Para pensar a história da sexualidade em Portugal temos de começar pela
história do feminismo. Talvez o momento mais emblemático desta luta seja
a “queima de soutiens” no Parque Eduardo VII (Lisboa) em Janeiro de
1975. Uma queima que nunca existiu, garante quem esteve na primeira
manifestação feminista do país e que foi injuriada por três mil
machistas histéricos em contra-manifestação. Existiu, sim, a “queima” de
símbolos da opressão feminina, que ao longo da história aprisionaram
mulheres na sua condição de trabalhadoras sem salário – panos do pó,
esfregonas, tachos e cama – e de outras instituições tão vigorosas que
se confundem com a própria ideia de género feminino – a mãe e a esposa
que a tornam mulher. Mas a desconstrução de género não se faz sem
liberdade sexual. Destas lutas ficaram de fora as lésbicas e as
prostitutas. A emancipação de género, laboral e reprodutiva, encarava
mal o desejo como luta das lésbicas e o sexo como trabalho das
prostitutas. Seria possível construir um movimento que se esquivava dos
estigmas de “putas” e “fufas”, que pendiam sobre as feministas, em vez
de os enfrentar?
Continuar a ler Há uma história queer em Portugal?, publicado no jornal Mapa.
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