disse...

Não tens de quê, João.
Na primeira parte da Instituição Imaginária da Sociedade cuja redacção data da segunda metade dos anos 60 do século passado), Castoriadis analisa a conversão do marxismo em ideologia burocrática, e, não subestimando o contributo singular de Marx, diz que há que escolher entre continuarmos a ser "marxistas", ou continuarmos a ser "revolucionários"… Segue uma via muito diferente, e é possível que contrária a certas orientações da tua no que se refere à concepção da história e à teoria económica de O Capital. Mas creio que sobre o "nacionalismo" e a questão do Estado não poria objecções de maior às tuas conclusões. E, de qualquer modo, digamos que as duas vias convergem naquilo a que chamei a exigência de manter presente o "critério da democracia" no combate pela autonomia e contra o capitalismo: não há anticapitalismo emancipatório sem democracia, a democratização é condição necessária da luta anticlassista.

Abraço

miguel(sp)