Diz então a IGAI
que houve "abuso de poderes funcionais" por parte dos agentes. Enumera:
"empunhar o bastão com o cotovelo acima do ombro" (dando balanço); bater
na cabeça (e até na cara, num dos casos reportados pelo relatório);
conduções ilegais a esquadra "para identificação"; colocação de pessoas,
nem sequer detidas formalmente, em celas; etc. Menciona por exemplo um
bombeiro que, indo para o trabalho, foi apanhado na confusão e acabou
cinco dias no hospital e uma jovem de 17 anos que diz terem-na obrigado a
despir-se integralmente e a pôr-se, nua, de cócoras (fez queixa ao
DIAP, que arquivou), entre outros. Conclusão da IGAI: se a conduta dos
agentes em causa "mereceria certamente censura e ação disciplinar", como
"as caras estavam escondidas pelos capacetes e viseiras" nada se pode
fazer. O mesmo quanto às nove pessoas que alegam ter sido agredidas na
casa de banho da esquadra do Calvário por "agentes embuçados": "Uma
agressão poderia produzir gritos e estes seriam ouvidos pelas muitas
pessoas que estavam na esquadra", cita o Sol. Mas "mesmo que houvesse
prova, os seus autores não poderiam ser reconhecidos" - estavam
embuçados, então. O jornal resume: "Tudo arquivado." Pode
acrescentar-se: batam, prendam ilegalmente, torturem, desvirtuem por
completo a vossa missão, envergonhem o vosso uniforme, senhores
polícias. Desde que ninguém filme e tapem a cara, da IGAI (que também
pode pintá-la de preto, já agora) não esperem castigo.
Fernanda Câncio, «Como os bandidos», Diário de Notícias, 10 Abril 2015
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