07/01/15

Sei perfeitamente porque me lembrei hoje disto que o Luís Rainha escreveu em Fevereiro de 2010

O post chama-se Se pudesse, nem sei o que faria à "resistência islâmica", e diz o seguinte: Sinto-me mais próximo do meu cão do que de qualquer criatura capaz de matar “em nome de deus”. E sei bem que, feitas todas as contas, preferiria que os meus filhos vivessem como pobres nos EUA do que como nababos em qualquer estado islâmico. 

8 comentários:

João Valente Aguiar disse...

"O horror! O horror!"

Abraço e solidariedade contra o horror e o irracionalismo

Libertário disse...

Para quem, como os anarquistas, combateram o fanatismo religioso, o espírito inquisitorial e o pensamento totalitário, estas correntes islâmicas não podem deixar de ser nossas inimigas. Neste ponto somos radicais na solidariedade com estes jornalistas franceses, além do mais de forte espírito libertário, vítimas desse fanatismo religioso.

Outra coisa, nem sempre claramente distinta, é a resistência em diversos países islámicos que combate a ocupantes ocidentais, pois nesse caso o problema não de luta religiosa, mas de luta política e social.

Vale a pena não esquecer que os países islâmicos com estados laicos, e os movimentos árabes revolucionários, foram combatidos e alguns deles destruídos pelos países "ocidentais" em nome da nossa superioridade moral e política.

O que os Estados Unidos, e seus aliados, fizeram contra o Egipto de Nasser, ao Iraque, à Síria, à Libia e tentaram fazer ao Irão diz muitos do cinismo, e das ambiguidades, contidas no discurso político oficial "anti-fundamentalista".

Afinal foram eles, EUA e seus aliados, que alimentaram os grupos fundamentalistas, incluindo os do Afeganistão, nesse passado recente.

Por tudo isso não sou candidato a viver como pobre nos EUA, onde jamais gostaria de viver, e onde não faltam também fundamentalistas cristãos, nem como nababo em países islâmicos dominados por teocracias religiosas...

joão viegas disse...

Ola,

Não ha palavras. Continuar a rir e a gozar de tudo, sem quaisquer entraves, é o que nos resta para homenagear devidamente os grandes que se foram ontem, vitimas da cega estupidez movimentada por tristes falhados. As catastrofes naturais, ou o cancro, conseguem fazer mais estragos, mas são menos repugnantes. A estupidez não pode levar a melhor. Nunca. Quanto mais não seja por uma razão : não sabe rir...

Nous sommes tous Charlie

Abraços

Grupo Regard Noir disse...

Não uivaremos com os lobos!

O atentado cometido esta quarta-feira 7 de Janeiro pela manhã contra o Charlie Hebdo por alguns indivíduos, reclamando-se do Islão, não nos deve fazer perder a capacidade de raciocínio, apesar da emoção, bem compreensível, que nós partilhamos, de muitos camaradas nossos. Se num determinado período o meio libertário, muito em particular a nossa organização, esteve próximo destes herdeiros do Hara Kiri, a sua emanação contemporânea já nos deixou de fazer rir há muito tempo.

Não escolhemos nem vamos escolher entre integristas e desinibidores dum racismo “de esquerda”. Nós não escolheremos entre reaccionários religiosos de que conhecemos bem as práticas qualquer que seja a sua seita e um jornal veiculando a islamofobia debaixo da cobertura da laicidade e da liberdade de expressão. Desde a sua origem a nossa organização combate todas as religiões e as suas emanações integristas venham de onde vierem. Não cairemos na armadilha grosseira da unidade nacional contra “o inimigo comum”.

A nossa solidariedade vai para aqueles que vão sentir o ricochete deste assassinato imbecil e criminoso a mais do que um título. Já se ouviu o tiro de partida para a caçada e o que retém o poder “socialista” de se lhe entregar totalmente é o medo de não serem eles a recolherem os frutos nas próximas eleições. Vemos já florirem os discursos sobre a guerra civil, apenas algumas horas depois deste atentado.

Nós não escolheremos também o terreno duma extrema-esquerda que confunde, na sua estupidez essencialista e politiqueira, realidades tão diversas como o proletariado, o Islão, o racismo, os sem-papéis ou os “jovens da periferia”, fantasiando sobre um alegado potencial revolucionário dos muçulmanos.

Este atentado dá-se num período de estigmatização dos muçulmanos ou assimilados enquanto tal. É preciso relembrar que a islamofobia é um instrumento do poder visando dividir a nossa classe e as suas lutas. Ela não se desenvolve como reacção a um alegado “problema muçulmano”. O movimento anti-Islão alemão “Pegida”, que ganha dimensão, é caracterizado por esta psicose, mas a população “muçulmana” deste país representa menos de cinco por cento da população.

No entanto, é principalmente sobre este sentimento de invasão, “de islamização”, que a extrema direita se estrutura nestes últimos anos. Não temos nenhuma dúvida de que o massacre reaccionário de Charlie Hebdo vai reforçar este fenómeno e dará à FN (Frente Nacional, fascista) e aos seus satélites uma maior legitimidade para defenderem a existência de um conflito étnico como problema de fundo e a escolha nacional como solução.

Neste período conturbado, os anarquistas devemos guardar a cabeça fria e manter uma linha de demarcação clara entre nós e os nossos inimigos: integristas de todas as capelas, xenófobos de esquerda como de direita, sexistas de todos os horizontes e pretensos comunistas virados para a reconciliação nacional e para o inter-classismo.

Grupo Regard Noir – Federação Anarquista

Anónimo disse...

" Multiplicando o agitar de espantalhos, acaba-se por gerar monstros ": Émile Zola, frase histórica retomada por E. Plenel numa sessão conjunta Mediapart/ Rue 89-Nouvel.Obs, de análise ao assassinato de quase toda a equipe redactorial do Charlie Hebdo, ontem em Paris, por um comando dijahista ainda não totalmente identificado.O video deve ser procurado em www.rue89.fr Niet

joão viegas disse...

O grupo "regard noir", que não conheço de parte nenhuma, parece ter escolhido este momento para nos mostrar como manter a cabeça fria enquanto traçamos a linha de demarcação entre os puros e os cães infieis. Parece que isto passa por escolher lembrar que eles ja não achavam muita piada ao Charlie Hebdo, o que os leva a afirmar, tanto quanto percebo, que deplorar a morte de Cabu, de Wolinski, de Charb, de Maris e dos outros equivaleria a "uivar com os lobos"...

Ja li textos mais inteligentes.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João,

é isso mesmo. Vá lá que o grupo dos indómitos em causa põe um pouco de água no vinho, abstendo-se, no último momento, de considerar o atentado um acto de resistência ou combate anti-imperialista. De certo modo, seria mais honesto que o dissessem, e uivassem, não com os lobos, mas com aqueles que o Estado Islâmico acaba de proclamar heróis.

Abraço

miguel(sp)

Regard blanc (et bien portugais) disse...

Mas que rico exemplo de liberdade, honestidade intelectual e respeito para com opiniões diferentes da nossa:

«De certo modo, seria mais honesto que o dissessem e uivassem, não com os lobos, mas com aqueles que o Estado Islâmico (sic) acaba de proclamar heróis»

Sim, senhor! Estamos esclarecidos, ó miguel(sp)...