21/01/15
Dúvidas sobre a liberdade de Ana Gomes
por
Miguel Serras Pereira
O que é curioso, depois de lermos a crónica em que Ana Gomes se expande sobre o Charlie Hebdo, é que ficamos sem saber se a autora deste texto intitulado "Sobre a Liberdade" limita a sua condenação da provocação e da blasfémia a uma regra de conduta pessoal — ou se advoga, embora declarando ter sido Charlie, a sua criminalização e censura em termos legais. E, no entanto, teria sido fácil dissipar as dúvidas, se, depois de ter escrito: "gostemos ou não, concordemos ou não, é sabido que representar o Profeta Maomé viola o que há de mais sagrado para os muçulmanos", tivesse escrito igualmente: gostemos ou não delas, concordemos ou não com elas, é sabido que criminalizar ou censurar a provocação religiosa e a blasfémia é atentar contra o direito fundamental à liberdade de expressão e ao livre pensamento.
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2 comentários:
Ola Miguel,
Para mim, a linha de separação das aguas é clara e não consigo acompanhar a Ana Gomes neste texto.
Ainda que fosse perfeitamente estabelecido (o que não me parece ser o caso, cf. infra) que "representar o profeta Maomé viola o que ha de mais sagrado para os muçulmanos", isto jamais poderia chegar para proibir a representação. O insulto ou o ultraje dirigem-se sempre a pessoas concretas, e não às ideias, representações e simbolos em que elas possam acreditar. Não colocar a questão de saber em que medida a representação implica uma agressão ou um atentado à dignidade das pessoas concretas, é completamente inaceitavel e, no caso, é também uma forma de cair na cilada armada pelos terroristas.
E' certo que, se eu cuspir para a fotografia do meu vizinho e afirmar que se trata de um criminoso que devia ser executado sumariamente, não me posso justificar dizendo que se trata apenas da sua representação. Mas afirmar que a representação de um simbolo ou de uma ideia equivale a injuriiar quem nela acredita, isto ja é outra loiça. Se eu disser que, para mim, a cruz suastica é um simbolo religioso e que me sinto ofendido quando ela é achincalhada, vai passar a ser proibido aos caricaturistas representarem a cruz suastica ?
Um texto irreflectido, para defender uma posição perfeitamente insustentavel.
Isto para nem sequer mencionar que o texto esta errado à partida : ha representações de maomé por parte de muçulmanos, como não podia deixar de ser o caso.
Por vezes, iconoclastia rima com idiotice (isto sem qualquer ofensa à devoção que a Ana Gomes possa nutrir pelos idiotas).
Abraços
Ola de novo,
Em complemento, recomendo vivamente a leitura deste artigo (sobre a questão de saber se faz sentido falar em "caricaturar o profeta") : o titulo é genial, e a analise não fica atras :
http://www.liberation.fr/societe/2015/01/21/sans-effigie-du-prophete-il-ne-peut-y-avoir-de-caricature_1185678
Abraço
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