O economista francês Thomas Picketty, referido aqui
pelo Pedro Viana, acaba de recusar a
Légion d’honneur com algum estrondo.
Seja este ou não o motivo, o facto é que ele tem feito coro às vozes, cada vez
mais numerosas, que procuram lembrar ao governo de François Hollande que ele
foi eleito pela esquerda.
Hoje, no Libération, o mesmo Picketty publica um ponto de
vista muito interessante, que julgo dever partilhar convosco (em Francês,
desculpem) :
Picketty não é propriamente um extremista. Tanto quanto sei,
ele foi chamado em 2012 a contribuir para definir o programa económico de
François Hollande, numa altura em que já se percebia muito bem que este aderia completamente à « social democracia » na
sua vertente capitulativa.
Escusado será dizer que as reformas propostas por Picketty
jazem hoje na célebre gaveta onde o Mário Soares arrumou outrora o socialismo…
Como diz muito bem o Gramsci/Jorge Valadas : « Não aos relógios-de-ponto espirituais ! ».
Excelente máxima, que me parece aplicar-se a muitas coisas para além do Ano
Novo.
4 comentários:
Caro João,
é curioso ver como um reformista assumido e típico consegue, apesar da ingenuidade com que parece acreditar ser possível aconselhar um Hollande, ser mil vezes mais "progressista" do que a "esquerda da esquerda" local, anti-europeísta e autoritária (e repara que não me refiro apenas ao PCP).
Forte abraço
miguel(sp)
Faço minhas as palavras do Miguel. Vivemos tempos tão estranhos que qualquer partido ou personalidade social-democrata ou socialista é imensamente menos nocivo do que o nacionalismo autoritário de uma parte significativa da esquerda europeia. Seria interessante que o Syriza vencesse e conseguisse aplicar, pelo menos, parte do seu programa europeísta. Não seria necessariamente uma derrota ideológica, pois as causas do nacionalismo estão noutro lugar, mas essa representaria a maior derrota material das últimas décadas para a esquerda nacionalista. E para o nacionalismo.
Para além de ser a única forma de começar a reverter a austeridade...
Abraços
Caros,
Tanto quanto percebo, o que diz o Picketty está bastante próximo daquilo que pensam muitos na ala esquerda do PS francês. Parece que os "reformistas" estão lentamente a despertar para uma visão mais fina e mais completa do conceito de "realismo", uma visão que não se satisfaz com a simples conquista do poder (para fazer o quê ?). A confirmar-se, isto seria uma excelente notícia.
Isto significa, também, que parece existir hoje mais espaço para que ideias de esquerda se tornem exequíveis, desde que as forças progressistas saibam organizar-se a nível europeu. Outra boa notícia, julgo eu.
É de facto uma pena constatar que a esquerda teima em dividir-se a propósito de fantasmas, em vez de se unir em torno dos seus princípios fundamentais... O meu diagnóstico pessoal, válido para os dois extremos (reformo-capituladores de um lado, guerrilheiros da Póvoa de Lanhoso do outro) é simples : falta de compreensão daquilo que implica o autêntico realismo…
Abracos
JVE e MSP em ininterrupto 69 sectário.
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