20/12/15

Podemos e as eleições em Espanha.

O resultado do Podemos excede as melhores expectativas de quem acompanhava estas eleições. Depois de quase ter naufragado, arrastado pelas ondas de choque que varreram a situação na Grécia, o Podemos reune a confiança de mais de 5 milhões de cidadãos e ultrapassa largamente a formação da direita emergente, o Ciudadanos, que durante semanas fez o papel de futuro grande vencedor das eleições.
Lá como cá a direita mais conservadora, e mais pró-austeritária, mantem o estatuto de partido mais votado, mas revela-se incapaz de formar Governo. Perdem quase quatro milhões de votos em quatro anos. Admite-se que Rajoy tenha pudor e não faça como cá, passando a exigir em cada esquina o direito a governar.
Lá como cá os socialistas, apesar de estarem na oposição, perdem um milhão e meio de votos desde 2011. O PS espanhol, como o Português, revelou-se incapaz de conquistar o poder, sobretudo porque foi incapaz de romper com a austeridade e com as políticas que flagelaram os espanhóis. O problema do PS espanhol é que apareceu uma força política que é quase do seu tamanho e que disputa parte do seu espaço político: o Podemos.
O problema político espanhol é que não existe nenhuma coligação razoável que permita suportar um Governo com apoio maioritário. O apelo vai fazer-se no sentido de PP e PSOE se unirem. Para o PSOE seria o passo seguro para o abismo. Não sendo assim, um Governo PSOE+ Podemos poderia governar com a abstenção do Ciudadanos. Não parece viável.
Haverá eleições gerais mais cedo do que tarde. Mas, os espanhóis deram um passo de gigante para começar a mudar a Europa: o bipartidarismo morreu.

1 comentários:

Miguel Madeira disse...

A esquerda toda junta (PSOE+Podemos+ERC+UP+Bildu) parece ter 174 deputados (menos dois que a maioria), e mesmo essa aliança já seria difícil, já que ERC e Bildu iriam exigir a direito à auto-determinação ou coisa parecida, o que o PSOE não deve estar em condições de aceitar. Juntando a direita regionalista (DL+PNV), já dava 188 deputados, mas se a coligação anterior já era complicada, esta ainda mais (ou talvez não muito mais, já que as concessões que fossem feita à esquerda regionalista também agradariam à direita regionalista).

Por outro lado, PSOE+Podemos+UP (a antiga IU) têm (estou a guiar pelo que o site da RTVE diz nestento) 163 deputados, contra também 61 do PP+Ciudadanos; uma aliança de esquerda com a neutralidade dos regionalistas talvez se aguentasse.

Já ao PP é mais dificil a jogada, porque dificilmente conseguiria juntar tanto os Ciudadanos como a direita regionalista (se fizesse acordo com um, não teria os outros e vice-versa), além de que precisaria mesmo do apoio, não apenas da abstenção.