A tradição já não é o que era. A necessidade de responder aos terríveis avanços da direita europeia, influenciada pela tradição libertarista americana, mobiliza, um pouco por todo o lado, os mais inesperados apoiantes. Se por cá avança - tanto quanto se percebe a bom ritmo - a tão inesperada quanto desejada maioria de esquerda, no Reino de Sua Majestade é a vetusta, e para muitos obsoleta, Câmara dos Lordes que resolve dizer basta à deriva extremista de Cameron e Osborne. Estes dois símbolos maiores do neoconservadorismo Europeu, encorajados com a recente vitória eleitoral, resolveram antecipar o calendário de destruição do Estado Social. Tratava-se de implementar o corte de 12 biliões de libras nos apoios ao Estado Social. Uma primeira aplicação do "programa" traduzia-se na anulação de todos os créditos fiscais, com incidência na saúde, na educação e na habitação.
Esta medida, com impacto violento nas classes de menor rendimento, como foi unanimemente reconhecido, atingiria uma tal violência social que levou os Lordes a votarem o adiamento da sua entrada em vigor, até que medidas compensatórias tenham sido suficientemente estudadas.
A reacção de Cameron e Osborne foi violenta. Desde a invocação de uma práctica que remontará a 1909 - a de que os Lordes não se imiscuem em questões de natureza fiscal ou financeira - até à ameaça de que irão solicitar uma alteração das competências da Câmara, que determinará a impossibilidade futura de actuações deste tipo.
O que não deixa de nos suscitar um sorriso, atendendo ao discurso pós eleições de Cavaco Silva e ao tom dos comentários da direita, é o facto de ser a híper-conservadora Câmara dos Lordes a ousar enfrentar e conter o desvario radicais e extremistas dos Conservadores Britânicos.
A actuação dos Lordes contrasta com a de alguns dos deputados Trabalhistas que aprovaram o pacote fiscal dos Tories desobedecendo expressamente às orientações do novo líder, Jeremy Corbyn. Aqueles deputados que Cavaco gostaria de encontrar também no parlamento português no seio da bancada do PS, para viabilizar o Governo do seu partido e a sua política anti-social. Aqueles a quem apelou na sua crispada declaração.
Será caso para que os Lordes ensinem a todos os que clamam pela tradição e pelo seu respeito lembrando uma ideia simples e compreensível: novos tempos carregados com novas e mais terríveis ameaças, resultado de opções políticas que visam implodir os alicerces do sistema social em que vivemos, obrigam à mobilização de novas energias e de todas as forças que as possam deter. Trata-se afinal de dar uma resposta eficaz à crise humanitária que esta direita libertariana ameaça estender a toda a Europa. Sempre em benefício de alguns com prejuízo para todos os outros, como é timbre da direita radical e extremista.
28/10/15
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