27/03/15

Em que ficamos?

Lê-se na página do José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda, que na Assembleia da República o PCP e os Verdes terão votado contra um voto de solidariedade com Rafael Marques, jornalista que tem divulgado atentados aos direitos humanos protagonizados pelo regime angolano, e que neste momento está a ser julgado em Luanda. Concordando com o voto favorável do BE e dos 5 deputados do PS em solidariedade com Rafael Marques, cabe perguntar o seguinte.
Se o PCP e os Verdes preferem defender um regime que do ponto de vista político viola regularmente os mais básicos direitos de associação política, e que, do ponto de vista das políticas sociais em nada cumpre com a defesa de serviços públicos (basta lembrar que, em 2010, a taxa de mortalidade infantil em Angola era de 104 mortos por cada 1000 nados vivos), então como pode a esquerda esperar constituir alianças políticas com aqueles intervenientes da CDU. Se uma política de esquerda minimamente democrática terá de pugnar, pelo menos, pela defesa das liberdades e garantias dos cidadãos e pela manutenção de serviços públicos de qualidade, então como é possível alguém conceber alianças políticas com partidos que se proclamam defensores dos direitos democráticos e do Estado Social, mas que, no final de contas, não têm qualquer problema em manifestar solidariedade efectiva e prática com o Estado angolano.

6 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Joao,
nem mais — assino por baixo.
Daí que talvez não devamos continuar a perguntar como será possível unir a esquerda, mas como poderemos promover a confluência de forças e movimentos em torno de um programa de democratização efectiva que seja o critério de unidade dos grupos e movimentos que combatam e tendencialmente substituam, pelas formas de organização e métodos de acção adoptados, as relações de poder dominantes em todos os sectores da existência colectiva.

Abraço

miguel(sp)

Anónimo disse...

Boa, eu que até estou com o BE nesta questão, gosto de ver cúmplices da actual situação líbia e das violências que aí permitiram seguirem apostados em fazer convergir representantes de forças que permitiram essa situação e
representam uns sete ou oito por cento dos eleitores se juntadas ao bloco.

sem contradições, a V. convergência de esquerda deve estar madura lá para 2127.

jose guinote disse...

A mimetização do PCP pelo Bloco é um processo que, desgraçadamente, tem feito o seu caminho. Esta iniciativa de dirigentes ou simpatizantes do PCP - cujas simpatias para com o BE são conhecidas - visa acentuar o processo de anulação do BE e evitar que, neste momento específico, o BE possa de alguma forma beneficiar eleitoralmente do que se está a passar na Grécia. A adesão de alguns dirigentes do BE a esta iniciativa é uma acção objectiva a favor da anulação do Bloco. Podia o PCP ter tido uma posição decente no voto de solidariedade com o Rafael Marques que, mesmo assim, esta aliança não deixaria de ser um enorme disparate político. Como é que o BE se quer entender com o PCP no contexto da defesa da saída da UE e da saída do Euro? Afinal o BE é o partido irmão do Syriza ou do KKE, a primeira organização política grega a convocar uma manifestação contra o novo Governo grego?

Anónimo disse...

O José Guinote é como o MSP e o Valente Aguiar.

Querem que o BE se alie ao Livre daquele senhor que enquanto euro-deputado foi cúmplice, como eles o são moralmente, da actual situação líbia, terrível de direitos humanos e tortura e tratamentos cruéis,desumanos e degradantes.


Mas não. O PCP é para eles uma coisa que meteram na cabeça ser um cavalo de Tróia estalinista, uma mentalidade sectária de guerra fria que são patologicamente incapazes de deixar.


De caminho ajuntam mais uns quantos movimentos partidários e cívicos e juntos chegarão aos sete por cento. Vemo-nos nessa grande convergência vitoriosa sem contradições (tirando a que conduziu ao ISIS na Líbia e aos tratos que sofreu o ditador Khadaffi).

João Valente Aguiar disse...

José Guinote,

«A mimetização do PCP pelo Bloco é um processo que, desgraçadamente, tem feito o seu caminho.»

Pois, e isso é péssimo em dois sentidos. Para o Bloco, pois quando as pessoas começam a perceber que as semelhanças surgem, elas preferem sempre ir atrás do mais votado. Ou seja, preferem sempre o original à cópia.
Por outro lado, é inacreditável mas no final deste ano, após as legislativas, a esquerda (supostamente) à esquerda do PS será quase totalizada pelo PCP... Espantosamente, quinze anos depois da formação do BE o que sobra do que tentaram constituir, na altura, como um campo alternativo ao PS e ao PC? Tanto esforço para no final acabar por tudo redundar num PCP mais pequeno, ou algo aparentado...
O grande objectivo do PCP em que não haja nada realmente vivo e alternativo à sua esquerda poderá, final e lamentavelmente, vir a concretizar-se. O que seria uma total novidade histórica das últimas cinco ou seis décadas. Espero estar enganado.
A pergunta que se deve colocar é pensar como uma esquerda moderna, pró-europeia e ligada aos trabalhadores qualificados e da mais-valia relativa acabou por mimetizar os traços arcaicos da esquerda da mais-valia absoluta...

abraços

Anónimo disse...

ah, PCP malandro que conseguiu o seu grande objectivo que o Aguiar e o Pereira bem toparam, fazer-se mimetizar. E ainda vos hão-de apanhar para vos comer os netinhos ao breakfeast.