Seria difícil descobrir ilustração mais autêntica do que esta crónica de Manuel Carvalho da Silva, em plena pré-campanha de uma pré-candidatura a chefe de Estado, do modo como o corporativismo e a tecnocracia da gestão são a ideologia espontânea dos sindicalistas cuja ascensão na hierarquia burocrática das centrais impele a procurarem um lugar na cena política, aspirando ao ingresso no "arco da governação". Aqui ficam o link para a versão integral da crónica e alguns excertos mais demonstrativos da mesma e da sua tese central — aquilo de que precisamos é de "governantes sérios e capazes" como Manuel Carvalho da Silva.
Os fatores mais determinantes para a produtividade são: a existência de uma matriz de desenvolvimento que seja atrativa e desafiante para o comum dos empresários e não para os especuladores e oportunistas (portugueses e estrangeiros); a qualidade da gestão; a existência de qualificações dos trabalhadores e dos patrões; o investimento na investigação, na ciência e na tecnologia; poder de compra generalizado entre a população; acesso ao crédito em condições aceitáveis; diminuição dos chamados custos de contexto; existência de uma Administração Pública eficaz e de um poder político "limpo" e empenhado no interesse nacional e não na sujeição aos mercados e às relações promíscuas entre interesses privados e interesse público.
O FMI no seu relatório de 16 de março escreve "a produtividade dos trabalhadores, sobretudo os menos qualificados, depende também das qualificações dos gestores. Deve-se, portanto, rever a eficácia e amplitude dos programas para promover as competências de gestão em Portugal". Posteriormente, o governador do Banco de Portugal também veio colocar o dedo nesta ferida e alguns órgãos de Comunicação Social têm feito a abordagem do problema, também a partir de estudos internacionais.
Quanto mais precário e instável for o trabalho e mais baixa a exigência de qualificações dos trabalhadores; quanto mais reduzido for o nível de formação de patrões e gestores e estes tiverem de decidir em contexto de inseguranças e fragilidades, menos possibilidades teremos de nos tornar mais produtivos. Por outro lado, a efetividade dos direitos no trabalho e a existência de relações de poder equilibradas entre trabalhadores e patrões são determinantes para moldar a valorização que se atribui ao trabalho, para garantir emprego, e ainda para definir o sentido concreto do desenvolvimento económico, social, cultural e político de uma sociedade.
Já chega de chantagens e maldades sobre os trabalhadores. Precisamos, é certo, de melhorar o nível de gestão, mas talvez sejam mais perniciosas as "excecionais" capacidades dos Zeinal Bava que atuam neste país do que as fragilidades e falta de motivação (que são reais) para inovar e aprender de muitos pequenos patrões, inseridos numa economia e sociedade tolhidos por uma austeridade sem sentido.
O tempo que vivemos sem dúvida exige aprendizagens no trabalho, desde logo aos gestores, mas também nos desafia a trabalhar outros rumos e compromissos de desenvolvimento e a encontrar governantes sérios e capazes.
12/04/15
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3 comentários:
Miguel de todas as candidaturas esta é a que mais me interessa e não faço dela um exercício de reflexividade crítica dos sindicatos e dos aspectos negativos do corporativismo e da burocracia interessa-me mais a questão da autenticidade que tenho dificuldade em ligar com a tecnocracia da gestão e a ideologia espontânea porque não são essas as influências decisivas da central que CS dirigiu e ainda menos o vejo a ele pessoalmente como um carreirista.
Do que conheço do seu pensamento leio estas declarações no contexto de uma resposta coerente com o que CV pensa e o que eu penso dele um ex-sindicalista experimentado que depois de deixar o cargo seguiu uma carreira académica com todo o mérito a partir de um doutoramento coerente independentemente do que se pense CV é obstinadamente contra o pensamento único,não é um revolucionário mas um lutador contra o neoliberalismo e as políticas económicas criminosas.
O que é que pensará o douto Carvalho da Silva do poder real e efectivo do shadow-banking e da potência dos Fundos de Investimentos internacionais- da ordem inimaginável de uma quota impressionante do PIB mundial...- que tanto medo provocam na Reserva Federal norte-americana e na sede do Banco Central Europeu em Frankfurt? Vai negociar o quê e com quem? Niet
António,
não digo que MCS seja um carreirista. O que se passa é que a crónica exprime em termos inequívocos uma ideologia (neo)corporativista e faz de um modelo corporativo e tecnocrático a alternativa à austeridade. Expressões como "relações de poder equilibradas" entre entidaees patronais e trabalhadores, "qualidade da gestão", "matriz de desenvolvimento que seja atractiva e desafiante para o comum dos empresários e não para os especuladores e oportunistas", etc., etc. provam-no bem. Não se trata, repito, de julgar a personalidade de MCS, mas o seu posicionamento político e as consequências políticas dos seus enunciados programáticos.
msp
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