06/05/17

Eleições em França.. A magna questão do FASCISMO.

Marie Le Pen é uma fascista, como fascista é o seu partido, a Frente Nacional. Se eu votasse em França votaria Macron nesta segunda volta das Presidenciais, sem nenhuma espécie de dúvida.
Julgo que a esquerda francesa deverá fazer o mesmo. A esquerda é anti-fascista, a menos que já não seja de esquerda.
Macron poderá ter muitos defeitos, politicamente falando, mas não é o teatchariano Fillon, muito menos é alguém que se possa comparar, politicamente falando, com a fascista Le Pen.
Como recorda Varoufakis, no Guardian,  o combate do próximo domingo é uma reedição do que se travou em 2002, quando Chirac enfrentou o senhor Jean Marie-Le Pen, o velho fascista, pai da actual candidata. Há uma diferença nas eleições: em 2002 toda a esquerda apoiou Chirac. A diferença é, aliás, assustadora. Uma parte da esquerda, a que Mélenchon representa, não apoia Macron, havendo índicios de que uma parte significativa dos eleitores da França Insubmissa não votarão no candidato do En Marche.
Há momentos em que é necessário escolher e tomar decisões, mesmo que tenhamos que engolir alguns sapos pelo meio.
O combate que a esquerda trava é por uma sociedade  mais justa, mais democrática, mais progressista. Esse combate não pode ignorar a ameaça concreta do fascismo. Colocar no dois pratos da balança, numa suposta posição de equilíbrio, o fascismo e a direita, mesmo  a mais conservadora, é um erro crasso e politicamente um desastre.
Recordemos o que escreveu Walter Benjamim [ citado por Neil Leach] acerca da ascensão do fascismo na Europa na primeira metade do século passado e sobre as consequências dessa ascensão.

"(...) O problema da modernidade reside[ para Benjamim] na tentativa de conciliar a ascensão da massa do proletariado com o sistema de propriedade vigente. Uma das vias para a resolução deste conflito consiste em recorrer ao fascismo, enquanto meio político que "tenta organizar a massa do proletariado recentemente criada sem interferir no sistema de propriedade que essa massa pretende eliminar". O fascismo goza assim de particular poder de atracção no ínicio da modernidade, tendo, para Benjamin, como "resultado lógico a introdução da estética na esfera política". As consequências são assustadoras: "Todos os esforços para introduzir a estética na política culminam num só ponto: a guerra. A guerra, e só a guerra, é capaz de criar um objectivo para os movimentos de massas em larga escala e respeitar simultaneamente as relações de propriedade tradicionais"(...)"


É isso que a senhora Le Pen se propõe fazer : organizar o descontentamento das massas vitimas das politicas dominantes na União Europeia, e canalizar essa sua energia para manter as relações de propriedade e de poder dominantes e assegurar não só a continuação da exploração mas também uma forte repressão dos direitos básicos dos cidadãos e da própria ideia de democracia. Trata-se de uma movimento de carácter fascista que quer aproveitar o descontentamento crescente de sectores cada vez mais amplos, para, em última análise, reprimir e esmagar qualquer movimento que se funde sobre esse descontentamento. Um movimento fortemente xenófobo e fortemente racista mas que não recusa o voto dos africanos e dos restantes emigrantes em solo francês, que pretende, depois, colocar fora das fronteiras.

11 comentários:

Pedro Viana disse...

Caro José,

Uma análise da situação deve incluir não só o horizonte mais imediato, mas também a probalidade relativa dos desenvolvimentos a mais longo prazo. Como o José muito bem escreve, "Le Pen se propõe fazer: organizar o descontentamento das massas (...) e canalizar essa sua energia para manter as relações de propriedade e de poder dominantes e assegurar não só a continuação da exploração mas também uma forte repressão dos direitos básicos dos cidadãos e da própria ideia de democracia (...) reprimir e esmagar qualquer movimento que se funde sobre esse descontentamento." Concordamos portanto que o capitalismo fascista de Le Pen não é mais do que uma via alternativa ao capitalismo de mercado hoje ainda dominante, defendido por Macron. Os capitalistas, i.e. os proprietários e exploradores, optarão por estar ao lado de quem lhes assegure a manutenção do seu Poder, combatendo quem proponha, como Melenchon, retirar-lhes esse mesmo Poder. Se hoje os capitalistas mais poderosos (ainda) preferem Macron, é porque sabem que têm mais a ganhar no aprofundamento do actual modelo do que numa regressão da globalização das estruturas produtivas, e numa repressão social que traria instabilidade e alienaria uma boa parte dos quadros qualificados de que precisam. Partindo deste ponto, que desenvolvimentos podemos esperar no futuro? Pela minha parte, creio que as tendências que se têm vindo a manifestar cada vez mais intensamente nas últimas décadas vão agravar-se: instabilidade económica, crescente desigualdade, decréscimo nos recursos materiais disponíveis, crescimento dos conflitos armados nas periferias da globalização, um clima cada vez mais errático que trará graves problemas à produção agrícola. É, infelizmente, uma visão pessimista, mas creio realista. Neste quadro a instabilidade política é uma consequência inevitável, acompanhado pela continuação do crescimento de todos os movimentos, incluindo o fascismo, que oferecem uma visão de estabilidade social e económica, de protecção perante o desastre crescente da vida quotidiana. Estes movimentos podem ser excludentes, defensores duma organização hierárquica, como o fascismo, ou inclusivos, baseados numa organização social horizontal e solidária, como o socialismo ou comunismo. Qual destes dois tipos, muito genéricos, de movimentos que se propõe como alternativas ao sistema vigente, se tornará dominante, dependerá da dinâmica relativa das várias crises que temos pela frente, e do modo como se posicionarem perante elas. Em particular, aqueles movimentos que forem percepcionados, em algum momento, como cooperantes, ou defensores, da situação vigente, perderão legitimidade perante o corpus social para a ela se oporem.

(cont.)

Pedro Viana disse...

(cont.)

Na situação actual em França, tal equivale a apelar ao apoio a Macron contra Le Pen, o apoio à situação contra a contestação. Se Melenchon o tivesse feito, teria perdido (irremediavelmente?) grande parte da legitimidade para o mais tarde contestar, entronizando Le Pen e o seu movimento fascista como o rosto e a ideologia que realmente combatem o sistema vigente. Ora, nada deixaria mais contente os capitalistas, que assim veriam a discussão ideológica (aparentemente) resumida, e os media que controlam tentariam assegurar que assim seria (como bem se viu durante toda a campanha), a duas posições que vão de encontro aos seus interesses, a situação (que preferem porque potência o seu Poder) e a alternativa (que pelo menos os protege). Por outro lado, consideremos o que aconteceria no caso duma vitória de Le Pen (tal como está a acontecer nos EUA). Neste caso, Le Pen teria de escolher entre manter as suas posições anti-sistema (nomeadamente anti-EU), ou afrontar os capitalistas que mais beneficiam da actual situação. Qualquer que fosse a escolha, a contradição iria fomentar a dissensão entre aqueles que se opõem a uma real alternativa, horizontal e solidária, à actual situação, abrindo caminho ao fortalecimento dos movimentos que propõe tal, tornando-os socialmente reconhecíveis como a verdadeira alternativa à actual situação (como é cada vez mais claro nos EUA). Ainda, a instabilidade económica gerada por uma vitória de Le Pen, induziria uma hemorragia do seu apoio social que enfraqueceria substancialmente a sua proposta de estabilidade económica e social. O fascismo pode ascender "cedo de mais" ao Poder, quando o faz num tempo de (relativa) prosperidade (ou pelo menos, relativa estabilidade), levando ao agravamento claro das condições materiais de vida. O perigo do fascismo é muito maior quando ascende ao Poder no meio do caos duma crise (o que, como antes escrevi, penso ser inevitável nos próximos anos). Chegados a este ponto, gostaria de enfatizar que o que acabei de escrever não implica que ache que uma vitória de Le Pen é preferível a uma vitória de Macron. Apenas me limitei a ponderar possíveis consequências se tal acontecer. Obviamente, outras também são plausíveis, como o demonstra os percursos de Erdogan e Putin. Perante a desagregação da sua base de apoio, e crescente contestação social, o fascismo no Poder, ie. Le Pen, poderia tentar uma fuga em frente, abrindo conflitos de modo a (re-)unificar uma base de apoio social. O sucesso duma tal estratégia dependerá da maturidade política e social da população em causa, podendo ter sucesso como na Rússia e na Turquia (aqui é menos claro se o actual sucesso de Erdogan é sustentável), ou não como parece mais provável nos EUA.

Abraço,

Pedro

José Guinote disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Guinote disse...

Meu caro Pedro não partilho da tua análise . Não sei como poderei dizer isto de outra forma.
Não acho, estou certo disso, que o fascismo seja apenas e só uma alternativa ao capitalismo de mercado. A tua afirmação “Concordamos portanto que o capitalismo fascista de Le Pen não é mais do que uma via alternativa ao capitalismo de mercado hoje ainda dominante, defendido por Macron” não a subscrevo.
Da leitura da citação do que escreveu Walter Benjamim não se pode tirar a conclusão que tu tiras e que queres partilhar comigo. Recuso essa partilha. O fascismo de Le Pen é uma alternativa à democracia, seja ela liderada pelos conservadores de Macron, seja pelos ultra-conservadores teatcharianos de Fillon, seja pelos pseudo-socialistas de Valls e Hollande, seja pela esquerda, mais ou menos radical, de Mélenchon.
O fascismo é uma alternativa à democracia, que quer esmagar, por mais incipiente que ela seja, que não põe em causa a acumulação de capital, nem a desigual distribuição da riqueza, mas que se traduz na repressão da diferença, de toda a diferença, na supressão de todas as liberdades básicas, e na imposição de um estado policial com a justiça sob a bota do poder politico. Um sistema brutal de controlo do poder do Estado. O fascismo aproveita o descontentamento das masas para reprimir os seus objectivos, escreveu Benjamim.

Hitler chegou ao poder através do voto, recordas-te?

Apresentas uma leitura da realidade actual em que identificas a degradação do sistema politico e económico como uma inevitabilidade decorrente do processo de substituição do capitalismo. Não subscrevo a tese de que esteja para breve o fim do capitalismo. O capitalismo tem mostrado capacidade para se adaptar e para resistir. Lefebvre escreveu sobre isso há meio século e tinha toda a razão. Depois do fracasso da experiência soviética, com o capitalism ode estado solidamente instalado na China, com os desvarios de Maduro e do seu bolivarismo, com a ditadura familiar da Coreia do Norte a jogar às bombas nucleares com o inenarrável Trump, não vejo o socialismo,seja lá isso o que fôr, como algo para acontecer. Acredito muito mais na qualificação da democracia, de uma democracia em que a componente participativa seja relevante e o poder politico seja exercido pelos cidadãos. Julgo que isso é possível aqui e agora, embora não vá acontecer por obra e graça de Nossa Senhora, tenha ela a cara de Macron ou de Mélenchon.

Aproveitas esse enquadramento que fazes para justificar o posicionamento politico de Mélenchon. No actual quadro da degradação do sistema politico o posicionamento quer dos fascistas, quer dos sectores socialistas e comunistas, seria definido em função desse quadro existente. Seria penalizado quem com ele fosse identificado, ainda que adoptasse uma postura critica. Quer isto dizer que haveria uma tendência para que fascistas e sectores socialistas e comunistas mimetizassem os seus comportamentos políticos em busca da redenção que seria obter a confiança do “corpus social”. Mélenchon terá, por isso, feito bem em não apoiar Macron, podendo assim continuar a aspirar a essa redenção.

Escrevi no post que colocar no dois pratos da balança, numa suposta posição de equilíbrio, o fascismo e a direita, mesmo a mais conservadora, é um erro crasso e politicamente um desastre. Tu apresentas uma variante: o equilíbrio que propões é entre Le Pen e Mélenchon, entre fascistas e socialistas. Ignoras que as eleições disputam-se entre os fascistas e os conservadores. Ignoras igualmente que em 2002 Mélenchon apoiou Chirac, na segunda volta, contra o papá Le Pen, e que isso não penalizou a sua ascensão politica, nem das suas ideias, como agora se verificou. (cont)

José Guinote disse...

(cont)
A dado passo idealizas sobre uma vitória de Le Pen como um instrumento – conjugada com Trump, com Putim e Erdogan – para agudizar as contradições e mais rapidamente tornar possível uma alternativa. Não me parece que isso seja assim e nem me parece que seja esse o caminho desejável. Vamos lá ver. O fascismo e o nazismo conduziram a Europa e o Mundo ao caso e custaram milhões de vidas e um sofrimento atroz ao mundo inteiro. A ameaça do fascismo nunca deixou de existir, e não podemos relativizar a dimensão dessa ameaça.

Eu insisto na defesa do voto em Macron. Trata-se de optar entre um adversário politico, um conservador centrista, e um inimigo confesso, uma líder fascista.
Sou um defensor da ideia da Europa dos cidadãos e do reforço da integração europeia contra os nacionalismo. Não concordo com os que, à esquerda, acham que a ascensão de movimentos como a Frente Nacional ou acontecimentos como o Brexit possam ser virtuosos, numa perspectiva de esquerda.

Meu caro Pedro, eu não vou por aí.

Pedro Viana disse...

Caro José,

Parece-me que há alguma resistência em "chamar os bois pelos nomes". O Fascismo é uma forma de Capitalismo. No sentido, como muito bem escreveste, em que defende a propriedade e as relações sócio-económicas de cariz capitalista. Pode ser mais "revolucionário" ou "situacionista" dependendo da (menor) ou (maior) rapidez com que os detentores de Capital lhe prestem apoio (note-se que mesmo no seio dum fascismo aparentemente tão "revolucionário" como o protagonizado por Hitler, a maior parte dos maiores capitalistas de então prosperaram). Portanto, quando escreves "(...)identificas a degradação do sistema politico e económico como uma inevitabilidade decorrente do processo de substituição do capitalismo(...)", eu escreveria: a degradação do sistema politico e económico resultará na substituição do capitalismo actualmente existente, globalizado e orientado para o mercado, por um outro capitalismo, mais localizado, proteccionista, assente num Estado mais controlador a nível económico, social e político, a menos que surja um movimento suficientemente forte que consiga impor-se como alternativa ao capitalismo (nas variantes descritas). Portanto, não está para breve o fim do Capitalismo. Nem por sombras. O que estará para breve é o fim duma fase transitória no Capitalismo, globalizada e assente na crença "infantil" de que é possível o crescimento contínuo da produção (e do Capital) num planeta finito. A ascensão do fascismo é **a oportunidade** para o Capitalismo se adaptar e resistir à cólera social que já está aí, e que maior se tornará.

Pelo o que acabei de dizer, acho que se torna claro que não estou a colocar "nos dois pratos da balança, numa suposta posição de equilíbrio, o fascismo e a direita". Nem tal foi feito por Mélenchon, que denunciou exaustivamente Le Pen e o seu projecto. A questão é portanto, simplesmente de ordem táctica ou estratégica: que fazer agora de modo a no futuro ter maior probabilidade de sucesso? Tal não ignora o que se está a passar nestas eleições, nem o que se poderá vir a passar de seguida, muito pelo contrário. Em 2002 as circunstâncias, e as perspectivas, políticas, sociais e económicas eram muito diferentes, quando a dicotomia Esquerda-Direita ainda norteava a disputa política, social e económica. Hoje, a dicotomia é entre a "situação" e a "contestação". Os capitalistas têm-se esforçado imenso, colocando os seus media ao serviço de tal empreitada, para identificar esses dois pólos com "abertura, liberalismo, democracia, Europa" vs. "fechamento, autoritarismo, fascismo, Nações", de modo a por um lado arregimentar as forças sociais mais progressivas em seu favor e por outro eliminar o sistema económico capitalista da discussão. Basta ver como abundam por aí as "análises", mimetizados por inúmeros textos entre o "inocente" e o "ignorante", que apresentam Le Pen vs Macron como o embate entre duas personalidades que defendem o "exacto oposto", "convenientemente esquecendo" tudo aquilo que os une, e que tem o nome de Capitalismo. É portanto fulcral, essencial, combater em cada momento essa tentativa de polarização da sociedade entre dois campos, nenhum dos quais se opõe ao Capitalismo. Como antes afirmei, essa é a via mais certa para um futuro fascista, mais cedo ou mais tarde.

(cont.)

Pedro Viana disse...

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Finalmente, como já temia que viesse a "acusação" de que "idealizas sobre uma vitória de Le Pen como um instrumento (...) para agudizar as contradições e mais rapidamente tornar possível uma alternativa", tentei enfatizar que não, não desejo a vitória de Le Pen, nem acho que seja necessariamente benéfica para o desfecho que desejo. Limitei-me a identificar possíveis consequências da sua vitória que poderiam galvanizar, e fortalecer socialmente, os movimentos que se propõem substituir as relações sócio-ecónomicas de cariz capitalista. Parece-me difícil negar que são plausíveis. Mas não sei quão prováveis são, e portanto nem me atrevo a aferir se valeriam a pena, face ao risco inerente, como bem descreves, da ascensão ao Poder de Estado de ideias fascistas. Como já várias vezes tentei salientar, (quase) nada do que acontece num dado momento tem apenas uma possível interpretação, ou consequência. Há (quase) sempre vias alternativas à frente. É (quase) sempre possível encontrar factores "positivos" e "negativos" num dado acontecimento, por mais que isso aparente ser "repugnante" em certas situações.

Abraço,

Pedro

José Guinote disse...

Resumidamente meu caro Pedro, não queria atribuir-te um desejo de vitória de Le Pen. Isso não faria qualquer sentido. aliás no teu comentário deixas isso claro. Quando escrevi idealizas teria sido mais rigoroso se tivesse escrito teorizas.

Tendo Macrom vencido, como se esperava, há uma nova realidade politica que emerge. Onze milhões de franceses, muitos deles que sempre votaram à esquerda e outros que votavam na direita mais conservadora, apoiaram a senhora Le Pen e fizeram da frente nacional o maior partido francês. Vamos ver nas próximas eleições legislativas de Julho como se reconfigurará a politica francesa.
Vamos ver como lidará a França, sob a liderança de Macron, com a Europa e com a degradação do projecto europeu.
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Pedro Viana disse...

Nada vai acontecer de substancial. Até porque não há qualquer degradação do "projecto europeu". Como ainda hoje o demonstra uma notícia no jornal Público

www.publico.pt/2017/05/08/politica/noticia/o-maldito-relatorio-maldague-1771307

se a fundação do "projecto europeu" tinha por detrás algum idealismo progressista (mas não só, nem pouco mais ou menos), em grande parte motivado pela Segunda Guerra Mundial, e o que a originou, tal idealismo foi rapidamente (em poucas décadas) marginalizado através da colonização das instituições da UE pelo interesse das grandes empresas e daqueles que as controlam. Ou seja, a Europa em que vivemos não é (há muitas décadas) o resultado da "degradação" dum plano idealista e progressista, mas sim o resultado dum planeamento consciente, que tanto aqueles que o impuseram como muitos daqueles que se lhe opuseram, sabiam no que iria resultar. Portanto, não irá haver mudanças de plano. Tudo está a correr, genericamente, como previsto. E o que se prepara é o que acontece sempre no refluxo duma expansão: a contração começa na periferia, que o centro vai deixando cair à medida que o custo relativo da controlar se tornar cada vez maior. Na UE tal passará pela "europa a várias velocidades", incluindo a eventual saída de alguns dos seus membros (ou serão relegados para uma "velocidade tão baixa", que de membros terão pouco), e, obviamente, a recusa do centro em assumir o que quer que seja que limite a sua capacidade para desligar-se da periferia (por exemplo, criação de mecanismos automáticos de solidariedade como um subsídio de desemprego europeu ou a assunção comum do risco de falência bancária).

Abraço,

Pedro

Asam disse...

É interessante ver como os opostos se aproximam. Dum lado a dita fascistas le pen, do outro os fascista vermelhos a acusá-la de ser fascista. Uns e outros querem mais estado, estão bons uns para os outros.

José Guinote disse...

Muito subtil e profunda, embora escassa, a sua análise, senhor Alberto Sampaio. Se quiser desenvolvê-la não se poupe.