Foram várias e unânimes as manifestações de pesar pela morte de António
Arnaut, o notável socialista que criou o Serviço Nacional de Saúde
(SNS).
Os elogios à importância desse seu contributo uniram a esquerda e a direita
e, ao observar essa unanimidade, seríamos levados a concluir que o SNS é um
amplo consenso na sociedade portuguesa, algo que facilmente mobiliza todas as
vontades políticas disponíveis em sua defesa.
As coisas não se passam assim. O SNS
está há muito tempo a ser desmantelado abrindo caminho aos negócios do sector
privado e à sua transformação num serviço para os mais pobres.
Por isso, revoltando-se contra este estado de coisas, António Arnaut elaborou uma proposta de Nova Lei de Bases do SNS, juntamente com o ex-deputado bloquista João Semedo.
Por isso, ainda na passada sexta-feira,
já muito próximo do fim da sua vida, endereçou uma mensagem ao III Congresso da
Fundação para a Saúde SNS, na qual se pode ler o seguinte:Por isso, revoltando-se contra este estado de coisas, António Arnaut elaborou uma proposta de Nova Lei de Bases do SNS, juntamente com o ex-deputado bloquista João Semedo.
Como todos sabemos muitos dos que aplaudem a sua obra e a sua memória, fazem-no, apesar de serem os mesmos que com a sua actuação política concreta criaram/criam as condições que conduziram o SNS ao descalabro em que se encontra. Os que em Portugal, para desagrado de António Arnaut e de muitos outros, conduziram uma política marcadamente neoliberal, que não se iniciou com a Troika e com o Governo de Passos Coelho e tão pouco acabou com a chegada da união das esquerdas ao poder. Como se percebe António Arnaut refere-se ao facto de a Lei 48/90, que substituiu a por ele elaborada, ainda estar em vigor e ao subfinanciamento do SNS como uma práctica política sistemática ao longo do tempo.
A questão do defesa do SNS seria um bom tema para o Congresso do PS na lógica da proposta política de Pedro Nuno Santos de revitalizar a social-democracia, libertando-a da influência liberalizante da Terceira Via. Mas a coisa limitar-se-á aos aplausos, aos minutos de silêncio, à recordação do homem bom, despolitizando a sua herança.
Tirando isso fica a memória do homem e da sua obra e, para todos nós, a percepção de que aquilo que os portugueses já tiveram direito através do SNS tem-lhes sido paulatinamente retirado a coberto da lengalenga de que não há recursos. António Arnaut lutou até ao último dia da sua vida pelo direito à saúde dos portugueses. Foi um socialista e um democrata como há poucos.
Tirando isso fica a memória do homem e da sua obra e, para todos nós, a percepção de que aquilo que os portugueses já tiveram direito através do SNS tem-lhes sido paulatinamente retirado a coberto da lengalenga de que não há recursos. António Arnaut lutou até ao último dia da sua vida pelo direito à saúde dos portugueses. Foi um socialista e um democrata como há poucos.
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