23/10/12

Novo contributo do Passa Palavra para o debate em torno da "saída do euro" e da "unificação política da zona euro"

O artigo A saída do euro e o fascismo assinado pelo colectivo do Passa Palavra, para cuja importância chamei a atenção a seu tempo,  deu lugar a longas menções e respostas, seguidas de uma série de comentários de índole muito diferente, surgidas em blogues como os Ladrões de Bicicletas (Alexandre Abreu) , o 5 dias (João Valente Aguiar) e o próprio Vias de Facto (Pedro Viana).

Centrando-se numa análise crítica dos argumentos de Alexandre Abreu, mas não se limitando a eles, o colectivo do Passa Palavra volta agora à carga com novo editorial intitulado «Europa não, Portugal nunca» – um esclarecimento, explicitando a sua perspectiva e reiterando a sua tomada de posição: ou seja, as razões pelas quais "[em] vez de apontarmos para uma saída do euro e o ressuscitar do «orgulhosamente sós», pensamos que é mais propício para as lutas dos trabalhadores o prosseguimento da unificação política da zona euro". Aqui fica o link, bem como a conclusão do artigo, para alimentar um debate cuja urgência e consequências dificilmente poderão ser exageradas.


A nossa análise adiantou outro aspecto, sem o qual não pode ser entendida. É que, se o nacionalismo deixou de ter uma existência possível no plano económico, todo o nacionalismo constitui hoje uma falsa consciência, queremos dizer, uma ideologia que, servindo por um lado para obscurecer a realidade, por outro lado serve para indicar em negativo o lugar dessa realidade. A falsa consciência é sempre uma consciência incómoda, como entenderá quem se der ao trabalho de estudar o fascismo nos textos dos fascistas. A demagogia e a histeria de insultos são a forma estilística desse incómodo. É disto e deste nacionalismo que estamos a falar.

Alexandre Abreu afirmou que «num cenário de saída e desvalorização, o ajustamento afectaria transversalmente o poder aquisitivo externo dos rendimentos do trabalho e do capital». O objetivo, pensamos, não é que o capital perca poder porque sim, mas que tal perda beneficie aqueles que trabalham. Ora, o cenário de trabalhadores e patrões unidos numa comum e fraterna indignação prenuncia uma coligação populista e, com ela, todo um conjunto de perigos associados. Num artigo que publicámos recentemente chamámos a atenção para os perigos da «nação em cólera», usando os termos que um fascista sabedor e erudito empregou para classificar esse tipo de indignação nacional.
Pretender, como faz Alexandre Abreu, que a saída do euro permitiria «que um outro mecanismo que não a compressão salarial funcione como variável de ajustamento face à co-evolução das economias» é, uma vez mais, raciocinar no plano financeiro como se ele fosse único ou determinante, porque uma saída do euro provocaria uma tal catástrofe nos rendimentos dos trabalhadores que isto corresponderia a uma compressão salarial muito superior àquela que nos é agora imposta. Ora, é precisamente aqui que detectamos o cerne da incompreensão de Alexandre Abreu perante o nosso artigo. Escreveu ele que, em nosso entender, «a desvalorização do poder aquisitivo externo das poupanças afectaria sobretudo os pequenos e médios capitalistas e os trabalhadores». E em seguida considerou «estranho que uma proposta de esquerda como a destes autores tenha como umas das suas preocupações centrais proteger as poupanças em detrimento dos rendimentos presentes, nomeadamente os rendimentos presentes do trabalho». Mas nós não estamos interessados em proteger as poupanças dos pequenos e médios capitalistas. O que nos interessa, isso sim, é prosseguir o debate, analisando em que medida um ataque conjunto às poupanças desses capitalistas e aos salários dos trabalhadores não os confundiria todos numa «nação em cólera», para empregar uma vez mais as palavras do escritor e político fascista que citámos.

É precisamente nessa conjugação que reside o perigo do fascismo, agravado pelo nacionalismo.



17 comentários:

Rocha disse...

Acho fantástica a vossa argumentação em favor de um suposto "internacionalismo" que aproveita para lançar a equiparação - não só dos partidos comunistas mas de quase toda da esquerda marxista - entre marxistas patrióticos e fascismo.

O vosso "internacionalismo" tem outro nome, o seu verdadeiro nome é imperialismo. O imperialismo, que aparece a brilhar cada vez mais pela sua ausência da vossa análise da UE e do Euro (que constituem um bloco imperialista), esse é a própria génese do fascismo.

No último post em que discuti estas questões com o João Aguiar, neste mesmo blog, vi a argumentação da vossa parte baixar a um nível que não podia imaginar. A escravatura é um detalhe sem importância para quem defende que vivemos num planeta plano em que são possíveis revoluções simultâneas e idênticas. E delírio dos delírios os países deixaram de existir.

Sim, sim... os países deixaram de existir. E a humanidade (no sentido humano, sensível) também deixou de existir nos vossos discursos.

Miguel Serras Pereira disse...

Rocha,
infelizmente, vou ter de lhe responder à pressa - e só no que se refere a princípios.
O artigo não diz que os países, as populações de línguas diferentes habitando meios físicos diferentes, etc. deixaram de existir. O problema é que V. diz que, já que existem países, regiões, línguas, sei lá que mais, a cada país DEVE corresponder um Estado e qualquer coisa como a independência nacional. E eu, falando só por mim, penso que seria melhor para este país, como para os outros, terem menos soberania e mais democracia. Penso até que seria essa a melhor maneira de a grande maioria dos habitantes deste país terem uma palavra - ou todas as palavras - a dizer sobre as suas condições de existência - o melhor meio, também, de salvaguardar outros interesses, como o da vida da língua, os patrimónios histórico e paisagístico local, o associativismo, etc., etc.
Ora, o que se passa é que creio que a unificação política da zona euro é mais propícia à democratização das relações de poder, e à generalização do exercicio do governo - da economia e do resto que precise de ser goverenado - pelo conjunto dos cidadãos, do que crispação soberanista, a balcanização, os conflitos entre regiões e a militarização que resultariam de uma desagregação da zona euro e da UE. Cabe-lhe a si demonstrar que a imensa maioria dos portugueses ficaria a perder se, com menos soberania do Estado nacional, gozasse de maior poder de mudar e decidir, como dizia a cantiga - ou seja, de mais de perspectivas de democratização mais efectivas.

msp

João Valente Aguiar disse...

Como o Rocha muito pouco parece saber de economia (e, pior do que isso menos quer estudar, aprender e debater) e pouco quer saber dos processos reais prefere mandar bocas e colocar palavras nas bocas dos outros, como se isso fosse algum argumento. Como ele não quer debater os argumentos que as várias pessoas internacionalistas vão apresentando, prefere cataloga-las de "imperialistas". Seria interessante que ele lesse o livro "Crítica do nacionalismo económico" que reune dois textos do Marx. http://www.antigona.pt/catalogo/critica-do-nacionalismo-economico-201/
Em teoria, eu diria que ele até poderia aprender alguma coisa, mas como o irracionalismo é a nota dominante, infelizmente não acredito. Aí no verão no Avante escreveram um texto a criticar o que designo por nacionalismo de esquerda. O argumento mais genial foi o de o autor ter dito que eu estaria errado pois ele já teria 40 anos de militância no PCP, pelo que ele não poderia estar equivocado. Com argumentos destes se percebe o alcance profundo do raciocínio destas pessoas.
Por outro lado, a questão da escravatura é colocada de um modo vergonhoso pelo Rocha, pois eu nunca disse que era um detalhe nos moldes que ele insinua, mas que a escravatura não só é um fenómeno episódico (um estudioso da questão que até tem um livro na Caminho estima cerca de 3 a 5 milhões de trabalhadores nesse contexto) relativamente ao conjunto do capitalismo hegemónico, como ele está integrado no capitalismo. Desde roupa para multinacionais, de componentes para equipamentos electrónicos, desde borracha para pneus, etc. a escravatura existente, além de claramente ínfima em relação às relações assalariadas, só vivem em função destas.
Depois o Rocha diz não compreender porque certas correntes de esquerda podem ajudar ao crescimento do fascismo. O irracionalismo que ele é portador (e praticante acérrimo) é um exemplo vivíssimo disso mesmo. Enquanto a esquerda não perceber que o fascismo é algo muito mais do que pancada, mas que recupera temas que as ambiguidades da esquerda protagoniza no que respeita ao capital "parasitário" ou ao nacionalismo, certamente que continuará a alimentar a direita mais extrema. Seria interessante que o Rocha se questionasse porque cerca de 80% dos militantes do PC alemão e das SA circularam entre si. Talvez começasse a pensar seriamente nas coisas...

João Valente Aguiar disse...

O Miguel diz o seguinte no seu comentário e que eu subscrevo: «Cabe-lhe a si demonstrar que a imensa maioria dos portugueses ficaria a perder se, com menos soberania do Estado nacional, gozasse de maior poder de mudar e decidir, como dizia a cantiga - ou seja, de mais de perspectivas de democratização mais efectivas».

O Rocha parece um tipo que há uns dias na rádio dizia que a freguesia de Gulpilhares não devia fundir-se com a de Valadares porque elas não têm nada a ver umas com as outras do ponto de vista identitário ou de origem dos seus nomes... E que, por isso, as pessoas eram diferentes. Eu que vivi há uns anos largos perto destas freguesias notei sempre essa imensa diferença, do areal das praias, ao passadiço... A areia da praia e o vento mudava logo que se mudava de freguesia...

O que o essencialismo cultural consegue fazer é pegar numa pretensa característica cultural e a partir daí deduzir comportamentos humanos específicos dessa comunidade. Ora, o nacionalismo partilha grandemente desta estrutura de pensamento, partindo de dados territoriais, políticos ou ideológicos para separar uma comunidade trans-classista de outras com outros pretensos moldes culturalistas. Assim, em vez de colocar a tónica no antagonismo de classe e que ultrapassa todas as fronteiras nacionais - o que, por sua vez, levaria a questionar as relações de poder hierárquicas - o nacionalismo prefere mandar atoardas contra outros povos, só porque em cada local há comidas, línguas ou outros hábitos quotidianos distintos...

Apesar de tudo eu acho os comentários do Rocha muito instrutivos e pertinentes pois demonstram à saciedade de que modo se estrutura o pensamento de milhares de militantes da esquerda actual. Portanto, está longe de ser um caso isolado...

João Bernardo disse...

A equiparação entre «marxistas patrióticos» e fascismo tem um nome, nacional-bolchevismo, e foi amplamente realizada na prática pelo Komintern durante um período inciado de Março a Junho de 1923 e que só se encerrou a partir de meados de 1935, com o Sétimo Congresso do Komintern. Se a história serve para alguma coisa, as consequências práticas do «marxismo patriótico» devem ser estudas nesse período. Devem igualmente ser estudadas na adopção do «marxismo patriótico» pelo movimento comunista entre os povos colonizados e semicolonizados. Não é por acaso que o comunismo pura e simplesmente se extinguiu nesses países e regiões. Quanto ao facto de o prosseguimento da unificação política da zona euro criar condições favoráveis à luta da classe trabalhadora, seria interessante recordar que a passagem do Zollverein para a unificação alemã permitiu o desenvolvimento de um dos mais fortes movimentos operários.

Rocha disse...

Miguel também lhe terei de responder à pressa, mas também não é necessário gastar muitas palavras para demonstrar que você está a ser no mínimo ingénuo - a acreditar que está mesmo convencido do que diz.

Para demonstrar que a unificação de Estados da União Europeia sob a actual égide burguesa é precisamente o contrário do que você diz, bastam me duas palavras: Estados Unidos (EUA).

Com a mesma herança cultural, com a mesma cor da pele, os mesmos genes, a mesma história de colonialismo e guerra os Estados Unidos são a demonstração do que significa a unificação continental de Estados sobre a égide de uma poderosa burguesia de forte poder colonial e militarista.

Estados Unidos da Europa será mais democracia?

Eu aos Estados Unidos só não chamo de fascista, apesar de ser uma ditadura de brutalidade medieval, porque de facto é pior: é imperialista.

Agora na melhor das hipóteses posso supor que as pessoas deste Blog e do passapalavra defendem essa unificação de Estados por ingenuidade.

E não consta que a revolução proletária tenha sido facilitada pela unificação continental dos Estados Unidos da América. Mas o contrário sim, tornou-a praticamente impossível.

Tomando aquela expressão do "poder corrompe" eu diria a unificação de Estados burgueses em super-Estados só faz a repressão ser mais poderosa. É assim especialmente no centro da Europa, porque é uma das mais importantes metrópoles imperialistas e colonialistas do mundo.

Rocha disse...

Tem saudades do tempo das colónias ultramarinas João Bernardo?

O comunismo extinguiu-se nesses países? Mas os movimentos de libertação conseguiram a independência nacional não conseguiram?

Ah entendi, acha que a independência nacional não serve para nada. Ok, volto à pergunta inicial.

João Bernardo disse...

O «marxismo patriótico» do sr. Rocha, que pelos vistos nem patriótico é, mas regionalista ou mesmo bairrista, suscitaria a hilariedade dos dois autores de um célebre manifesto, que elogiaram na burguesia precisamente a capacidade de criar grandes espaços e viram neles o único terreno possível da emancipação dos trabalhadores. Mas alguém que fala de «brutalidade medieval» a respeito de um sofisticadíssimo sistema de fiscalização electrónica só tem uma utilidade — a de contribuir para a antologia dos erros comuns, de onde vêm os tropeções práticos. Quanto mais coisas dizem, mais recheado o catálogo fica.

Miguel Serras Pereira disse...

Rocha, parece-me que V. se engana bastante na sua análise do "imperialismo" e do "colonialismo" como ameaças a combater por meio da ruptura com a zona euro e a aposta na desagregação da UE.
Repare que, quando o governo Merkel propõe que uma instância europeia não eleita tenha direito de veto sobre os orçamentos dos Estados-membro - revelando aquilo a que V. poderá chamar propósitos imperiais ou "coloniais" -, o antídoto contra essa política imperial não está na defesa da soberania nacional, que pode ser facilmente contornada por outros meios, ou reduzida à submissão por outra potência soberana mais forte, etc. etc., mas antes na integração política, orçamental e fiscal da zona euro, sem países de primeira e de segunda, e assim por diante. Já se deu conta que não haveria, nesse cenário, lugar para troikas em Portugal ou na Grécia, nem no conjunto da zona euro? E que essas condições federais seriam mais favoráveis do que as presentes à reabertura em força da "questão social" e a movimentos de democratização em ruptura com a dominação da oligarquia?

msp

Rocha disse...

O João Bernardo sabe que as centenas de bases militares dos Estados Unidos ao redor do mundo são consideradas território dos Estados Unidos ultramarino?

E além disso existem as bases da CIA, prisões secretas e embaixadas (muitas vezes sendo difícil de distinguir entre agentes da CIA e diplomatas).

Dessa forma os "sofisticadíssimos" sistemas repressivos dos EUA têm viajado pelo mundo.

Sofisticadíssimos como:
- Waterboarding.
- Sleep deprivation (em inglês tal como vem nos manuais da CIA).
- Violações.
- Assassinato de crianças.
- Assassinato de famílias inteiras.
- Casamentos bombardeados com drones.
- Bombas de fragmentação.
- Lasers.
- Bombas de urânio empobrecido.
- etc, etc, etc esta lista não tem fim.

Mas também tem servido os sofisticadíssimos sistemas tecnológicos dos EUA para educar destacadas figuras políticas do chamado Terceiro Mundo - através da chamada School Of Americas - tais como:
- Hugo Banzer
- Efraín Ríos Montt
- Roberto D'Aubuisson
- etc, etc, também seria uma lista interminável de ditadores, torcionários, chefes de secretas, polícias políticas e esquadrões da morte.

Quanto a brutalidade medieval estamos conversados.

Rocha disse...

"mas antes na integração política, orçamental e fiscal da zona euro, sem países de primeira e de segunda, e assim por diante"

E é por ficar no Euro que acha que os cidadãos vão ter acesso à definição dessas políticas a um nível europeu, ainda para mais tal como ressalva sem países de primeira e de segunda?

Não, Miguel você é que está enganado. O capitalismo não cumpre as suas promessas. Percebeu?

Não era suposto o capitalismo industrializar todo o mundo? Isso nunca aconteceu.

Não era suposto o Capitalismo trazer a república a todo o mundo? Isso nunca aconteceu.

Não era suposto haver paz e democracia, etc, etc, etc...?

O capitalismo NÃO cumpre as suas promessas.

Por isso é que hoje vivemos numa gestão muito caricata do capitalismo que introduziu o socialismo para os ricos enquanto se mantém o capitalismo selvagem para os pobres. E esta é a única forma de social-democracia que a grande burguesia europeia - tal como a sua congénere norte-americana - permite comprovadamente.

PEDRO LOPES disse...

Só pode defender o "internacionalismo" ou o "globalismo" quem vive completamente alienado e como a porcaria que os políticos e comentadores do sistema e que se regue por essa bitola argumentativa do politicamente correto.

Quais são os grandes feitos destas ideologias?
Guerra, desemprego, desenraização cultural,corrupção, deboche, droga, pedofilia, pornografia, protituição, tráfego humano e todo o tipo de maleitas sociais.

Esta ideologia, se ninguém a travar, levará a um mundo gerido controlado por meia dúzia de banqueiros, e com umas marionetas politicas para fingir que existe uma democracia.
A concentração de riqueza em poucas mão é cada vez maior, e vemos cada vez mais fusões de multinacionais sem rosto, que após se fundirem mandam milhares para o desemprego.
Gostam disto é?

INACREDITÁVEL!!!!

As pessoas que tem nojo á palavra nacionalismo, que usem outra, por exemplo "independência", politica e financeira.

PEDRO LOPES disse...

Só mais umas achegas:

Com um sistema nacionalista e com 100% de independência, os políticos e outros agentes também poderiam ser corruptos, mas sempre ficávamos a ganhar porque agora temos de trabalhar para sustentar, com os nossos impostos duas máfias: Uma Nacional e a outra internacional. Pois uma boa parte dos nossos impostos vai para entregar de mão beijada aos gangsters da banca internacional.

E um bom Nacionalismo deve ser agnóstico em relação á estupidez imbecilizante e divisionário do paradigma "Esquerda/Direita". Isso só serve para dividir e não para unir.
Não queremos cá Marxismos, nem capitalismos, nem liberalismos.
Defender os trabalhadores e empresários de igual modo, fomentando a criação de PME e diminuindo os impostos e pornográficos IRS e IRC.
Nacionalizar a Banca e os seus lucros servirem para diminuir a vergonhosa carga fiscal e estimular a economia.

Anónimo disse...

Coloquei no post anterior duas questões muito simples que não receberam resposta.

1) Deveria Cuba ter-se abstido de fazer a sua revolução porque esta podia apenas acontecer no plano nacional? 1b) Não terá tido este movimento aparentemente nacionalista projectado nada de bom no plano internacional?

2) Deveria Portugal entrar em 1986 para uma UE institucional e constitucionalmente criada para servir o capital? 2b) Se os capitalistas continuarem a guardar as suas barras de ouro em cofres-fortes na Suíça, estará a maravilhosa revolução internacionalista-proletária destinada ao fracasso?

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo das 16 e 28

Em meu entender, uma revolução em Portugal, neste momento, seria qualquer coisa como a substituição da economia política governante pela democratização das relações de produção e do exercício do poder político em geral, As vias não se deixam prever, mas seriam muito diferentes das da conquista do poder a partir da Sierra Maestra…
No caso de um ruptura radical neste país, tudo o que poderíamos fazer seria tentar alargá-la, generalizando-a para além das fronteiras, sem o que o esmagamento do processo seria inevitável.
Por fim, não me parece que o facto de Portugal ter entrado de péssima maneira no euro e o facto de a união monetária sem integração orçamental, fiscal e política ser aberrante signifiquem que a saída unilateral do euro não seria uma emenda pior do que o soneto inicial. Pior para a maioria dos portugueses e pior, na medida em que fosse um momento de desagregação da zona euro, para as condições de existência dos dominados em toda a Europa.

Justiniano disse...

Caríssimo Miguel Serras Pereira, há, nesta discussão, um tremendo e manifesto exagero!! Porquê colocar o antagonismo dos pontos entre o euro ou o orgulhosamente sós!!?? Parece-me querer, apenas, preencher de motejo o argumento contrário, antes, mesmo, de este se explicar substancialmente!! Podemos, também, nesse modelo, dizer que o caro JVA pretende reconstruir a teleologia patriótica, transpondo-a de Portugal para a Europa (UE), pois que só assim será(seria) possível justificar que a distribuição de riqueza se processe entre os membros da UE no mesmo modelo de justiça distributiva das comunidades nação.
Quanto à questão "unificação política da zona euro" (e aqui já se denota o restritivo excludente, (só) da zona euro), com todo o respeito, meu caro MSP, é uma questão que, simplesmente, não existe!!! É apenas um enredo para preencher vazios, uma nota musical que acompanha a correcção!!
Essa, a correcção, é a verdadeira questão!! E essa, verdadeira questão, tem mais que ver com cebolas e batatas doque com pátrias e trotapatrias!!

Lapa disse...

O mais irritante é que nos tempos que correm toda e qualquer dissonância dos cânones impostos pelo liberalismo parecem dar direito ao desprezo da parte dos que fazem opinião.
Em França alguém por quem não tenho nenhuma simpatia particular, trata-se de Maurice Allais único prémio nobel de economia do país, falecido em 2010, teve um dia a « audácia » de emitir a hipótese protecionista e duma saida do euro para que fosse considerado como persona non grata por aqueles que possedem os meios de informação e pensam saber aquilo que é mais interessante para as classes mais favorizadas pois no que diz respeito ás classes laboriosas há muito que isso não lhes preocupa.
Dito isto não partilho em absoluto o « orgulhosamente sós” nem tampouco a explicação americana como origem de todos os males!