20/09/15

Os meus desejos para as eleições gregas

1 - Vitória do Syriza

2 - Um bom resultado para a Unidade Popular

Por esta ordem.

Claro que também há ouras coisas que seriam boas (p.ex., que a Aurora Dourada descesse), mas estas são as mais relevantes.

Uma nota sobre a abstenção - confesso que não sei se um hipotético aumento da abstenção será bom ou mau; por um lado, seria uma coisa boa, na medida em que pudesse indicar uma atitude de "não vale a pena eleger mandatários que depois fazem o contrário do que prometem; temos é que assumir a governação nas nossas próprias mãos"; mas suspeito que muitas vezes a abstenção indica simplesmente uma atitude de "não vale a pena - no fim, são sempre eles que mandam; vou é dedicar-me à minha família e ao meu trabalho".

5 comentários:

Libertário disse...

Que alguém como Miguel Madeira deseje um bom resultado na Grécia para o Syriza, que ontem dizia uma coisa e hoje diz o seu contrário, dá-nos uma imagem clara sobre o ponto a que chegamos…
Já não se trata de engolir sapos, como no tempo do Álvraro Cunhal, mas de manter a cabeça de fora no pântano fedorento, até nos afogarmos ou sermos devorados pelos crocodilos.

joão viegas disse...

Ola camaradas,

Não sou grande conhecedor da realidade grega e não pretendo dar mais do que uma simples opinião mas, ao contrario do libertario aqui em cima, eu não vejo que o Siriza de Tsipras tenha dito uma coisa e o seu contrario, e julgo que a vitoria de ontem é um excelente sinal para a esquerda, um resultado que consegue dissipar grande parte das ambiguidades oriundas do (infeliz) referendo de ha uns meses atras.

Os Gregos confirmaram que querem um programa de esquerda sem abandonar a Europa. Ou seja, confirmaram que o seu voto, tido como utopico, corresponde a uma aspiração profunda e séria : temos que fazer com que os povos europeus sacudam o jugo das politicas de inspiração ultra-liberal que têm vindo a agravar a crise, mas esta sacudidela tem de vir de dentro. O voto em Tsipras, em alternativa à direita, mostra que o povo Grego nunca se rendeu, apenas compôs com os constrangimentos das necessidades do momento, sem nunca abandonar a ideia de mudar estas necessidades no futuro e de inverter os equilibrios que tornam, hoje, as politicas liberais, em aparência, as unicas praticaveis. Isto passava por não ceder à tentação de abandonar o navio, atirando-se ao mar e servindo assim de espantalho para os que ficam.

Dizem-me que a chantagem exercida sobre o Tsipras não passou de um bluff, que uma demonstração de forças teria permitido ir muito mais longe. Talvez mas, sinceramente, julgo que não. Uma demonstração de forças teria sido um erro completamente contraproducente, pois as forças reaccionarias que estão hoje na mo de cima na Europa teriam sacrificado a Grécia e os Gregos sem a minima hesitação. Hoje e amanhã, elas terão de compor com Tsipras, e com quem se vier a aliar com ele nos outros paises da Europa...

O que acabei de dizer é uma mera convicção, um palpite, pois na verdade não sei. Mas noto que o voto de ontem não tem explicação se não partirmos do principio que muitos Gregos, porventura a maioria, têm a mesma convicção, sem abandonarem com isso as suas convicções de esquerda (ou então, teriam votado à direita desta vez).

E' certo que o Tsipras continua aliado a nacionalistas. Mas esta aliança parece, hoje, inspirada pelo puro pragmatismo pois, na verdade, Tsipras mostrou ter compreendido, até hoje, que o futuro da Grécia, e também o futuro da esquerda grega, esta na Europa.

Abraços

Libertário disse...

Não paro de me espantar com o facto de gente independente e livre pensadora manter a fé na auto-reforma do sistema, depois de tudo o que assistiram nas suas vidas e em vidas passadas.
No entanto, levando em conta, que os crentes das diversas religiões não abandonam as suas convicções nem com o avanço da ciência, nem com as provas históricas que podem colocar em dúvida as suas certezas, temos de concluir que os seres humanos, tirando uns degenerados pessimistas e uns voluntaristas radicais, são assim mesmo…

joão viegas disse...

Caro libertario,

Eu não acredito na auto-reforma do sistema. Acredito é que é mais realista, e mais eficaz, procurar reforma-lo por dentro, do que procurar reforma-lo por fora. Nuance...

Acrescento que não tenho nenhuma certeza, pelo que estou perfeitamente disposto a corrigir a minha crença em razão da experiência.

Um abraço

jose guinote disse...

Aquilo que me parece um critério de uma infinita sensatez, se me é permitido dizê-lo, João Viegas. Se por hipótese todos os que discordam se excluíssem e se isolassem o que iria acontecer? Será que não se acredita na capacidade de os povos se unirem e conseguirem alterar as condições em que vivem e modificarem a forma como as sociedades estão politicamente organizadas? Quem falou em auto-reforma? Trata-se de discutir qual é o contexto mais favorável para lutarmos pelo direito à cidade. isolados, cada um fechado no seu nacionalismo, ou em conjunto, num espaço geográfico mais alargado e mais diverso, mais plural, mais poderoso.