21/08/12

O BE na sua cortina de fumo — densa mas pouco idea(c)tiva

"Assim me inspire o Fado e Satanas me deixe (…) fumando, perseguir a nebulosa ideia", se tanta e tanta discussão em curso no BE sobre as vantagens, desvantagens, qualidades e defeitos da "direcção bicéfala" versus a monárquica, mas independente dos votos da comunicação social, não tem por efeito recalcar — ou mesmo "forcluir" — por meio de uma cortina de fumo, densa mas pouco idea(c)tiva, o debate que seria politicamente imperativo travar sobre o modo de organização de um movimento político que tem por objectivo final ou fim primeiro a democracia de uma sociedade de iguais, ou também sobre o modo como esse objectivo final ou fim primeiro deve informar desde o início os meios e as formas de organização que o visam — sendo que só, através da sua actualização permanente, o poderão visar com  um mínimo de verdade e eficácia.

3 comentários:

Anónimo disse...

com razão, com razão. e, no entanto, está aberta uma discussão sobre uma forma de liderança em que louçã se coloca a si próprio na vanguarda.

especulo: louçã mantém a sua linha de sempre: dirige-se a uma luta a que foucault chamaria a atenção como lutas win win numa entrevista qualquer que não recordo - quem dirige só tem a perder se efectivar a repressão sobre a comunidade gay, que alargo à descriminalização do aborto ou do uso de drogas leves - no caso com a paridade homem - mulher (primeiro e único argumento a favor da liderança bicéfala que lbe ouvi - não li o texto que acho que fez.) obtém vitórias junto da sua comunidade eleitoral. daqui por uns dias substitui cavaco. ou tenta.

mas o que interessa mesmo é o que diz aqui, por outras palavras (até porque duvido do consenso em torno de louçã como candidato a pr juntando parte do eleitorado do ps. basta olhar para manuel alegre), se o bloco não encontra outra forma de discutir a sua liderança, então o bloco parou. não é alternativa a nada nem a ninguém. mas só assim, talvez, seja possível aproximar-se de pc e ps para um governo.

e já todos sabemos, deve ser quase aritmético, o avanço do governo está sempre um passo atrás do da comunidade que pretende dirigir. mas esta é uma convicção própria que não posso sustentar (pelo menos para já. embora a aritmética mais básica talvez o pudesse fazer).

peço desculpa.

andré

João Valente Aguiar disse...

«o debate que seria politicamente imperativo travar sobre o modo de organização de um movimento político que tem por objectivo final ou fim primeiro a democracia de uma sociedade de iguais».

Aparte PCP's e BE's, etc. a questão que sempre se colocará para o futuro da esquerda anticapitalista é precisamente essa. Ou como exprimi num post recente:

«A luta anticapitalista tanto pode desembocar em processos emancipatórios, como pode ser a via para a ascensão de novas opressões. Por isso, ou as futuras lutas sociais atingem um tal grau de auto-organização e o controlo da vida social e política será exercido colectiva e democraticamente por todos os trabalhadores ou, como sucedeu na generalidade do século XX, elas são substituídas por uma qualquer vanguarda esclarecida e “socialista” que vai decidir, promulgar e governar pelos outros, mesmo que para isso ferre com os dissidentes na prisão».

abraço

Miguel Serras Pereira disse...

André,
não tenho a certeza de ter compreendido tudo, mas até onde julgo ter conseguido fazê-lo, creio que aprovo. Agora, quanto às desculpas… Voyons, mon cher, je vous en prie…

João,
é reconfortante confirmar que há quem assuma as prioridades que as circunstâncias nos impõem, e o seu "carácter de urgência".
Obrigado e abraço

msp