22/09/15

Refugiados (5)

O João Bernardo enviou-me o link desta notícia que aqui deixo a quem passe. É mais um passo em frente na banalização do fascismo que será uma cegueira suicida subestimarmos. Mas, perante o recrudescimento assassino dos soberanismos, cegos e suicidas é, até ver, o que mais há. Ou, como comenta o João Bernardo, ao indicar-me o link: "Para mais, esse anexo com uma horta que a notícia menciona não é senão um dos campos experimentais de agricultura biodinâmica que Himmler mandou estabelecer. Tratava-se do maior empreendimento do género, com maior êxito comercial. Ver a pág. 1374 do pdf da segunda versão do Labirintos. Quem sabe se voltará a florescer, agora com nova mão-de-obra?"

8 comentários:

joão viegas disse...

Ola Miguel,

Confrangedor. Pois imagina tu que por terras gaulesas, a grande celeuma neste momento, anda em torno das declarações do filosofo da moda Onfray (que não tera escrito apenas disparates na sua carreira, mas que nos ultimos tempos tem assumido um "soberanismo" inquietante), pois este veio afirmar que compreendia perfeitamente que o povo se virasse para a Marine Le Pen quando vê que as elites mundializadas dão preferência ao drama do refugiados sirios sobre o problema do desemprego.

Ha coisas que nunca mudam...

Ainda assim, gostava de acreditar que os campos de concentração NAO fazem parte delas.

Um abraço

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João,
também eu gostava de poder acreditar nisso, mas pergunto-me o que poderá e deverá ser feito para que essa crença não nos iluda ou… desarme.

Abraço

miguel(sp)

Libertário disse...

Mesmo sendo radicalmente internacionalista não deixo de constatar que o drama dos refugiados, fortemente mediatizado, origina todo um clima emocional e de apelo sentimental que ofusca as questões políticas essenciais da Europa e do Mundo. A responsabilidade dos países ocidentais no criação ou agravamento de conflitos regionais em África e Médio Oriente praticamente desaparece, a natureza predatória do capitalismo global que divide o mundo em bolsões de riqueza rodeados de miséria é ocultada e tudo se resume a ajudarmos alguns milhares de seres humanos que foram dos primeiros a chegar às portas do Império…
Os cidadãos estão comovidos, o que prova existir ainda alguma sensibilidade e sentidmento de empatia entre nós humanos, mas os problemas de fundo ninguém quer encarar: nenhum Império vai aceitar ser "invadido" por hordas de bárbaros. Ou mudamos radicalmente as nossas sociedades, o que pressupõe dar um fim a este Sistema capitalista decrépito, ou os muros e as barreiras vão continuar a ser erguidas nas fronteiras do Império.
O actual clima emocional de alguma simpatia pelos refugiados, administrado pelos meios de alienação de massas, rapidamente vai ser substituído por um outro clima emocional negativo xenófobo se a pressão migratória continuar, como é previsível. Até porque não se trata exclusivamente de um fluxo de refugiados de guerra, como parece óbvio, mas de pessoas que não conseguem viver em seus países, pelos conflitos e instabilidade, mas não só, e buscam alternativas nos países considerados ricos.

joão viegas disse...

Caro Libertario,

Peço desculpa, mas vejo no seu comentario uma boa ilustração de como nos deixamos iludir por conversa da treta e caimos com toda a facilidade nas mãos dos piores demagogos. Não tenho remédio santo, mas julgo que usar dois pingos de espirito critico e rigoroso não pode fazer mal :

- A emoção com os refugiados não significa que deixemos de ter consciência dos outros problemas, nem nos impede de relativizar, ou alias de definir prioridades. E' sempre a mesma coisa : quando nos debruçamos sobre um problema, somos acusados de lhe dar exclusividade por quem prefere que o problema não seja tratado. O que são os refugiados ao lado dos milhões de desempregados ? OK, nesse caso, o que são os milhões de desempregados ao pé da fome no mundo ? E o que é a fome no mundo ao pé da certeza que o universo tera de acabar mais cedo ou mais tarde ? Cruzemos os braços, então, por respeito pela desgraça alheia e por resignação perante a certeza da nossa propria desgraça...

- Ja agora, os refugiados e a "pressão migratoria" de que v. fala no seu comentario são duas coisas que não têm nada a ver uma com a outra. A grande maioria dos refugiados no mundo fixa-se em paises pobres, nomeadamente em Africa, e é errado falar em pressão sobre os paises ricos (ha mais pressão sobre paises igualmente pobres). Portanto, ao pretender que se preocupa com problemas mais sérios, v. esta na verdade aproveitar para misturar alhos com bugalhos. E depois, vai dizer que quem é responsavel pela psicose que alimenta a subida dos fanatismos é a elite mundializada...

- Mas se quiser falar da "pressão migratoria" (economica) falemos nela... Ja lhe ocorreu que a pressão migratoria de que temos tanto medo, existe ja dentro da Europa, e mesmo dentro de cada pais europeu (ha diferenças significativas de rendimentos e de produtividade entre varias regiões de um mesmo pais, muitas vezes mais acentuada do que a diferença entre as zonas desenvovidas desse pais e as de outros paises) ? Em que é que esta pressão se diferencia da pressão migratoria oriunda dos paises pobres que nos pintam como o grande perigo que ameaça os paises europeus ? Alguém se deu ao trabalho de calcular os seus efeitos respectivos ? E' que o exercicio merece a pena, e quem se der ao trabalho vai sempre encontrar que os medos agitados pelos fascistas representam uma ameaça perfeitamente insignificante (os beneficios da imigração economica são maiores do que os custos, e isso não é verdade apenas para o grande capital, é verdade sob todos os pontos de vista). Têm medo do quê, exactamente ? Da pressão sobre os baixos salarios ? Mas a pressão sobre os baixos salarios que decorre da deslocalização dos centros industriais para paises mais pobres não é quarenta vezes maior ?

Enfim, acho melhor ficar por aqui.

Abraço

Anónimo disse...

Olá, João Viegas: Acho que o meu amigo está a baralhar as afirmações de Michel Onfray. Que sempre combateu a Marinne Le Pen e quem a apoia. A polémica com Joffrin tem um lado mau, que hoje um grande filósofo- Jean-Claude Nancy -desmonta com charme no Libé.Entretanto Onfray escreveu uma " Tribuna " no Le Monde( 19 do corrente) onde reitera a sua luta pelo socialismo libertário, sublinhando que se tornou " abstencionista " e um verdadeiro " ateu social. " Só acredito na politica feita na base, a do povo, que diz não e se organiza fora dos sindicatos e dos partidos ", sublinhou ao grande vespertinho pariseense. Niet

joão viegas disse...

Caro Niet,

Bem sei que o Onfray ja procurou emendar o soneto, e não pretendo afirmar que ele apela directamente a votar na Marine Le Pen (apenas diz compreender o desespero que leva a votar nela...). No entanto, para filosofo, a maneira como ele se furta a debater as objecções pertinentes que lhe são dirigidas por L. Joffrin (que afirma nem sequer ter lido !) e como sacode o capote, armando em paladino da verdadeira democracia que esta do lado de quem não vota e prefere ouvir o protesto do verdadeiro povo, cheira bastante a mofo.

Como disse, admito que ele tenha escrito coisas com piada e reconheço-lhe muitos méritos. Mas acho que desta vez, em vez de ceder à logica mediatica (que afirma combater, quando lhe da jeito), teria sido muitissimo mais bem inspirado se tivesse permanecido caladinho.

Bom, é a minha opinião...

Um abraço

Anónimo disse...

Carissimo J. Viegas: As nuances e subtilezas do percurso intelectual de Onfray são indiscutiveis, e possuem um rigor e qualidade que nos impedem de a analisar no contexto mais incontrolável de uma simples nota de análise mediática.Parece que os tipos de centro-direita que o entrevistaram para o Le Figaro tentaram manipular as suas declarações. Mas no programa da France 2 de Ruquier- On n´est pas couchés - ele já rectificou e aprofundou tudo o que havia a ser esclarecido. Joffrin tem a sua piadinha( eu prefiro o Serge July, de longe), mas näo chega aos calcanhares do prodigioso Onfray, que todos os meus amigos em Lisboa o pensam como um " normalien " de alta voltagem quando, a verdade nua e crua, é que é simplesmente um filósofo à moda antiga cheio de aspiração tipo socrática. Salut! Niet

Anónimo disse...


Não é preciso ir tão longe para dar com opiniões medonhas.
À baila trago um artigo assinado por Bárbara Reis e publicado no Público ("Até quando vamos tolerar isto?").

Vai daí, enviei-lhe um email, que reproduzo o essencial:


“Como é possível interrogar-se sobre a “forma indigna” como os refugiados estão a ser tratados pelo Governo húngaro e, ao mesmo tempo, concluir que a Europa pode ganhar com o êxodo dos refugiados porque, assume, “muitos destes migrantes são trabalhadores qualificados prontos a receber salários baixos”.


Não lhe importa, a si, que essa forma de pensar legitima este novo mapa da exploração humana, que se reconfigura na Europa? Que partir desses pressupostos vale por dizer que os migrantes sírios, por serem refugiados de guerra, devem aceitar piores condições no mundo do trabalho do que a restante população? E como consequência reproduzimos assim a miséria da maioria (a do refugiad@ sírio, como a do trabalhad@r português) e contribuímos para a acumulação de uma elite dominante.
Não é demais lembrar que essa reconfiguração é ditada por instituições supra-estatais e pelo poder das elites económicas, que decidem a vida de milhões de pessoas através de mecanismos nada democráticos.

Se pensarmos nos seus termos, acabará encostada contra a parede: descemos mais um nível do imaginário de miséria que assombra o caminho de todos. Tanto o imaginário do caminho de um migrante sírio, como o do meu, migrante lá da chafarica. Em pleno século XXI... Em pleno século XXI, e na Europa impante que acha que construiu o modelo social e económico a exportar... E somos milhares, milhões, anónimos, que devem ser olhados não através de um retórico multiculturalismo, que afirma que pretende enaltecer a diferença cultural, mas que no fundo subjuga a igualdade. "Até quando vamos tolerar isto?". E essa igualdade, não é aquela que advém da tolerância multicultural, é aquela que vem e tem de vir da simples igualdade humana. E a dignidade que devemos exigir é essa.

Por que não pensa antes, face aos poderes instalados (responsáveis pela guerra, mas também responsáveis pela guerra social que enfrentam as populações pobres e migrantes dos países periféricos da Europa), que um refugiado deve exigir os mesmos direitos legais (ou sócio-económicos), mas não a integração? Precisamente como uma forma de não subjugar a diferença, mas de valorizar a igualdade, estalando esse modelo paternalista e pós-colonialista de inclusão subalterna, que infelizmente, o seu artigo transmite?”

Escusado será dizer que não obtive resposta.
(Vadio)