02/10/13

Re: Sobre os limites fisicos à produção

A respeito deste post do Pedro Viana, eu diria que há 3 maneiras da produção aumentar:

- utilizando mais recursos (p.ex., triplicando a produção de carros triplicando o consumo de aço para produzir carros)

- aumentando a produtividade do uso de um determinado recurso (p.ex., descobrindo uma maneira de cada carro ser construindo utilizando menos aço, o que permite produzir mais carros com o mesmo aço)

- produzindo, não mais produtos, mas produtos melhores (p.ex., mesmo que hoje em dia só existisse um computador no mundo, de certeza que seria muito mais potente - e mais pequeno - do que o ENIAC)

Ora, a mim parece-me que os tais "limites físicos à produção" só se aplicam no primeiro caso, não no outros dois (voltando ao exemplo dos computadores, tenho 99% de certeza que a produção do PC que está ao pé de mim consumiu menos recursos do que a produção do ENIAC; e não me admirava - mas confesso que aí já não tenho tanta certeza - que ele, no seu funcionamento, consuma menos electricidade que o ENIAC).

O Pedro, a respeito exatamente das mudanças tecnológicas, escreve:
Note-se que até agora nada foi dito sobre tecnologia. Se o progresso tecnológico permitir produzir com mais eficiência, ou seja com menor dispêndio de energia e recursos, mais facilitada fica a transição sócio-económica controlada para um sistema menos produtivo. Portanto, por princípio, os proponentes de tal transição nada têm contra o progresso tecnológico, em geral, pelo contrário. Mas, infelizmente, o paradoxo de Jovens parece ser bem real, o que introduz a dúvida sobre quão benigno é o progresso tecnológico, quando livre de qualquer controlo social.
Mas não percebo muito bem o raciocínio "se o progresso tecnológico permitir produzir com mais eficiência, ou seja com menor dispêndio de energia e recursos, mais facilitada fica a transição sócio-económica controlada para um sistema menos produtivo" - a mim parece-me que, a haver custos sociais na redução da produção em, digamos, 10%, esses custos serão os mesmos quer tal seja acompanhado de uma redução de 10% no consumo de recursos (isto é, sem progresso tecnológico), quer a redução do consumo de recursos seja, p.ex., de 30%.

13 comentários:

Pedro Viana disse...

Caro Miguel,

O crescimento económico a que temos assistido nos últimos séculos assenta essencialmente no teu primeiro caso: utilização de mais recursos. O segundo caso tem permitido aumentar a eficiência do seu uso, mas não ao ponto de possibilitar, por si só, um crescimento económico minimamente relevante. Em particular, no caso da energia, que é talvez o recurso mais central numa economia, terá havido ganhos de eficiência no seu uso da ordem de 1% ao ano, durante as últimas décadas. Ganhos esses que, mais uma vez por razões físicas (eficiência superior a 100% é impossível na esmagadora maioria das situações em que é necessário gastar energia) não podem continuar para sempre. Finalmente, o 3o caso não me parece muito relevante: na medida em que o objecto melhorado utiliza menos recursos (materiais e energéticos) para atingir o mesmo objectivo que o seu antecessor, caímos no segundo caso; e se atinge outros objectivos para além daquilo que o seu antecessor conseguia, entramos no campo da apreciação subjectiva sobre o valor extra que deve ser atribuído a essa propriedade do objecto melhorado (ou seja, a simples substituição de X objectos por outros exactamente no mesmo número, tendo sido consumidos exactamente os mesmos recursos na sua produção, mas em que os novos objectos permitem fazer coisas diferentes, origina crescimento económico? Não me parece, porque o trabalho utilizado na sua produção é o mesmo; note-se que não estamos a considerar o segundo caso).

Quanto ao último comentário, o que queria dizer é que o teu segundo caso, maior eficiência, como resultado do progresso tecnológico, permite manter um nível de produção mais elevado que na sua ausência, para um diminuição idêntica de consumo dos recursos disponíveis, ajudando no processo a minorar o impacto social dessa diminuição.

Abraço,

Pedro

Filipe Moura disse...

Miguel:

"A respeito deste post do Pedro Viana, eu diria que há 3 maneiras da produção aumentar."

Em princípio pode haver essas três, mas garantidamente só há uma (a primeira que referes). As outras duas requerem... progresso tecnológico. Ora o progresso tecnológico não pode ser controlado. Não podes prever qual vai ser o progresso tecnológico futuro: ele pode, já nem direi acabar, mas estagnar por algum tempo ou tornar-se bem mais lento (nomeadamente, mais lento que o gasto de recursos). Por isso não podes equiparar essas três maneiras de aumentar a produção. os argumentos falaciosos dos antiecologistas baseiam-se sempre numa crença ilimitada na "tecnologia" como panaceia universal (excesso de leitura de livros de ficção científica). Fariam melhor em tentarem perceber... a segunda lei da termodinâmica! (Nota que nada do que eu digo implica desconfiar da tecnologia, e muito menos ser contra ela; apenas digo que não podemos esperar demasiado dela.)

Miguel Serras Pereira disse...

Caros,
uma questão - ou série de questões - prévia talvez ajude a saber melhor, a precisar, os temas em apreço.
A oposição, em termos genéricos, entre crescimento e decrescimento do volume de bens materiais produzidos é POLITICAMENTE estéril e obscurece mais do que esclarece. Tanto no caso da economia capitalista como no de uma economia alternativa não devemos confundir esse aumento da produção de bens materiais nem com a riqueza,entendida em termos clássicos como criação de valor economicamente relevante ou como aumento do PIB, nem com a riqueza social entendida em termos, que a economia não pode calcular: formas de produção e consumo alternativas com ganhos de tempo livre, de progresso das condições de trabalho e de existência em geral, de maior autonomia, de extensão democracia na esfera da produção e direcção das actividades produtivas, bem como na do mercado de bens de consumo.
É evidente que uma sociedade baseada no controle colectivo e democrático da produção, da actividade económica, etc., se não teria necessariamente de aumentar o volume dos bens materiais produzidos, também não teria de o reduzir genérica e indiscriminadamente, pois definiria as necessidades prioritárias segundo critérios diferentes daqueles em que nos encerra a oposição crescimento versus decrescimento, procedendo às opções orientadoras da actividade conómica através de um processo de deliberação e decisão cujos critérios já não seriam fins do tipo "expansão ilimitada das forças produtivas", "expansão da criação de valor (mercantil)", ou "maximização do crescimento do PIB".
Receio bem que, se não introduzirmos pontos prévios deste tipo, a discussão dê lugar a mal-entendidos sucessivos e confunda mais do que esclarece.
Gostaria, por fim, de acrescentar, noutra ordem de ideias, que o Filipe Moura faz uma observação interessante, que eu explicitaria, admitindo que o li bem, nos seguintes termos: a ciência e a técnica não intrinsecamente religiosas e/ou mágicas, mas tornaram-se objectos de crença, tendendo, no imaginário dominante, a ser confundidas com uma galinha dos ovos de ouro ou varinha de condão omnipotente (de direito, senão de facto). A ideia é a de que há, ou vai haver em breve, uma resposta "científica" ou um "processo técnico" de resolver todos os problemas e questões, independentemente da sua natureza. E ºé evidente, como o FM sugere, que esta ideia absurda e generalizada só pode conduzir ao desastre, ao mesmo tempo que, pela irresponsabilidade e regressão cultural que alimenta, é um obstáculo maior ao desenvolvimento de qualquer perspectiva de democratização.

miguel (sp)

David da Bernarda disse...

Neste debate (quase) nunca é referido o papel da sociedade de consumo no capitalismo contemporâneo e de como o consumismo de mercadorias faz parte da ideologia dominante, sendo um processo essencial da alienação. Esta sociedade tem se baseado no desperdício e uma parte significativo do que é produzido é inútil, vai para o lixo ou está programado para não durar.É necessário inverter esta situação, se quiserem chamar a isto decrescimento não há problema.

Esta crítica do consumismo e do desperdício resultante da lógica da produção capitalista também foi introduzido no debate social pelos ecologistas e tem que ser levado em conta em qualquer reflexão sobre as alternativas ao capitalismo. Não vejo como uma sociedade construída na lógica inversa à deste Sistema possa basear-se na produção de mercadorias e no consumismo, em vez de «produzir» bem-estar, saúde, cultura, liberdade e prazer...

Pedro Viana disse...

Concordo completamente com a observação do Filipe, e o desenvolvimento do Miguel (SP). Há uma crença generalizada, profundamente enraizada culturalmente, na inevitabilidade e utilidade do progresso tecnológico (para o bem-estar humano). É natural para nós basearmos as nossas previsões para o futuro naquilo que conhecemos sobre ocorrências no passado. É a essência do senso comum. No entanto, pode levar a conclusões completamente erradas, se não se tiver em conta que as condições que encontraremos no futuro são distintas das que se verificaram no passado. Portanto, quando as pessoas olham para vários séculos de progresso tecnológico no passado, julgam que vai durar para sempre. Em particular, assumem (erradamente) que esse progresso pode acontecer em qualquer área, e que portanto pode dar resposta a qualquer problema que tenhamos de enfrentar.

Para além desta visão estar errada, devido à existência de limites físicos ao progresso tecnológico, numas áreas (eficiência energética: conversão de calor em trabalho) mais do que noutras (rapidez na computação, se acreditarmos que a computação quântica alguma vez terá aplicação prática), como o Miguel (SP) muito bem assinalou, a crença no progresso tecnológico como panaceia universal para todos os problemas de ordem material tem-se expandido a outras áreas. Tendo levado a que cada vez mais pessoas, desde investigadores na área até ao cidadão comum, a acreditarem que há uma (e só uma) solução técnica, ou científica, para problemas económicos, sociais, inclusivé políticos. Um absurdo, que a oligarquia que nos rege tem aproveitado, e incentivado, de modo a fazer crer ao cidadão comum que apenas uma elite "científica" (bajulada, recompensada, mas também ameaçada quando não produz as "conclusões correctas", por essa oligarquia) possui a capacidade necessária para decidir o que é melhor para todos (mas que devido ao controlo exercido pela oligarquia, acaba por sê-lo apenas para alguns). E, assim, encontramo-nos na situação paradoxal em que a ideia de Democracia é (ainda) muito popular, mas a grande maioria das pessoas (em Portugal, em particular) acha que "aqueles senhores" é que sabem o que é melhor, e por isso o melhor é serem mesmo eles a decidir.

Abraços,

Pedro

Miguel Serras Pereira disse...

Caro David,

dizer que foram os ecologistas que introduziram a crítica do consumismo na contestação do capitalismo é talvez um pouco exagerado, não te parece?
E depois, há crítica do consumismo e crítica do consumismo: a denúncia da obsolescência incorporada, por exemplo, mas também a "austeridade"…

Uma vez mais, no fundo, o problema não é quantitativo, não se resume a consumir mais ou menos, mas qualitativo: a questão do que se consome, o poder de decisão sobre a oferta dos bens de consumo, o mercado censitário do acesso a eles, etc. etc.

Mas creio que não andarás muito longe de aceitar o reparo


Cordialmente

miguel (sp)

JMS disse...

Vejo aqui ainda muita relutância em encarar o que para mim é uma evidência: pelo menos para um país como POrtugal, totalmente dependente de importações de petróleo, o decrescimento é inevitável. Tal como é inevitável, a nível global o fim, ou pelo menos uma contração severa, da globalização. Não vamos ter apenas que produzir melhor, vamos ter que produzir menos e consumir menos. Num mundo de petróleo a 100 dólares o barril, vamos ter que produzir localmente o que agora chega da China em contentores; vamos ter que inverter o processo de terciarização da economia observado nos últimos 30 anos, vamos deixar de poder desperdiçar petróleo em consumos discricionários, vamos ter de aprender a fazer melhor com menos. POrtanto, não concordo com o que diz o MSP quando afirma que a oposição entre crescimento e decrescimento é políticamente estéril. Pelo contrário, penso que não há nada mais urgente do que a gestão do inevitável decrescimento económico, gestão essa que é intrinsecamente política: como distribuir um bolo energético em decréscimo por uma população tendencialmente em crescimento, como mudar o chip duma economia viciada em combustíveis fósseis e de uma população viciada em gadgets de compensação simbólica. Haverá coisa mais eminentemente política do que esta?

Miguel Serras Pereira disse...

JMS,

a verdadeira alternativa à actual globalização passa pelo desenvolvimento e extensão não menos globais da cooperação e de instituições federativas democráticas, e não, decerto, pela ressurreição da besta imunda do nacionalismo responsável pelas hecatombes e destruições das duas geurras mundiais do século passado e dos episódios que as continuaram ou acompanharam, e contra cuja reedição, sob formas não menos monstruosas, estamos longe de estar garantidos.
Poderia ainda lembrar-lhe que a própria ideia de uma gestão mais racional e mais justa dos recursos a todos os níveis tem como condição de possibilidade as mesmas formas de cooperação e federação democráticas no plano mundial.

miguel (sp)

Pedro Viana disse...

Caro Miguel (SP),

Creio que aquilo que o JMS está a defender não tem nada a ver com nacionalismo. A economia pode ser mais ou menos localizada, independentemente do alcance territorial das instituições de governação colectiva. Em particular, nada obsta a que vivamos numa economia mais localizada (onde os bens consumidos são produzidos a menor distância), e ao mesmo tempo numa (con)federação política de alcance mundial. Mesmo com a economia mais localizada, nunca deixarão de existir motivos para a cooperação ao nível global. Não precisamos de trocar objectos para nos sentirmos parte da mesma comunidade global. De outro modo, estaríamos a considerar que a natureza humana reduz-se à sua vertente mercantilista.

Abraço,

Pedro

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Pedro,

não vejo qualquer razão de princípio para excluir a produção local nem para a tornar recomendável em todos os casos. Mas vejo todas as razões para, ainda quando nos batemos ou produzimos localmente, não perdermos uma perspectiva global (ou mundial).

Abraço

miguel (sp)

jms disse...

MSP,

Não percebo a que veio essa referência ao nacionalismo. Toma-me por algum sou sócio do PC (ou, pior, do PNR)? Em lado nenhum defendi que a alternativa ao globalismo-capitalista-em-vias-de-colapso seja o nacionalismo. Se alguma coisa defendo, na praia do idealismo onde se formam os sonhos, é justamente uma federação de comunas ao bom velho estilo kropotkinista. Há-de concordar que mais democrático do que isso não pode haver. E também concordo, claro, que uma administração justa dos recursos só é possível se for articulada a nível global.

Outra coisa é ter fé que seja essa harmoniosa e altruísta e democrática gestão comum dos recursos a ter lugar, em vez de mais uma (ou mais dez) daquelas catástrofes e carnificinas que enfeitam os livros de História (humana e natural). Mas disto não creio que valha a pena falar.

Miguel Madeira disse...

"O crescimento económico a que temos assistido nos últimos séculos assenta essencialmente no teu primeiro caso: utilização de mais recursos."

Arrisco-me a sugerir quase o oposto - se algo distingue o crescimento económico dos últimos seculos do crescimento económico dos séculos (e alguns milénios) anteriores é ser bastante assente no crescimento da produtividade, em vez de simplesmente na abundância de recursos (por isso é que antigamente havia uns surtos ocasionais de crescimento que rapidamente acabavam quando se esgotava o recurso que o havia permitido, enquanto no mundo "moderno" o crescimento tem sido mais ou menos constante).

Note-se que, apesar de todas as conversas de "peak oil" e afins, não tem havido grandes aumentos do preço das matérias primas, como seria de esperar num crescimento económico movido basicamente pela utilização crescente de recursos (pelo contrário, uma conversa recorrente nos últimos 200 tem sido a de que os países produtores de matérias-primas eram as "vitimas" do sistema capitalista mundial, que os preços dos seus produtos tenderiam a deteriorar-se face aos preços dos produtos industriais, que esses países iam ficar cada vez mais pobres enquanto os países industriais iam ficar cada vez mais ricos, etc.)

"O segundo caso tem permitido aumentar a eficiência do seu uso, mas não ao ponto de possibilitar, por si só, um crescimento económico minimamente relevante. Em particular, no caso da energia, que é talvez o recurso mais central numa economia, terá havido ganhos de eficiência no seu uso da ordem de 1% ao ano, durante as últimas décadas. "

E um crescimento de 1% não é relevante? Interrogo-me se, de meados dos anos 70 até hoje, os chamados países desenvolvidos (Europa e EUA) terão crescido ao ano muito mais do que isso.



"Finalmente, o 3o caso não me parece muito relevante (...) ou seja, a simples substituição de X objectos por outros exactamente no mesmo número, tendo sido consumidos exactamente os mesmos recursos na sua produção, mas em que os novos objectos permitem fazer coisas diferentes, origina crescimento económico? Não me parece, porque o trabalho utilizado na sua produção é o mesmo"

Algo que me leva a pensar que as "inovações de produto" são responsáveis por grande parte do crescimento económico moderno (ou, pelo menos, do que as estatísticas medem como "crescimento económico"): há tempos, o historiador Niall Ferguson foi bastante "gozado" entre os economistas de centro-esquerda por ter escrito que os números que indicam uma inflação nos EUA de pouco mais que 1% eram fictícios porque, se a inflação fosse medida pelo mesmo cabaz de bens e serviços que em 1978, a inflação andaria nos 10%.

No contexto em que ele escreveu isso é realmente um bocado idiota, mas chama a atenção para um aspecto importante - a inflação nas últimas décadas teria sido muito maior se não fosse a redução de preços implicita no facto de termos produtos melhores pelo mesmo preço. Ora, como o crescimento da economia é calculado pela fórmula crescimento económico = crescimento do produto nominal - taxa de inflação (não é exactamente assim, mas anda muito perto), penso que podemos deduzir que grande parte do crescimento económico registado nas estatísticas é resultado das tais "inovações de produto".

Pedro Viana disse...

A utilização crescente de recursos não origina necessariamente o aumento de preços (descontada a inflação) destes, se houver simultaneamente um aumento da sua disponibilidade. É a escassez que provoca um aumento de preço, e esta não é igual para todos os recursos. Os proponentes do Peak Oil dizem que a nível mundial este está ou estará a ser atingido em breve. Não é claro se têm razão ou não nas suas previsões, mas mesmo que tenham não é óbvio que o preço do petróleo aumentasse tendo em conta a turbulência económica global dos últimos 5 anos. Aliás, antes de 2008 houve um enorme crescimento no preço de matérias primas devido à sua crescente escassez relativamente à procura real e expectável a curto prazo.

Quanto à questão das "inovações de produto", esta reduz-se ao conceito de valor. O único crescimento económico que pode ser objectivamente medido assenta na quantidade de recursos consumida na produção, ou seja no trabalho realizado. Tudo o resto, assente no conceito de valor, é subjectivo e relativo. É subjectivo porque diferentes pessoas, em diferentes alturas, valorizam os objectos de modo distinto. É possível vislumbrar o absurdo de ligar o conceito de crescimento económico ao valor pensando no que aconteceria se, de repente, toda a inovação parasse mantendo-se no entanto a produção inalterável. Tendo em conta que, hoje em dia, nas "sociedades mais avançadas", as pessoas rapidamente se aborrecem com os seus "gadgets", atribuindo-lhes cada vez menor valor com o tempo, seria então de esperar um decrescimento económico, apesar da produção se manter inalterável. Por outro lado, se o trabalho exercido se mantém globalmente o mesmo, então o rendimento efectivamente disponível também se mantém o mesmo (o dinheiro, descontada a inflação, não cresce em árvores). Logo, a atribuição de mais valor a um dado objecto, traduzida num aumento do preço deste, tem de ter equivalente na diminuição do preço de outro, que passa a ser menos valorizado (relativamente ao primeiro). O valor é um conceito relativo, não absoluto.

É isto que me leva a afirmar que não há efectivamente crescimento económico sem aumento do trabalho exercido, ie. produção, ou pelo menos sem aumento da quantidade de objectos (pelo menos com a mesma capacidade funcional) produzidos com o mesmo trabalho e recursos.

Já nem estou a falar sobre o PIB, que apenas mede o volume de trocas que envolvem moeda.