As autoridades de Saúde britânicas institucionalizaram novas regras quanto à aplicação de piercings vaginais. A partir de abril, qualquer mulher que coloque piercings na vagina vai passar a fazer parte do grupo de vítimas de uma prática que é ilegal no Reino Unido: a mutilação genital feminina.
Por outro lado, os profissionais que compactuarem e colocarem os piercings ficam, aos olhos da lei, sujeito a sanções. Correm ainda o risco de serem vistos como criminosos por incentivarem a prática da mutilação genital feminina.
O que dizer disto? Logo à partida é de assinalar que a notícia não começa com "a Câmara dos Comuns aprovou novas leis quanto à aplicação de piercings vaginais", nem sequer com "o governo britânico aprovou novas regras quanto à aplicação de piercings vaginais", mas sim com uma referência às "autoridades de Saúde" - ou seja, decisões que para todos os efeitos equivalem a leis estão a ser aprovadas, não pelo parlamento, nem sequer para um órgão como o governo que ao menos ainda tem legitimidade democrática clara, mas provavelmente por obscuros tecnocratas (é o que me parece pela expressão "autoridades de Saúde", que suspeito seja algo estilo a DGS em Portugal); se a democracia representativa já é criticável, ainda pior é esta tecnocracia só muito indiretamente democrática, em que decisões políticas são aprovadas como se fossem simples procedimentos técnicos.
Deixando a forma, vamos ao conteúdo - esta equiparação faz algum sentido? Acho que não - os piercings vaginais podem ser uma parvoíce, mas são uma decisão livre de que os coloca (mesmo os piercings vaginais possam ser perigosos para terceiros e não apenas para quem os usa, mesmo aí continuamos a falar de decisões voluntárias); já o problema principal com a mutilação genital feminina é exatamente o ser praticada à força, ou no mínimo contra raparigas ou meninas ainda sem capacidade de auto-decisão
1 comentários:
Se cada um pagar os custos da sua opção, estou de acordo.
Todos pagarem uma extravagância já não me parece acertado.
Não é equiparável a uma dependência,por exemplo.Como não é equiparável à mutilação genital, que para além de provocar um sofrimento sem nome, tem objectivos obscurantistas para contrariar a emancipação feminina.
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