Compreendendo embora a emoção da Ana
Cristina Leonardo (em comentario a este post), não tenho a
certeza de subscrever ao que ela diz quando escreve que "estamos em
guerra". Estamos ? Eu, pessoalmente, não estou. Vou desfilar hoje à tarde
na Place de la République - e passei os dois últimos dias a tentar convencer
muita gente que era importante fazê-lo - mas não vou fazer guerra nenhuma.
Contra quem ?
É que, prezada Ana Cristina, uma guerra é
uma forma de diálogo. Só é possivel com o consentimento de ambas as partes. Ora
acontece que eu não aceito a ideia de estar "em guerra" contra os desgraçados
mentecaptos que chacinaram em nome da fé e que, com toda a certeza,
consideravam estar de boa fé. E
provavelmente estavam de boa fé, uma vez que a fé, por definição, é sempre boa
vista por dentro. O problema é mais quando ela é vista de fora.
Estar em guerra com eles porquê ? Quem é
que lhes quer fazer este favor ? Eu, não…
Muito pelo contrário vou participar numa
marcha cidadã e, neste caso, numa marcha cidadã que é também um desafio ao
discernimento e à inteligência. Ja pensaram bem no paradoxo que é uma marcha
silenciosa para defender a liberdade de expressão ? E há outros paradoxos, mais
difíceis de engolir. Agora anunciam que o Orban, vai estar, e o primeiro
ministro turco...
Mas, ainda assim, eu vou, e julgo não partir
para guerra nenhuma, o que não me impede de ir com os olhos na paz.
“Oh Barbara
Quelle connerie la guerre !”
Quelle connerie la guerre !”
5 comentários:
Boa, J.Viegas! É isso mesmo, no seu sentido mas profundo:como sublinha Pepe Escobar,do que se trata, in limine,consiste num terrivel hardcore geopolitico, onde a manipulação e o obsceno espectáculo letal e apocaliptico vencem mesmo a náusea impensável da religião, mesmo a de contornos mais sacrilegos e intolerantes nos tempos que correm.Niet
É pena que no desfile e ao lado do João Viegas falte o papa Francisco, o rei da Arábia Saudita e o Kim Jong-Un, mesmo assim terá algumas pessoas de boa companhia como Mariano Rajoy, Juncker, Viktor Orban , Ali Bongo etc.
Eu não vou desfilar entre a République e Nation, não porque seja insensível ao horror dos acontecimentos, ou porque não aguente a pé o trajeto tradicional mas porque não estou habituado a tão « charmante » companhia. O meu gosto pelas grandes comunhões è limitado. Muito boa gente sai à rua uma ou duas vezes na vida e esta será uma delas. Compreendo a emoção e o medo de novas « façanhas » do mesmo calibre que infelizmente não deixarão de ocorrer aqui ou ali, mas isso não me fará aderir a um Frente Republicano qualquer. O Vias de Facto está cheio de participantes com soluções que fariam bem em colaborar com « les services de renseignements ».
A senhora Leonardo deveria deixar de utilizar o termo fascismo como explicação a tudo aquilo que ela tem dificuldade em compreender. Não sei também se os colaboradores do Charlie Hebdo eram os seres mais livres que existiam neste planeta mas isso também para mim não tem grande significado pois se eles não fizessem parte desses seres excepcionais o meu olhar sobre o acto seria exactamente o mesmo.
Volto ao senhor João Viegas e à sua candidez num outro post : aquele que fala do Picketty e duma pretendida traição da esquerda. O Picketty não é extremista,certo, mas também não tem nada que ver com um qualquer socialismo. No seu livro de mais de oitocentas páginas a sua grande preocupação são os « exageros » do capitalismo e formula com um certo talento algumas soluções para o tentar domesticar. O problema é que nos dias de hoje falar de limites no que diz respeito ao capitalismo é ser insolente e corre-se quase o mesmo perigo que um caricaturista de Maomé em relação a outros meios. Quanto ao senhor Mario Soares,senhor João, ele não arrumou nada, pois nunca foi nada e ainda menos socialista.
Caro Lapa,
Quanto ao primeiro ponto, saiba que não foi sem hesitações, apos debates bastante animados (e antes de se saber exactamente quem acompanharia a marcha), que decidi participar. Não estou arrependido. Fi-lo pelo seguinte. As reservas que v. exprime, muitas delas legitimas, não podem ser expressas com eficacia sem ocupar o terreno, sobretudo quando o apelo vem da res-publica. Não o fazer é assumir estar em guerra e correr o risco de dar o pior sinal, pelo menos neste momento.
Não atiro pedra nenhuma a quem reagiu como v. Mas não consigo acompanhar, porque não consigo entender : se v. teme a instrumentalização daqueles que desfilam, porque não teme a daqueles que ficam em casa ?
Quanto ao ponto sobre o post relativo ao Picketty, folgo muito em continuar a conversa consigo... contando que v. comece por ler o que esta escrito nodito post, o que manifestamente ainda não fez.
João Viegas, claro se os meus vizinhos do 5º esquerdo me declararem guerra, posso sempre pôr um pano da louça branco à varanda e explicar-lhe por e-mail que não estou em guerra com eles. Na esperança que funcione.
Prezada Ana Crisina,
Sobre os seus vizinhos do 5° esquerdo não me posso pronunciar, mas contra o terrorismo, acredite que aceitar a declaração de guerra é exactamente o que eles querem e é a pior forma de responder.
Alguém entrou em guerra com o idiota do Breivik ? Que eu saiba não...
Assim, os Escandinavos perceberam perfeitamente que não havia nenhum amalgama e que a maioria das pessoas esta decididamente investida na luta contra as discriminações que sofrem quotidianamente os louros de olhos azuis com ideias social-democratas...
Amizade
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