19/12/16

Stiglitz sobre as propostas de Trump. Da grande mentira nazi à economia voodoo.

Foi hoje publicado no The Guardian um artigo de Joseph Stiglitz sobre aquilo que poderá ser a governação de Trump.
O artigo, como todos os do autor, dispensa explicações, mas tem o mérito suplementar de não ignorar o contexto em que a vitória de Trump aconteceu e de ser suficientemente pormenorizado na análise de algumas medidas que, entretanto, já foram  propagandeadas como exemplos de que "Trump cumpre as promessas que fez".
Em primeiro lugar Trump não ganhou as eleições. Recebeu menos 2,8 milhões de votos do que Hillary. É o segundo Presidente Republicano que beneficia do sistema eleitoral americano para, contra a vontade maioritária da população, ascender à presidência. A economia que Trump recebe, como Stiglitz esclarece, é uma economia muito melhor  do que a que Obama recebeu de Bush. Um desemprego inferior a 5% e uma taxa de crescimento superior a 3,2%, algo que não fornece o quadro social que o voto em Trump representaria, a fazer fé mesmo nalguma esquerda.
As politicas sociais que Obama pretendeu implementar - e o actual presidente ficou muito aquém do que prometeu, sobretudo na forma como não foi capaz de enfrentar a desigualdade crescente - foram sistematicamente barradas pelos republicanos. Trump beneficia do mal que ajudou a semear, através dos seus apoiantes republicanos.
No que se refere às politicas que visam impedir a deslocalização das empresas e por essa via anular os efeitos da globalização, Trump coleciona já uma vitória .... nos média. O caso da Carrier, empresa que fabrica aquecedores e aparelhos de ar-condicionado, que recuou na intenção de se deslocalizar garantindo a manutenção de 800 postos de trabalho. O telejornal da RTP1 exibiu esta acção como o tipo de politicas que ajuda a perceber o voto dos americanos. Stiglitz explica que esta acção de Trump irá ser financiada com 7 milhões de euros dos  impostos dos americanos e que a Carrier ira, apesar disso ,deslocalizar 1300 postos de trabalho para o México.
Stiglitz compara o programa de Trump a economia voodoo, já que pretende investir em infraestruturas, baixar os impostos e reduzir o défice. O problema de Trump é que na sua vida empresarial acumularam-se as falências e os projectos falhados. Desses falhanços poucas consequências lhe advieram, mercê de uma invulgar capacidade para fugir aos fisco e para aligeirar responsabilidades. Mas, nesta altura, a "empresa" é a América, e os americanos são os seus accionistas. Mais cedo do que tarde os seus eleitores do Rust Belt perceberão o logro em que cairam. Afinal Trump, como refere Stiglitz,  limitou-se a recorrer a técnicas propagandísticas que seem worthy of Nazi Germany’s “big lie” propagandists. 
Pois foi.

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