… compõe o terceiro e penúltimo capítulo do denso e breve ensaio de João Bernardo, no Passa Palavra sobre os Dilemas da Liberdade com que a Revolução Francesa continua a confrontar-nos. Aqui fica, reiterando o link, um excerto comprovativo:
Em todas as páginas de Les Chaînes de l’esclavage o povo é soberano, mas Marat entendeu a soberania como uso da soberania. Contrariamente aos teóricos seguidores da tradição de Montesquieu, que viam a garantia da liberdade no equilíbrio recíproco que os representantes estabelecem entre eles, Marat radicou a liberdade no exercício do controlo. Da falta de controlo deriva a ascensão lenta do despotismo. É este o tema principal da obra, como foi o tema principal da vida — e da morte — de Marat. O essencial de Les Chaînes… é a descrição das formas lentas e subtis, imperceptíveis, como os representantes se emancipam do controlo popular e fundam a sua tirania; da forma como as instituições evoluem e dão origem ao seu contrário. O processo de evolução do Estado é, pois, o processo da diminuição ou da extinção do controlo. Por isso Marat pôde conceber a opressão como interna e não externa. Nesta perspectiva ele é um anti-Maquiavel, porque em O Príncipe o despotismo é imposto de fora ao povo, enquanto para Marat é o povo quem, pelo seu descuido, gera o Príncipe. São os cidadãos, eles próprios, a produzir os instrumentos da sua opressão. Parece que nesta obra Marat estava a responder às interrogações sobre O Príncipe que Spinoza formulara no § 7 do quinto capítulo do seu Tractatus Politicus.
04/08/12
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