12/09/15

This is about hope

Hoje, durante o dia, conhecer-se-ão os resultados da eleição para a liderança do Labour. Se não acontecer nada de anormal celebrar-se-á a "anormalidade" de um homem com as ideias políticas de Jeremy Corbyn, e com o seu percurso político, se tornar o novo líder dos trabalhistas. Um acontecimento como este seria impossível num partido como o PS português e na generalidade dos restantes partidos socialistas europeus. Mesmo nos partidos mais à esquerda alguém com um carácter tão excêntrico  - para dizer o mínimo - relativamente aos "grandes ideiais da organização", já estaria há muito remetido ao mais severo silêncio. Recorde-se que Corbyn militou contra a guerra no Iraque, acusou Blair, o seu camarada secretário-geral, de ter apoiado uma invasão criminosa e defende há muito a saída da NATO e o abandono do programa nuclear britânico.
Ao longo da campanha Corbyn foi esclarecendo, sem sofismas, quais são as suas ideias e quais são, segundo ele, os caminhos que importa percorrer para que o regresso dos trabalhistas à governação sirva para alguma coisa de diferente daquilo que os Conservadores asseguram com particular brilhantismo, e que, como sabemos, se traduz numa  diminuição dos direitos do trabalho, numa privatização, sem mérito algum, dos serviços públicos e numa crescente ineficiência económica traduzida numa desigualdade crescente e num empobrecimento de sectores cada vez maiores da população.
Corbyn tem quase toda a gente contra si. Gente aqui significa o mainstream, o Partido Parlamentar, essa estrutura tentacular,  que  - como se passa por cá, mesmo muito à esuqerda - controla e dirige de facto o partido. Mas, Corbyn conquistou os cidadãos, os eleitores, os trabalhistas que não se submetem ao fatalismo da desigualdade crescente, os que acreditam que a política é sobretudo o direito de cada um a participar nas decisões que lhe dizem respeito e à comunidade em que se inserem.O direito de participar e de decidir.  É por isso que vai ser eleito para liderar um partido que com Blair se tornou o pilar esquerdo do neoliberalismo, no coração da Europa Financeira, no coração da guerra em curso pela destruição da europa dos cidadãos.
Pouca gente deu alguma atenção a esta campanha. A direita estupefacta mostra uma "preocupação fraterna" com o que eles consideram vir a ser o suicídio dos trabalhistas. Julgo eu que  aquilo que os preocupa é o facto de sem o tradicional pilar-esquerdo o sistema neoliberal poder começar, finalmente, a desabar.
Corbyn declarou ipsis-verbis querer manter-se na Europa e relativamente ao voto no referendo que Cameron vai promover já defendeu a continuação do Reino-Unido na Europa, mas numa Europa diferente. Uma Europa contra a austeridade.
Podíamos falar da intenção manifestada de levar Blair à justiça pelos crimes associados à invasão do Iraque sem mandato da ONU ou da saída da Nato. Mas é na revolução que pretende concretizar na intervenção do Estado na economia que esta candidatura merece toda a atenção de quem olha para a política a partir do seu lado  esquerdo. Nacionalizar os trasportes ferroviários, reforçar o ensino público, aumentar o investimento público, nacionalizar sectores estratégicos da industria, abolir o "right to buy" apostando na "affordable housing" são parte de um programa que, conquistando o poder no Reino Unido poderia ajudar a modelar uma Europa do progresso e da cidadania.
É de esperança que se trata e de uma visão de um futuro construído por todos e para todos.
Havendo tantos e tão bons documentos produzidos desde 14 de Agosto por jornais como o Guardian - este jornalismo tem muito que se lhe diga, quando comparado com o que por cá se (des)faz  - escolho esta entrevista do arranque da caminhada que levou este homem comum,  equipado com boas ideias,  à liderança deste tão importante partido  -para o bem e para o mal - da democracia europeia, para assinalar este facto politicamente importante.  Dou como adquirido que Corbyn a meio desta tarde será proclamado o novo líder do Labour conduzindo Blair e os os seus seguidores lusos à beira da apoplexia.

http://www.theguardian.com/politics/2015/aug/07/jeremy-corbyn-interview-we-are-not-doing-celebrity-personality-or-abusive-politics

(procurar a entrevista no artigo).

2 comentários:

António Geraldo Dias disse...

Voluntariado,apoio popular e dos sindicatos e um conjunto de propostas pelas quais vale a pena bater-se sem ataques pessoais uma campanha positiva por uma alternativa " the attraction of Corbyn was that he has clear, alternative policies “so that I would never again have to stand on the doorsteps and hear people saying ‘you are all the same’.

jose carlos guinote disse...

Meu caro António Geraldes Dias concordo completamente. Corbyn apresenta um conjunto de políticas atractivas e alternativas. Não há memória de um candidato a disputar a liderança de um Partido Socialista com um tal conjunto de propostas. Mas Corbyn não se fica pelas políticas - o que sabemos nós é importante mas não faz toda a diferença - ele propõe-se mudar o método de fazer política passando isso pela participação das pessoas na construção das propostas políticas e na sua concretização.