13/12/15

Foi o "grande centro" que levou Hitler ao poder ou foi o facto de não se ter entendido que lhe possibilitou a chancelaria?

Pergunta Henrique Monteiro no Expresso.

De certeza que o problema na Alemanha de Weimar não foi o "grande centro" não se ter entendido - durante os anos 20, o SPD, o Partido Democrático Alemão (DDP, liberal de esquerda, um dos antepassados do atual FDP) e o Partido do Centro (católico, em larga medida antepassado da atual CDU) frequentemente governavam em coligação. A partir de 1930, o sistema de governo parlamentar deixou de funcionar na Alemanha, mas não porque os partidos do centro não se tivessem entendido - simplesmente deixaram de ter deputados suficientes para formar um governo: em 1930, o SPD, o Centro e o DDP elegeram 231 (143 + 68 + 20) deputados em 577; mesmo juntando o Partido Popular Alemão (DVP, liberal de direita, o outro antepassado do FDP), com 30 deputados, e o Partido Popular Bávaro (BVP, o partido-irmão bávaro do Partido do Centro, mas mais à direita, conservador, regionalista e com simpatias monárquicas; em larga medida o antepassado da atual CSU), com 19 deputados (esses dois partidos não eram bem a favor da República de Weimar, mas também não eram totalmente contra, e frequentemente eram adicionados à coligação governamental, já que raramente os três partidos centristas/republicanos tinham a maioria), daria só 280 deputados (menos 9 que a maioria).

Com esse resultado, a Alemanha passou a ser ter o que chamaríamos "governos de iniciativa presidencial", dependentes do poder que presidente alemão tinha para legislar por decreto.

Daí em diante é só a descer - em julho de 1932, o SPD, o Partido do Centro e o Partido do Estado Alemão (o anterior Partido Democrático) elegem 212 deputados (133 + 75 + 4) em 608; mesmo juntando o BVP (24 deputados) e o DVP (7 deputados), não daria nada parecido com uma maioria - ou pondo as coisas de outra maneira: nessas eleições, os partidos abertamente anti-regime, como o Partido Nacional-Socialista (230 deputados), o Partido Comunista (89 deputados) e o Partido Nacional-Popular (o partido tradicional da aristocracia militar prussiana, herdeiro dos conservadores de Bismark, com 37 deputados) tinham em conjunto a maioria do parlamento, o que quer dizer que era matematicamente impossível um governo "moderado" (ou os comunistas ou os nazis eram necessários para haver uma maioria).

Finalmente, em novembro de 1932, nas últimas eleições livres, a situação mantêm-se: os nazis elegem 196 deputados (em 584), os comunistas 100 e os nacionais-populares 51; apesar da queda eleitoral dos nazis (que baixaram de 37% para 33%), continua a haver uma maioria de deputados eleitos pelos partidos "extremistas" (logo o "grande centro" podia-se entender à vontade que não conseguiriam nada sem o apoio de algum desses "extremistas"). E o resto é história...

3 comentários:

Niet disse...

Três grandes factores politicos agenciaram o fim da República de Weimar( 1918/1933):1. a politica da II Internacional Comunista " centralizada " e manipulada pela ordem burocrática e totalitária sucessivamente imposta por Lénine-Trotsky e, nos cruciais anos 30, por Staline e o seu politburo, e o apoio internacional diversificado que conquistaram em França e na Itália ; 2. os acordos secretos dos lideres do PS alemão com as chefias históricas e bonapartistas do vencido exército alemão, que estiveram na base do esmagamento sangrento da revolta conselhista dos Spartakistas de Rosa e Liebdneckt, em 1918; 3) o " republicanismo " sem fronteiras dos consulados do chanceler social-democrata Ebert, que gravou na Constituição o sistema de voto da proporcionmalidade absoluta, que veio, no acentuar da grande crise social e económica dos anos 3o, dar de bandeja o poder aos micro-partidos de direita e nazis. Através das croniquetas do inefável Henrique Monteiro não se vai a lado nenhum! Salut! Niet

Diogo disse...

O que levou Hitler ao Poder e recuperou a a economia alemã não teve nada a ver com tricas partidárias:


http://www.guardian.co.uk/world/2004/sep/25/usa.secondworldwar

One of Britain’s main newspapers – the Guardian – reported in 2004:

George Bush’s grandfather [and George H.W. Bush’s father], the late US senator Prescott Bush, was a director and shareholder of companies that profited from their involvement with the financial backers of Nazi Germany.

The Guardian has obtained confirmation from newly discovered files in the US National Archives that a firm of which Prescott Bush was a director was involved with the financial architects of Nazism.

His business dealings … continued until his company’s assets were seized in 1942 under the Trading with the Enemy Act

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The documents reveal that the firm he worked for, Brown Brothers Harriman (BBH), acted as a US base for the German industrialist, Fritz Thyssen, who helped finance Hitler in the 1930s before falling out with him at the end of the decade. The Guardian has seen evidence that shows Bush was the director of the New York-based Union Banking Corporation (UBC) that represented Thyssen’s US interests and he continued to work for the bank after America entered the war.

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Bush was a founding member of the bank [UBC] … The bank was set up by Harriman and Bush’s father-in-law to provide a US bank for the Thyssens, Germany’s most powerful industrial family.

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By the late 1930s, Brown Brothers Harriman, which claimed to be the world’s largest private investment bank, and UBC had bought and shipped millions of dollars of gold, fuel, steel, coal and US treasury bonds to Germany, both feeding and financing Hitler’s build-up to war.

Between 1931 and 1933 UBC bought more than $8m worth of gold, of which $3m was shipped abroad. According to documents seen by the Guardian, after UBC was set up it transferred $2m to BBH accounts and between 1924 and 1940 the assets of UBC hovered around $3m, dropping to $1m only on a few occasions.

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UBC was caught red-handed operating a American shell company for the Thyssen family eight months after America had entered the war and that this was the bank that had partly financed Hitler’s rise to power.

Niet disse...

" A primazia do politico é um elemento decisivo do nacional-socialismo", refere Franz Neumann na sua obra capital e incontornável, " Structure et pratique du national-socialisme , Béhémoth",onde sublinha ainda: "Nos anos de combate o partido nazi jamais se deixou manipular para colocar as questões económicas no primeiro plano e a lançar programas oficiais do partido para o conjunto da economia ". Neumann dedica uma atenção especial a vincar o teor ideológico dominante dos teóricos do futuro partido hitleriano examinando as teses de Gottfried Feder, Wilhelm Keppler e Alfred Rosenberg, entre outros. Portanto, o sr. Diogo faz melhor dar uns mergulhitos na água salgada...Niet