Hoje o Colégio Eleitoral eleito a 8 de novembro provavelmente (isto é, com para aí 99,999% de probabilidade) irá eleger Donald Trump presidente dos EUA.
Os Democratas poderiam aproveitar para atacar a instituição do Colégio Eleitoral, referir que foi criado com o objetivo explicito de retirar poder ao povo e dá-lo a elites, que historicamente tem sempre beneficiado os Republicanos, e relembrar os "anti-federalistas" que diziam que reduzir os "direitos sagrados" da humanidade ao de serem "eleitores de eleitores" era abrir caminho para o presidente se tornar um ditador.
Em vez disso, preferem (bem, pelo menos alguns) fazer o contrário - elogiar o papel do Colégio Eleitoral como protetor da República contra "demagogos", elogiar a "sabedoria" dos "fundadores" (a começar pelo arqui-reacionário Alexander Hamilton, o inventor do Colégio Eleitoral, e que, entre outras coisas, também queria que o presidente fosse vitalício), dizer que é exatamente para anular o voto dos eleitores que o Colégio existe, e criticar Trump, não por não ter sido eleito democraticamente, mas com argumentos puramente pessoais (de que não é "qualificado" para ser presidente) ou McCarthystas (de que terá tido apoio dos russos).
Não que eu discorde de uma campanha para pressionar o Colégio Eleitoral a dar a vitória a Hillary (embora ache que faria mais sentido se não fosse uma oposição ao Colégio descoberta só no dia 9 de novembro de manhã) - discordo é dos argumentos, que deviam ser ao contrário do que são: em vez de "o Colégio Eleitoral tem a responsabilidade de impedir um demagogo não qualificado de subir ao poder; foi para isso que os Fundadores o criaram" deveria ser "o Colégio Eleitoral não deveria existir e provavelmente nunca seria criado se os Fundadores soubessem como iria funcionar; portanto o melhor que têm a fazer é, enquanto não se acaba com essa instituição dos tempos da escravatura, vocês fazerem de conta que não existem e darem automaticamente a presidência à candidata que o povo preferiu para a presidência".
Mas alguns Democratas parecem empenhados em dar razão ao slogan Republicano dos "liberais elitistas que desprezam as pessoas comuns"...
Nota - antes que alguém me venha dizer que Portugal também é governado por quem ficou em segundo lugar nas eleições, recordo que o governo teve - nas moções sobre o programa de governo e nos orçamentos - o voto favorável de partidos que representam a maioria do eleitorado português; fazendo uma analogia com as presidenciais norte-americanas, seria como se Trump fosse eleito numa segunda volta (ou num Colégio Eleitoral em que os "grandes eleitores" fossem distribuidos proporcionalmente pelas várias candidaturas) com o apoio dos outros candidatos da direita (Gary Johnson, Ewan McMullin e Darrel Castle), ou pelo menos dos seus eleitores. Até era possível que isso acontecesse se os EUA tivessem um sistema de eleição direta a duas voltas, mas não foi o que aconteceu, logo comparações com o caso português são descabidas.
19/12/16
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário