16/12/16

Sondagens. Crónica de um destino anunciado

O PS reforça paulatinamente a sua influência e aproxima-se da maioria absoluta. Ainda há por aí muita gente que defende que será impossível chegar a esse resultado. Não é, e não vai ser. Está à vista de toda a gente que é o PS que está a capitalizar a maioria dos votos que se devem aos benefícios que os portugueses atribuem ao "governo da geringonça". Não podia ser de outra maneira. Quanto melhor for o resultado obtido pela governação tanto melhor será o resultado do PS e tão mais pequeno será o resultado que juntos PCP e BE somarão.Tal como dois corpos não ocuparão o mesmo espaço ao mesmo tempo, uma pessoa não poderá votar em dois partidos ao mesmo tempo.  Isto podia ser diferente? Podia, caso esses partidos tivessem optado por participar na governação assumindo que as suas posições relativamente à Europa não é impeditiva de o fazer. Neste caso a posição do PCP é compreensível, tão militante tem sido a sua posição relativamente ao projecto europeu e ao euro. Mas, radica nesta posição, o seu progressivo isolamento e a sua perda de influência eleitoral e politica. Que leva tempo mas parece marcada pela inexorabilidade. Infelizmente. No caso do BE tratou-se apenas de uma clara divergência entre a liderança politica e o seu eleitorado. Não foi a primeira vez nem será a última. O BE é no essencial um partido parlamentar e aquilo que se decide nos gabinetes do parlamento é que conta, e aquilo que algumas pessoas possam pensar pelo país fora é uma irrelevância. Infelizmente.
Paradoxalmente esta experiência de governação apoiada pelas esquerdas transforma-se num instrumento que parece representar uma segunda vida para os partidos que, por força do seu comprometimento com a austeridade, estavam a correr o risco de se desintegrarem, como aconteceu e acontece com os partidos socialistas europeus.
Não participar no Governo, ser incapaz de ter um maior peso na definição das politicas do dia a dia, na gestão do quadro comunitário, ser incapaz de mostrar capacidade para exercer a governação nas diversas áreas, conduz inevitavelmente à perda de influência porque traduz uma falta de influência nada proporcional  ao peso eleitoral obtido.
Há um dado novo que jogará a favor do PS. As autárquicas. Contrariamente ao que os comentadores do mainstream estão nesta altura a verbalizar, a história desta vez não será como habitualmente. O PS irá experimentar uma importante vitória nas autárquicas. Porquê? Porque as pessoas estão satisfeitas com a governação e porque desta vez não há razões para penalizar o partido do governo. O PS irá reforçar a sua liderança da Associação dos Municípios, ganhará as principais cidades incluindo Lisboa e Porto, por interposto independente, contando com o apoio do CDS e tudo.
O PS sairá das autárquicas reforçado,  com um PSD esfrangalhado, um CDS pequenino qb e um PCP confinado ao seu universo regional. O BE mais uma vez mostrará que não está virado para essas andanças, sentindo-se mais confortável nos gabinetes de S.Bento.
Dito isto o que irá acontecer à politica do Governo? Irá manter um delicado compromisso entre a sua obediência à Europa e q vontade de aligeirar a pressão sobre os mais desfavorecidos. Irá continuar a cobrar internamente os sacríficios  que a cegueira europeia nos impõe e, caso isso obrigue a dispensar os parceiros, fa-lo-á sem qualquer remorso. Irá continuar a diminuir o investimento público e a canalizar cada vez mais recursos para pagar o serviço da divida. O dinheiro não é elástico, trata-se de um recurso finito e a nossa economia é cronicamente deficitária.  Até que as condições externas se alterem correrá tudo bem. Os portugueses recuperarão parte do rendimento que lhes foi sacado pela Troika e viverão ligeiramente melhor. Na próxima crise recuarão para níveis de décadas atrás. A dinâmica instalada na sciedade portuguesa é esta. Quem está no Governo, se quiser, dificilmente poderá alterar o seu curso mas estando fora ficar-se-á pela retórica.





3 comentários:

Niet disse...

Tudo muito certo na sua análise. Mas há nuvens negras no horizonte, caro José Guinote, como sabe. As incógnitas inquietantes do mais que leviano e contraditório anunciado consulado de Trump e as suas repercussões mundiais, e europeias em particular.O ritmo encantatório da vida politica portuguesa- na sua componente governamental e parlamentar - é muito ludibriante e francamente mediocre e pobre, sobretudo de ideias e projectos. Mesmo o BE cultiva um estilo ultrapassado de fazer politica e barrica-se num discurso muito desajustado, inoperante e claudicante, aparecendo sem sofisma como um candidato a gerir o " sistema " desigualitário e esclorosado na sua luta por uma sobrevivência escandalosa e altamente polémica. Nem os belos exemplos do "Podemos" ou do "Front de Gauche" o espevitam, abalam e projecta, o que é um sinal altamente preocupante.Niet

José Guinote disse...

Meu caro Niet, o BE enquanto candidato a essa tarefa de gestor do sistema desigualitário apenas num futuro longínquo. Mas é na desigualdade e na forma de a tratar que o debate politico devia estar centrado. A partir da posição de apoiantes quase sempre/opositores algumas vezes que os partidos da esquerda parlamentar não conseguem deslocar o debate. Isso não quer dizer que eu ache este exercício politico um exercício falhado. Teve o mérito de deslocar o PS para a sua esquerda e de tornar possível um conjunto de compromissos cuja substância é, no entanto, débil, como se viu com a questão das pensões ou se percebe com a alteração do salário mínimo. Falta tudo o resto que é muito ou que é, pelo menos, a maior parte.
PS - não tenho uma opinião benigna acerca do Podemos e do seu líder. Não aprecio caciques ainda que sejam de esquerda, ou melhor sobretudo se forem de esquerda. Posso estar errado mas do Podemos o melhor que se aproveita são as dinâmicas locais estabelecidas com os movimentos sociais, como aconteceu em Barcelona.

Niet disse...

Eu fui de manhãzinha comprar livros e revistas a Estrasburgo. O Reich, o Muray e o inconotornável Castoriadis- este com seis volumes volumes das novas e definitivas OC editados nas Edit. Du Sandre -escalpelizaram muito bem as maleitas e vicios burocráticos que " dominam " os famigerados " aparelhos como o aparelho dirigente do BE. Onde os mais hábeis disfarçam muito bem.,, O pior é que o PS está possuido por uma logomaquia da idade da pedra e elimina autoritáriamente todas as veleidades dos seus parceiros. Mas do mal o menos, Costa quer levar por diante a coligação de incidência parlamentar; e, assim, cria-se espaço e tempo para criar uma alternativa ao cavernicola e " affairista " nada e criado nas oligarquias de saldo de gabinete do PSD. Do Podemos, há o peso da retórica e dos sistema da moda da burgesia a corromporem as virtualidades de uma alternativa. E do Mélenchon, o que diz? Niet