Seminário
25
de Março, FCSH-UNL, Edifício I & D, Sala Multiusos 2
10h00 Rita Luís, Espanha e o ideal europeu (1973-1982)
Comentário de Luís Trindade (IHC/FCSH-UNL)
11h15 João Rodrigues, Financeirização semiperiférica: o caso de Portugal
Comentário de Bruno Peixe Dias (CFUL)
14h00 José Nuno Matos, «Veiga Simão II»: Neoliberalismo e as políticas de educação e formação
profissional em Portugal (1980-1991)
Comentário de Nuno Domingos (ICS-UL)
15h15 Miguel Pérez, O
poder dos trabalhadores em Portugal (1974-80)
Comentário de Ivo Veiga (IHC/FCSH-UNL)
16h30 Ricardo Noronha, A via portuguesa para o
neoliberalismo (1976-1989)
Comentário de Elisa Lopes da Silva (ICS-UL)
Espanha e o ideal europeu (1973-1982)
Na Espanha do tardo-Franquismo e da transição democrática a ideia de
Europa serviu como factor de democratização, no mesmo sentido em que a
concepção de democracia liberal se foi tornando hegemónica. Neste sentido, o
ideal europeu confunde-se de certa forma com o democrático, já que durante o
tardo-franquismo o significante democracia foi disputado, acabando por se
tornar hegemónica a concepção liberal da mesma – que tem como arquétipo a
Europa do mercado comum -, ao redor da qual se agrupam desde a cultura política
de identificação com o regime franquista, anteriormente formada na recusa tanto
da democracia liberal como do mundo socialista, como a cultura política de
alienação em relação ao regime, consecutivamente órfã de modelos democráticos.
Esta comunicação concentra-se no período que medeia entre o golpe de
Estado de Pinochet no Chile, celebrado unicamente pelo jornal monárquico
conservador ABC e as eleições
legislativas de 1982, ganhas por maioria absoluta pelo PSOE, quando um jornal
novo como é Diario 16 assume que
apenas o centrismo pode impedir a ressurreição das duas Espanhas, da mesma
forma que apenas a democracia foi capaz de fazer o que o Franquismo não
conseguiu: destruir o Partido Comunista. Pretende-se observar como se vai
instalando a lógica dos equivalentes e de que forma o ideal europeu moldou, no
que se refere à esfera pública, a concepção da ideia de democracia em Espanha,
independentemente do regime político vigente.
Rita Luís é doutoranda no Departamento de comunicação da Universitat
Pompeu Fabra em Barcelona. Membro do Grup de Recerca en Periodisme da
mesma Universidade; participou no projecto de investigação Notícias
Internacionales de España en la Transición (2010-2012) e, actualmente, no
projecto El papel de la prensa diaria en la transición democrática. Cobertura informativa y
comportamiento político de periódicos y periodistas (2013-2015). É
igualmente investigadora do Instituto História Contemporânea. Escreveu uma
dissertação sobre a Revolução Portuguesa de 1974-1975 e a imprensa Espanhola.
Financeirização semiperiférica: o caso de Portugal
Esta
comunicação discute os principais traços da financeirização da economia
portuguesa, destacando as relações entre o setor financeiro nacional e os
agentes internos e externos. Especial atenção é devotada ao papel das forças
externas, nomeadamente as que estiveram subjacentes à integração europeia, um
elemento decisivo na inserção, mediada pelo Estado, da finança nacional nos
circuitos dos mercados financeiros internacionais. A partir da experiência
portuguesa, destaca-se a natureza específica da financeirização semiperiférica,
esperando assim contribuir para uma agenda de investigação sobre o
desenvolvimento desigual do capitalismo das últimas décadas.
João Rodrigues (CES) é
professor auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e
investigador do Centro de Estudos Sociais. A sua investigação tem-se debruçado
sobre temas de economia política, da história do neoliberalismo à crise do
Euro. Esta comunicação foi escrita em conjunto com Nuno Teles (CES) e Ana
Santos (CES)
«Veiga Simão II»: Neoliberalismo e as
políticas de educação e formação profissional em Portugal (1980-1991)
No início da década de 80, a perspetiva de adesão de
Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) conduziu a uma série de reformas
estruturais nas esferas da educação e formação profissional. Inspiradas nas
teses do capital humano, estas
representaram uma tentativa de reaproximação da educação/formação e do mercado
(afastados durante o processo revolucionário), ilustrativa da
associação cada vez mais direta,
segundo Theodoro Schultz, entre o investimento
no homem e o crescimento económico. À
semelhança das reformas operadas durante os últimos anos do Estado Novo, a
criação de novas políticas educativas foi realizada num ambiente de diálogo com
organizações internacionais, em particular a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE). Em 1986, com a assinatura do tratado de
adesão à CEE, estas medidas passariam a contar com avultados investimentos
estruturais concedidos pelo Fundo Social Europeu (FSE). O objetivo desta apresentação reside na
identificação das principais linhas que atravessam as diversas reformas
produzidas nestas áreas. Analisaremos, em particular, a preconização de um tipo
de ensino dual, dispositivo através do qual os estudantes são divididos e
orientados para distintos níveis de ensino e formação, consoante as suas “aptidões”
e “vocações”; e a sua execução, baseada em formas de «governação»
conjuntamente desenvolvidas por organismos privados e/ou
do terceiro setor. O processo não será, contudo, livre de profundas
contradições. Além da existência de estruturas produtivas arcaicas, pautadas
por reduzidos níveis de aplicação científica e tecnológica e pela aposta no
fator custo, e da relativa autonomia do campo escolar, nem sempre disposto a
aplicar receitas pré-definidas, são as próprias expectativas de grande parte
dos alunos que parecem constituir um excesso, ultrapassando o destino que lhes
é vindicado.
Licenciado e mestre em
Ciência Política pelo ISCSP-UTL, José
Nuno Matos é doutorado em sociologia no Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), com a tese O Operário em
Construção: das Relações Humanas ao Trabalho Temporário. Encontra-se
presentemente a desenvolver um projeto de pós-doutoramento em torno da relação
entre a prática jornalística e a precariedade. Tem dedicado os seus
estudos às questões do trabalho, do sindicalismo e dos movimentos sociais.
O PODER DOS TRABALHADORES EM PORTUGAL (1974-80)
Tentaremos nesta
apresentação traçar uma perspetiva ampla do movimento operário português,
focando essencialmente o periodo posterior ao 25 de Novembro de 1975.
Os nossos eixos serão:
- A evolução do movimento
sindical unificado e o processo de divisão que culmina em 1978, analisando
aspectos como a sua estrutura e composição;
- A “arrumação” paulatina
das Comissões de Trabalhadores, que se integram no movimento sindical e
abandonam as pretensões mais revolucionárias;
- A evolução dos sectores
onde a gestão privada foi afastada em 1975, sobretudo as empresas em autogestão
e as intervencionadas;
-Ainda, uma ideia geral do
processo de contra-reforma agrária, que parece-nos constituir um pano de fundo
global para o conjunto do movimento.
Miguel Pérez (1975) licenciou-se em Geografia e História em na U.
de Oviedo em 1998, tendo obtido o grau de Mestre pela FCSH em 2009, com uma tese
sobre as Comissões de Trabalhadores durante a revolução portuguesa de 1974-75.
É investigador do IHC e bolseiro da FCT, tendo contribuído para várias obras
sobre história portuguesa contemporânea.
A via
portuguesa para o neoliberalismo (1976-1989)
O texto constitucional aprovado em 1976 considerou
irreversíveis as nacionalizações efetuadas ao longo do processo revolucionário,
prescrevendo o seu papel enquanto motor do desenvolvimento económico do país e
base para a construção de uma sociedade socialista em Portugal. A partir da
segunda revisão constitucional, efetuada em 1989, predominou a ideia de que a
economia deveria ser libertada da intervenção do Estado e conduzida pela
iniciativa privada no quadro do mercado. As alterações ao texto original da
Constituição espelharam uma mudança de paradigma inseparável da interpretação
da crise económica e das suas causas. Se o debate político começou por
centrar-se no modelo de desenvolvimento prescrito pela Constituição, viria a
oscilar, ao longo da década seguinte, no sentido de um questionamento da parte
económica do texto constitucional, abrindo caminho a discursos críticos da
intervenção do Estado na economia e apologistas de um processo de liberalização
em sintonia com as transformações em curso na esfera internacional. Esta
comunicação debruça-se sobre a formação de um campo intelectual apostado em
transformar a formação social portuguesa num sentido liberalizante, composto
por diversas sensibilidades, discursos e interesses, heterogéneo mas suficientemente
coeso para mobilizar um bloco social, uma maioria parlamentar e uma estratégia
política capaz de romper com a situação vigente até 1989, abrindo um novo ciclo
histórico caraterizado pela estabilização de um regime liberal-democrático e de
uma economia de mercado no quadro da integração europeia. Esse campo
intelectual formou-se num contexto de crise estrutural da formação social
portuguesa, marcado por uma acentuada degradação dos seus termos de troca com o
exterior, frequentes dificuldades ao nível da balança de pagamentos (que
resultaram em dois acordos de estabilização celebrados com o Fundo Monetário
Internacional em 1978-79 e 1983-84), um sector empresarial do Estado em grande
media deficitário, um ritmo de crescimento do produto interno bruto incapaz de
empregar o conjunto da população ativa e uma forte instabilidade governamental,
dando forma aos contornos e traços específicos de uma «via portuguesa para o
neoliberalismo».
Ricardo
Noronha (1979) é doutorado em História pela
Universidade Nova de Lisboa, com uma dissertação dedicada à nacionalização do
sistema bancário durante o processo revolucionário português. É investigador do
Instituto de História Contemporânea (FCSH-UNL), no âmbito do qual se tem
dedicado ao estudo da conflitualidade social e das transformações da economia e
sociedade portuguesa durante a segunda metade do Século XX.
1 comentários:
Dificil perceber como alguém que diz concordar com a fascista Marine é capaz de fazer uma análise sensata ao neo-liberalismo... LoL
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