09/03/15

“O governo grego terá dificuldades para explicar o acordo aos eleitores"


 

Os números mostram uma situação sem paralelo na zona euro: 35,7% dos gregos está em risco de pobreza. A taxa de desemprego é de 25,8% (e chega a cerca de 50% entre os jovens). O desemprego acarreta vários problemas: o primeiro é que o subsídio de desemprego dura apenas um ano, o segundo é que passado pouco tempo acaba a cobertura de saúde e o acesso a cuidados nos estabelecimentos públicos. Muitos jovens que nunca tiveram emprego também nunca tiveram acesso a cuidados de saúde.
Há médicos a ver cancros como nunca tinham visto: estes não são removidos e os tumores crescem até não ser possível fazer nada. Não são considerados os casos urgentes para os quais há tratamento para quem não tem seguro. Mesmo nestes, o responsável pelas contas do hospital irá rapidamente tentar perguntar ao doente ou à família se não há algo que possa ser vendido ou penhorado para pagar a conta. Os cortes na saúde afectam os mais velhos e os mais novos: há doenças que estavam erradicadas a voltar a aparecer porque muitas crianças não são vacinadas.
Depois de histórias de grávidas a correr de hospital em hospital tentando encontrar um em que não tivessem de pagar antes do parto, surgem relatos de exigência do pagamento dos cerca de 300 euros antes que seja dada alta ao bebé. Mas ao mesmo tempo, muitas mães abandonam os recém-nascidos nos hospitais por não terem como os sustentar (o aumento de recém-nascidos abandonados de 2011 a 2014 foi de 300%). Instituições como as Aldeias SOS começaram a receber pedidos para ficarem com crianças de pais que não sentiam conseguir dar-lhes o suficiente. Aceitaram os primeiros, mas rapidamente perceberam que não podiam receber todos e criaram antes apoios para que estas crianças pudessem ficar com as famílias.
Uma família contou, numa reportagem da revista Vice, como tem o filho na escola em aulas nocturnas para que ele possa estudar de dia e não tenha de o fazer à luz de velas. Em casa, todos estão vestidos com sobretudos porque não há aquecimento (o Inverno é rigoroso na Grécia, especialmente na parte continental). A insulina do pai diabético é arrefecida na varanda no Inverno. No Verão, logo se vê.


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