27/10/15

Tradições

Tem-se falado muito numa suposta tradição de deixar o partido mais votado governar, mesmo que não tenha maioria. Mas existirá realmente essa tradição?

Da parte do PS não me parece que alguma vez tenha existido: da única vez que existiu um governo minoritário do PSD (85-87), o PS apresentou uma moção de rejeição a esse governo, votou contra uma moção de confiança e a favor de uma moção de censura; ou seja, fez tudo o que era institucionalmente possível para deitar esse governo abaixo, desde o primeiro dia (é verdade que votou a favor dos orçamentos, mas alterando-os de tal maneira que o governo se queixava que estava quase a governar com o orçamento da oposição); o que manteve o primeiro governo Cavaco no poder foi a muleta do PRD, e quando este passou definitivamente para o lado da oposição e apresentou uma moção de censura, o governo caiu (ao contrário do que o PRD imaginaria, levantou-se logo a seguir e foi a muleta que ficou esmagada).

Mas, e do outro lado? Não poderemos dizer que o PSD e/ou o CDS têm deixado os governos minoritários do PS governar? Até certo ponto é verdade (um aparte - o que teria contecido em 1997 se o presidente fosse Cavaco e não Sampaio, quando o governo Guterres aprovou o orçamento com o apoio de um partido oposto aos nossos compromissos europeus?); mas também é verdade que nunca ocorreu o PS ser o partido mais votado mas o PSD e o CDS terem em conjunto uma maioria que lhes permitisse formarem eles um governo (sempre que o PS foi o mais votado, a esquerda teve a maioria no parlamento), logo mesmo que quisessem impedir o PS de formar governo não conseguiam.

Desta forma esta tradição de deixar o maior partido governar parece um pouco como a minha tradição de não namorar com modelos da Victoria's Secret - faz sentido dizer que há a tradição de não se fazer algo que nunca se teve verdadeiramente a oportunidade de fazer?

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